Transmiti, no dia 15 último, o Comando do BOPE ao Tenente Coronel Caveira nº 41, Alberto Pinheiro Neto, meu companheiro de COESP (Curso de Operações Especiais) no Turno de 1989.
Convidado pelo Subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, Delegado de Polícia Federal, doutor Antônio Roberto Cesário de Sá, Caveira nº 36, do mesmo Turno, (e Tenente Coronel da Reserva da PMERJ), para o cargo de Superintendente de Planejamento Operacional do Órgão, deixei o Comando da Unidade com a certeza do dever cumprido, não obstante o coração sangrando.
Por sugestão de muitos amigos, conhecedores deste blog, e que estiveram presentes à transmissão do cargo, publico, abaixo, minha Ordem do Dia:
Meus comandados
Revolvi ao longo das duas últimas semanas algumas pilhas de textos, artigos, letras de músicas, antigas Ordens do Dia expedidas por memoráveis Comandantes da nossa Corporação, buscando inspiração para este momento tão significativo de minha vida, quando me despeço, por definitivo, da tropa especial que comandei ao longo de um ano.
Não que me faltasse o que dizer. O BOPE, mais temido e aguerrido Gládio de Combate do país, conhecido até no exterior por sua inigualável capacidade de manobra sob fogo cerrado em ambientes urbanos de geografia desfavorável, é um manancial de conteúdos: para literatura, teses acadêmicas, matérias jornalísticas e surpreendentes abordagens místicas, como encontramos nas páginas da internet.
Assim sendo, não me faltariam exemplos para discorrer sobre seus, ou nossos, feitos, realizações no campo de lutas, dores e alegrias.
Todavia, despedir-se do BOPE é amputar-se. É arrancar-se de um corpo no qual se articula, vive-se, e se reconhece como ele mesmo; é saber-se mutilado para sempre; ferida incurável que sangra sem esvair, por sinalizadora do bem que vivemos em guerrilhas legítimas, e outros labores de nossa missão constitucional.
Despedir-se do BOPE é afastar-se dos melhores, mais companheiros e mais corajosos subordinados que encontramos ao longo de toda nossa vida; do seguro fogo de proteção do fuzil amigo na escadaria da morte, no beco do sufoco, no “cem metrinho” de difícil transposição, sem coberta e sem abrigo.
Despedir-se do BOPE é perder o convívio dos mais destemidos gladiadores da modernidade, desses soldados que enfrentam diuturnamente a morte, lutando pelo que juraram proteger: a liberdade, a pátria e a vida do inocente.
Despedir-se do BOPE é não mais ouvir a oração das Forças Especiais, antes e depois dos combates.
Não mais escutar o brado exaltador dos valores norteadores da conduta ética e moral dos Caveiras, impressa em suas almas com palavras sínteses, ditas em uníssono antes de partirem para qualquer missão: Força e honra. Vitória sobre a morte!
Não há, excelentíssimos senhoras e senhores convidados, soldados melhores do que estes perfilados a nossa frente; em nenhum lugar, em nenhum tempo.
Despeço-me dos meus companheiros de jornada nesta curta caminhada de um ano e digo-lhes que a honra e o privilégio por tê-los comandado, foram meus.
Não houve missão que eu não tivesse ficado apreensivo, pensando em suas vidas, em suas famílias.
Festejei cada regresso. Agradeci a Deus cada retorno e chorei nossos mortos, vitimados não nos confrontos do Batalhão, sempre marcados por nosso sucesso, mas em decorrência da profissão policial que expõe cada integrante da Corporação a risco constante e inexorável.
Estou indo agora para uma trincheira-abrigo, mas jamais me esquecerei do quartel-irmão.
Afasto-me do BOPE, neste momento.
Transmitindo o seu comando ao Caveira n 41, Tenente Coronel Alberto Pinheiro Neto, faço-o sabendo que estarei entregando ao mais credenciado de todos os Oficiais de Operações Especiais da PMERJ, os destinos da melhor tropa, da mais experimentada, e com maior número de enfrentamentos em Ações de Comandos em todo mundo, ao tempo que lhe desejo um bom combate.
Agradeço ao quem me confiou tão honrosa missão, o Sr Coronel PM Hudson de Aguiar Miranda, ex-Comandante Geral da PMERJ.
Agradeço e exalto a figura do meu antecessor, Tenente Coronel Fernando Príncipe Martins, combatente de primeira grandeza, realizador de grandes conquistas e amigo leal, em quem busquei inspiração para conduzir os destinos da Unidade, com segurança.
Agradeço a toda a minha equipe, em todos os níveis, pela colaboração espontânea e sem limites, evidenciada nas horas de sacrifício.
Agradeço aos meus ex-comandantes no BOPE, Coronel Paulo César, Coronel Rangel, Coronel Humberto e Coronel Meinicke, de quem pude extrair diferentes ensinamentos para o exercício do Comando e Liderança.
Agradeço e me penitencio com Sr Coronel Camilo, ex-Comandante Intermediário das Unidades Operacionais Especiais, pela paciência que teve comigo, já que, treinados para ousar, não raro somos intempestivos e impacientes, e estou certo de que o fui.
Agradeço à minha família, inicialmente a minha mãe, pela preocupação constante e suas orações.
Agradeço aos meus filhos pela vibração que nunca esconderam, por enxergarem-se parte da família bopeana e, mesmo reprimindo-os quando os surpreendia cantando, às escondidas, os “proibidões” de exaltação aos Caveiras, tive o cuidado de apresentar-lhes insumos mais condizentes com a envergadura e dimensão dos homens de preto.
Agradeço a minha linda e amada mulher Viviane pelo refrigério de sua presença, do seu verbo carinhoso, seu incentivo quando a responsabilidade indelegável da função apresentava-se em toneladas emocionais, empurrando-me ao desânimo, e, ela, com vigor e sensatez, lembrava-me da responsabilidade a exigir coerência, desprendimento e altivez.
Por fim, agradeço ao Pai, Todo-Poderoso, por haver permitido que fosse assim.
Força e Honra, combatentes do BOPE.
Vitória sobre a Morte!