Recentemente concedi uma entrevista ao jornal O Globo (que exponho colada nesta postagem), na qual confirmei que no ano de 2010 o serviço de inteligência do Estado, onde se inclui a PM, havia detectado uma tentativa de união da facções criminosas para auto-proteção contra o avanço do processo de pacificação promovido pelas UPPs, que lhes vinha minando as forças.
Deixei claro na entrevista que a tentativa não logrou êxito, e aqui explico minha tese desse fracasso:
Essas coletividades criminosas nutrem ódios irrreconciliáveis. Já se mataram e praticaram toda sorte de violência umas contra as outras: mutilações, tortura, todo tipo de horror que julgamos inconcebíveis no nosso tempo. As facções se utilizam da violência para fins diversos, desde a mera satisfação de pulsões de morte, não refreadas pela ausência da intuição punitiva (individualmente até intuída, mas coletivamente crida improvável), às celebrações para mudança de status de seus iniciados, como os batismos-testes de "coragem" imolando inimigos e outros alvos indicados pelas lideranças.
O mal que reciprocamente produziram, impediu a união e, também, o receio de um "Golpe de Estado", consciente ou inconscientemente, pela facção mais fraca. Abrigar seu inimigo do Poder Ilegal para protegê-lo contra o Poder Legal seria o mesmo que receber, conscientemente, um cavalo de tróia, e o ADA não iria abrir os portões de sua fortaleza tão ingenuamente para o CV.
Essas coletividades criminosas nutrem ódios irrreconciliáveis. Já se mataram e praticaram toda sorte de violência umas contra as outras: mutilações, tortura, todo tipo de horror que julgamos inconcebíveis no nosso tempo. As facções se utilizam da violência para fins diversos, desde a mera satisfação de pulsões de morte, não refreadas pela ausência da intuição punitiva (individualmente até intuída, mas coletivamente crida improvável), às celebrações para mudança de status de seus iniciados, como os batismos-testes de "coragem" imolando inimigos e outros alvos indicados pelas lideranças.
O mal que reciprocamente produziram, impediu a união e, também, o receio de um "Golpe de Estado", consciente ou inconscientemente, pela facção mais fraca. Abrigar seu inimigo do Poder Ilegal para protegê-lo contra o Poder Legal seria o mesmo que receber, conscientemente, um cavalo de tróia, e o ADA não iria abrir os portões de sua fortaleza tão ingenuamente para o CV.
Todavia, alguns leitores do meu último livro, Liberdade para o Alemão - O Resgate de Canudos, disseram-me que na obra eu digo o contrário, ou seja, que a inteligência da PM não havia detectado tal tentiva.
Esclareço, então, que na narrativa da página 13 (treze) onde falo da confirmação de que o CV é que estava por trás de todos os ataques, não afasto a hipótese de uma tentativa de união. Na verdade não abordo tal tentativa de aproximação das facções, como ficáramos sabendo, mas afasto a confirmação de que haviam se unido, como O GLOBO anunciava na edição de 24 de Novembro de 2010, e imputava a informação à Secretaria de Segurança. Vide abaixo:
Paradoxalmente, a matéria de O GLOBO de 21 de julho de 2012, declara que a Secretaria de Segurança sempre havia negado a aproximação das facções, o que coloca as publicações em oposição. Vide abaixo:
Ex-comandante da PM confirma que facções do Complexo do Alemão tentaram se unir
Coronel Mário Sérgio Duarte lançará livro no qual relata detalhes da chegada da pacificação à região

RIO - O serviço de inteligência das polícias tinha a informação de que, às vésperas da ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, em 2010, as facções do crime organizado pretendiam se unir, formando apenas uma força do poder paralelo para enfrentar a expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A informação, sempre negada oficialmente pela Secretaria de Segurança (grifo meu), foi revelada agora pelo coronel Mário Sérgio Duarte, que comandava a Polícia Militar quando os complexos foram retomados pelo estado e está lançando, na próxima segunda-feira, o livro “Liberdade para o Alemão — O resgate de Canudos”, no qual relata detalhes da chegada da pacificação à região.
