sexta-feira, 18 de maio de 2007

Tertium Non Datur (Não há Terceira Hipótese)

As ações dos órgãos da Segurança Pública do Estado no Complexo do Alemão, estão, definitivamente, integradas à história futura da cidade do Rio de Janeiro como marco sinalizador de uma política vigorosa de combate ao crime.

Decisivas para retomada do controle de áreas tomadas pelo narcotráfico, as operações levadas a efeito pelo BOPE, pela CORE e pelo 16º BPM, não apenas objetivam realizar apreensões de armas e drogas, além de prisões dos criminosos em flagrante delito ou com prisão decretada, mas libertar, de uma vez por todas, do jugo perverso e cruel dos bandidos, aqueles espaços geográficos reintegrando-os ao território nacional, já que hoje mais se assemelham a uma pátria invadida e dominada.

O paradoxo aparente em se dizer que algo “já existe” no futuro, deve ser compreendido na dimensão de sua importância evidenciada nos registros proliferados de mídia, que vão, de sua parte, eternizando os fatos e seus agregados relacionais. A imprensa, como sabemos, desde que os combates tiveram início, se mantém de plantão no local, em busca de notícias sobre os movimentos dos contendores e tudo mais que lhes possa ser relacionado. Dessa forma, mantendo no presente, pela notícia, cada acontecimento que se liga ao evento, cria uma expectativa de tempo transcendente, adiantando-o, e permitindo-nos uma antevisão: “o que fazemos agora, ecoará no futuro”.

É bom, todavia, esclarecer, que o Complexo do Alemão não é uma região apartada do mundo em que vivemos, que transitamos e socializamos nossos atos e intenções. Não é um espaço infernal em si, mas seus moradores, de imensa maioria produtiva e legítima nos propósitos, nas angustias e ânsias de justiça, já de muito foram atirados e mantidos cativos numa espécie de afasia atáxica, pela bandidagem que forma o lumpem parasita local.

Esse estado de dominação espiritual fomentado pela cultura do crime – e ouso dizer, do mal – afoga a população num caldo de ingredientes permissivos que lhes embota a vontade e a visão, fazendo-os naturalizar o animalesco-bestial, a ponto de não lhes divisar a estrutura odiosa que atenta contra suas liberdades. A cultura do banditismo que lá grassa, está se espalhando pelo Brasil, com risco de se tornar um mal endêmico, pois avança solertemente entre a população mais jovem, de qualquer classe, ora assentada sobre uma filosofia hedonista que conjuga sexualidade, pulsão de morte e ausência de educação formal, ora incentivada pela ausência dos freios da punibilidade que deveria haver em qualquer sociedade onde lei e ordem são realidades e não ficção. Junte-se a isso as ações quase desapercebidas de ONGs que sonham utilizar a mão criminosa e as armas do tráfico, em favor de uma revolução social que julgam se avizinhar, e um mosaico de dores e sofrimentos para a nação brasileira é montado agora, para nossa maior infelicidade amanhã.

Assim, urge que nos apressemos e as polícias estão fazendo sua parte. É claro que sendo o terreno limpo, asseado pela erradicação do tráfico no esmagamento do seu braço armado, é preciso em seguida ocupá-lo, definitivamente. Estamos retirando a erva daninha para que as boas sementes possam aflorar e florescer, mas é preciso manter a profilaxia do campo o tempo todo. É preciso que a polícia não se vá nunca mais; que permaneça no Complexo para sempre, não permitindo o retorno dos bandidos como expressão de poder. É preciso que essa ocupação represente a força, a capacidade do Estado em prover segurança, sem ser ameaçado ou acuado. É preciso que essa ocupação seja intimidação para qualquer bandido, e alívio para a imensa e esmagadora maioria de pessoas de bem, moradores desses locais.
É preciso que não nos aconselhemos com receios e assumamos os riscos e danos colaterais; mais explícitas do que as palavras do governador Sérgio Cabral sobre os narcotraficantes, impossível: - São terroristas, gente do mal.

É uma oportunidade que não pode ser atirada ao ralo. Ou ocupamos de vez ou deixemos os moradores entregues aos traficantes, mas vivos: Tertium non datur

É o nosso dever de casa.
Façamo-lo, pois.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

A Patrulha Segue em Frente

Pertinente e justo o protesto do Tenente Coronel Pinheiro Neto, Comandante de BOPE, contra a fotografia publicada no jornal O Globo, do dia 04 do corrente, exibindo o holocausto do Soldado Wilson, do Batalhão de Operações Policiais Especiais, mortalmente ferido, quando avançava em meio a uma troca de tiros entre o BOPE e narcotraficantes da Vila Cruzeiro, tentando romper a linha de fogo inimiga.