Segundo Mário Sérgio, a união das facções do Rio foi identificada pela polícia, mas não deu certo. Traficantes que dominavam, naquela época, as favelas da Rocinha e do Vidigal chegaram a se reunir com os bandidos do Alemão:
— Nossa inteligência realmente identificou o movimento dos bandidos, mas o ensaio não foi à frente. E acredito que eles não conseguiriam. Mas estávamos prontos para enfrentá-los. Um dos motivos foi que uma das facções reconheceu que se unir ao pessoal do Alemão seria um erro — conta o ex-comandante.
Reuniões e cartas entre bandidos rivais
O ex-traficante Jucelino Vitorino da Silva, agora assistente de direção de programas de televisão produzidos pela ONG AfroReggae, confirmou que pelo menos quatro reuniões entre integrantes de facções rivais aconteceram, além da troca de correspondência entre os chefes das quadrilhas:
— Eu mesmo defendi essa ideia em reuniões no Alemão. Queria uma organização única, nos moldes da facção de São Paulo. Graças a Deus isso não foi à frente devido, em parte, à tomada dos complexos pelas forças de segurança. Você já imaginou todo o crime atuando junto? Felizmente para a sociedade carioca, a união não aconteceu — disse Jucelino Vitorino.
Como O GLOBO noticiou na sexta-feira, Jucelino e seus amigos — Diego Raimundo, o Mister M., Carlos Alberto Gomes de Oliveira Filho, o Perninha, Marcos Coutinho dos Santos, o Marcos Sabão, e Márcio Nascimento Clapp, o Marcinho Clapp, — atuavam como traficantes até a ocupação dos complexos. Eles contam que, apesar de fortemente armados, não partiram para o enfrentamento atendendo aos apelos de parentes. Mister M., por exemplo, se apresentou à polícia um dia antes da tomada do Alemão, levado pela mãe. Atualmente, trabalha com os outros quatro no AfroReggae.
Mário Sérgio confirmou que os ataques dos criminosos em toda cidade, em novembro de 2010, anteciparam a decisão de ocupar definitivamente os complexos, mas ele ressaltou um detalhe pouco conhecido, um fato considerado determinante naquela época pela cúpula da Segurança Pública do Rio: o ataque dos bandidos a um veículo da FAB, na Linha Vermelha. Nenhum militar ficou ferido, mas os estragos na lataria ajudaram a empurrar as Forças Armadas para a guerra contra o crime no Rio.
— Pelo nosso planejamento, a tomada dos complexos da Penha e do Alemão não iria acontecer em 2010, mas dois anos depois. Ou seja, agora em 2012. Com os ataques dos bandidos, mudamos tudo. O tráfico atirou no pé ao promover os ataques. A decisão dos bandidos serviu para unir as forças policiais, e o ataque ao carro da FAB trouxe as Forças Armadas para o problema — afirmou o coronel.
O lançamento do livro de Mário Sérgio será às 20h, na Academia Brasileira de Filosofia, no Centro. O oficial deixou o comando da PM em setembro de 2011, depois do brutal assassinato da juíza Patrícia Acioli na Região Oceânica de Niterói. Ele havia indicado o coronel para comandar o 7 BPM (São Gonçalo), onde eram lotados os assassinos da magistrada. Mário Sérgio atualmente é secretário municipal de Políticas Públicas de Segurança de Três Rios e há mês pediu para passar para a reserva remunerada da PM.
Conclusão:
Comparando, então, as duas matérias, o que podemos concluir é que a dissonância não está no que publiquei, pois é o jornal que dá duas informações conflitantes: a primeira em que diz que é a própria Secretaria de Segurança que declara a união das facções e a segunda quando declara que a Secretaria de Segurança sempre negou a união das facções.
De nossa parte, na PM, nunca falamos que elas se uniram, até porque não se uniram, ou seja: a informação que narro no livro está correta; não estavam unidas quando houve os ataques em novembro de 2010.