Como líder atento aos reclames de sua Unidade, o Oficial Superior conversou, no último sábado, dia cinco de Maio, com um grupo do periódico que se encontrava cobrindo mais uma etapa da operação que a Unidade Especial está realizando naquele local.

Pinheiro Neto buscou mostrar-lhes o desserviço à população do Rio de Janeiro, que é exibir uma fotografia com tamanha carga emocional descontrutiva e, que, sob nenhum argumento, há de promover informação e conhecimento. Mostrar um bravo policial agonizante só pode interessar ao tráfico e seus áulicos. Pinheiro Neto protestou e O Globo exibiu-o, na edição de hoje, 07 de Maio, por constrangedor aos jornalistas ao declarar-se indignado.

É a inversão da verdade. No caso em questão, constrangedor foi o GLOBO.

Aliás, abaixo transcrevo, na íntegra, artigo de minha autoria encaminhado ao Jornal do Brasil e publicado na página A9, do Caderno Cidade.


Morte não foi em vão

Logo cedo, lendo os jornais que adquiri na primeira esquina onde havia uma banca, quebrando uma rotina confortável de conhecer as notícias por um release, me deparei com uma fotografia do Soldado Wilson, meu ex-comandado do BOPE, mortalmente ferido e sendo retirado da linha de fogo que tentara romper, na Vila Cruzeiro. Arriscando-se a ser igualmente alvejado, arrastava-o, num gesto heróico, o seu companheiro de equipe, o Soldado Ros.

O retrato impactante da morte, aliás muito comum em jornais sensacionalistas, contrastando, incompreensivelmente, com a linha editorial do Globo, causou-me profunda impressão. Wilson era um desses vocacionados para a ponta da patrulha, ou seja, para ser o primeiro homem do grupo a ter contato com a presença do opositor. Mais do que fazer bem sua função, gostava disso. Conjugando coragem e sentimento do dever, não se detinha pela possibilidade iminente do combate, agindo da mesma forma sob fogo cerrado. Cumpria, com risco da própria vida e com lealdade, seu juramento de policial e militar.

Qualquer que exerça a profissão policial no Rio de Janeiro, nos nossos dias, sabe que a morte ronda e perscruta.

Vivemos um conflito bélico e o BOPE é um excepcional gládio de guerra. Alguns “especialistas em segurança pública”, mormente aqueles que da agrestia do delito só conhecem as descrições contaminadas de indivíduos com interesses no crime, dirão que “esta afirmativa é uma clara demonstração da mentalidade reacionária e conservadora, que evidencia a face violenta da polícia”. É fácil dizê-lo: eles não conheceram, e nem conhecerão, a verdade pelos olhos do soldado Wilson, ou do soldado Ros, que o retirou da linha de fogo.

Vivemos uma guerra desigual, em que só uma das partes – as polícias - têm obrigações de ordem legal, moral e ética para cumprir. Uma guerra com armas e condutas características das encontradas nos conflitos entre nações, estados, nas guerras civis - insurrecionais ou revolucionárias - mas motivada pela insanidade de algumas bestas humanas, com a complacência de considerável parcela da elite intelectual. Uma guerra em que o “exército do pó” utiliza crianças como escudos para fugir a ação da polícia, quando não busca ferir, intencionalmente, os moradores, mobilizando, logo em seguida, aqueles mesmos, para manifestações contra “a violência policial”.

Vivemos uma guerra com os modernos observadores da benemerência onguista, mediando em favor de um lado só, o do crime, e atacando, com todas as suas armas de pressão política e manipulação da informação, o lado representado pelo Estado; seja quando busca resguardar a vida dos seus integrantes, dando-lhes viaturas com blindagem protetora, ou quando exercem, legitimamente, seus misteres, buscando desarmar criminosos em seus territórios de atuação.

A morte do soldado Wilson não vai abater os homens do BOPE, não obstante a saudade que sua ausência deixará. Seu sacrifício pela sociedade vai se multiplicar em luta, como bem disse o Secretário de Segurança, doutor Beltrame.

O aguerrido Soldado Ros assumiu a ponta. O Tenente Coronel Pinheiro Neto, seu Comandante, já sinalizou a direção.

A patrulha segue em frente.

Mário Sérgio de Brito Duarte é Tenente Coronel PM e ex-comandante do BOPE