Segundo Mário Sérgio, a união das facções do Rio foi identificada pela polícia, mas não deu certo. Traficantes que dominavam, naquela época, as favelas da Rocinha e do Vidigal chegaram a se reunir com os bandidos do Alemão:
— Nossa inteligência realmente identificou o movimento dos bandidos, mas o ensaio não foi à frente. E acredito que eles não conseguiriam. Mas estávamos prontos para enfrentá-los. Um dos motivos foi que uma das facções reconheceu que se unir ao pessoal do Alemão seria um erro — conta o ex-comandante.
Reuniões e cartas entre bandidos rivais
O ex-traficante Jucelino Vitorino da Silva, agora assistente de direção de programas de televisão produzidos pela ONG AfroReggae, confirmou que pelo menos quatro reuniões entre integrantes de facções rivais aconteceram, além da troca de correspondência entre os chefes das quadrilhas:
— Eu mesmo defendi essa ideia em reuniões no Alemão. Queria uma organização única, nos moldes da facção de São Paulo. Graças a Deus isso não foi à frente devido, em parte, à tomada dos complexos pelas forças de segurança. Você já imaginou todo o crime atuando junto? Felizmente para a sociedade carioca, a união não aconteceu — disse Jucelino Vitorino.
Como O GLOBO noticiou na sexta-feira, Jucelino e seus amigos — Diego Raimundo, o Mister M., Carlos Alberto Gomes de Oliveira Filho, o Perninha, Marcos Coutinho dos Santos, o Marcos Sabão, e Márcio Nascimento Clapp, o Marcinho Clapp, — atuavam como traficantes até a ocupação dos complexos. Eles contam que, apesar de fortemente armados, não partiram para o enfrentamento atendendo aos apelos de parentes. Mister M., por exemplo, se apresentou à polícia um dia antes da tomada do Alemão, levado pela mãe. Atualmente, trabalha com os outros quatro no AfroReggae.
Mário Sérgio confirmou que os ataques dos criminosos em toda cidade, em novembro de 2010, anteciparam a decisão de ocupar definitivamente os complexos, mas ele ressaltou um detalhe pouco conhecido, um fato considerado determinante naquela época pela cúpula da Segurança Pública do Rio: o ataque dos bandidos a um veículo da FAB, na Linha Vermelha. Nenhum militar ficou ferido, mas os estragos na lataria ajudaram a empurrar as Forças Armadas para a guerra contra o crime no Rio.
— Pelo nosso planejamento, a tomada dos complexos da Penha e do Alemão não iria acontecer em 2010, mas dois anos depois. Ou seja, agora em 2012. Com os ataques dos bandidos, mudamos tudo. O tráfico atirou no pé ao promover os ataques. A decisão dos bandidos serviu para unir as forças policiais, e o ataque ao carro da FAB trouxe as Forças Armadas para o problema — afirmou o coronel.
O lançamento do livro de Mário Sérgio será às 20h, na Academia Brasileira de Filosofia, no Centro. O oficial deixou o comando da PM em setembro de 2011, depois do brutal assassinato da juíza Patrícia Acioli na Região Oceânica de Niterói. Ele havia indicado o coronel para comandar o 7 BPM (São Gonçalo), onde eram lotados os assassinos da magistrada. Mário Sérgio atualmente é secretário municipal de Políticas Públicas de Segurança de Três Rios e há mês pediu para passar para a reserva remunerada da PM.
Conclusão:
Comparando, então, as duas matérias, o que podemos concluir é que a dissonância não está no que publiquei, pois é o jornal que dá duas informações conflitantes: a primeira em que diz que é a própria Secretaria de Segurança que declara a união das facções e a segunda quando declara que a Secretaria de Segurança sempre negou a união das facções.
De nossa parte, na PM, nunca falamos que elas se uniram, até porque não se uniram, ou seja: a informação que narro no livro está correta; não estavam unidas quando houve os ataques em novembro de 2010.