Eu oscilei nesses últimos dias sobre escrever ou não algo aqui, sobre o dia dos país dos nossos irmãos Policiais Militares. O momento é dramático. É possível que um dos meus leitores tenha comparecido a um cemitério esta semana. Talvez mais de uma vez.
Eu não busco uma rima para dar estética a esta postagem. Essa é uma possibilidade REAL. O que escreverei agora em letras “garrafais” é uma hipótese estupidamente real, avassaladoramente real, desesperadoramente real:
É POSSÍVEL QUE ALGUÉM LENDO ESTA POSTAGEM TENHA IDO SEPULTAR UM DOS NOSSOS MAIS DE UMA VEZ ESTA SEMANA, E PODERÁ IR OUTRA VEZ AMANHÃ!
Isto é desesperador!
Amanhã, no Dia dos Pais, centenas e centenas de crianças, adolescentes e adultos jovens, não terão seus pais PMs ao seu lado porque eles saíram para trabalhar e não voltaram, e sua lembrança agora é só um caixão fechado e um toque de corneta que corta como uma navalha!
Seus amados paizinhos e mãezinhas morreram no sagrado cumprimento do dever de servir e proteger, sem que a sociedade, os governos, os poderes da República (sempre céleres em catalogar nossos erros e expô-los à execração, ao patíbulo do apedrejamento moral) façam um gesto verdadeiro e de coragem para se expor à opinião anti-polícia, que "certa" ideologia anda semeando no Brasil nos últimos anos. Ao capitular à sua extravagância, ao seu engodo, ao invés de proporcionar saúde e moradia para aqueles que oferecem a própria carne para defendê-la, a República optou por lhes indicar o caminho do manicômio; e muitas covas num cemitério.
Claro, podemos encontrar causas mais simplificadas para nossas dores. É verdade que as UPPs se exauriram. Foram se apagando, perdendo o tônus e a essencialidade, que era resgatar TERRITÓRIOS BRASILEIROS das garras de ESTRUTURAS DE PODER armada (e com armas de guerra, aos milhares), e depois assegurar a desconstrução dos ódios inflamados justamente por aquela mesma IDEOLOGIA que transforma o algoz cruel e covarde em “vítima de sua vítima”. E como se exauriram, (eu defendo há pelo menos dois anos que devam acabar; já escrevi, disse para diferentes mídias e estou reiterando aqui), este momento de dor também emula a considerações tanto sobre a sua justeza estratégica, quanto a dignidade de seus estrategistas.
Nosso sangue diário precisa estancar, hoje, agora! Isso passa inexoravelmente por rever a estratégia UPP. Suas exigências de reposição de pessoal, de equipamentos blindados – desde viaturas aos prédios-quartéis nas favelas, sua vigilância por câmeras em abundancia e plenitude – não será possível por longo período. Há uma crise que impedirá! A União não nos socorrerá nesse nível, até porque na maior parte é preciso começar do zero! Mas, reitero! Os motivos são estes! Fora disso é atirar pedras na mulher adúltera, esquecendo-nos dos nossos próprios pecados!
Mas essa é só a face mais visível. Nosso maior inimigo (não tenham medo dos cientistas sociais nos acusarem de sermos, sei lá, “de direita”, ou “operadores”, para nos xingar sutilmente de não reflexivos) é aquilo que inviabilizou nossa presença amiga e protetora nas favelas; que estimula o morador de bem a nos interpretar como invasores, como “ferramenta de dominação da superestrutura ideológica”.
Eu encerro pensando na conversa que estava tendo com minha mulher, a Tenente Coronel Viviane, Diretora de Inativos. Ela é a responsável por mobilizar os asfixiados serviços de sua diretoria para uma demanda crescente de viúvas. Quando eu era Comandante Geral, avancei madrugadas dividindo com ela minhas angústias e até meu choro (sou um velho coronel e já posso dizer isso): agora, é ela quem me demanda o apoio moral.
Amanhã não! Hoje! (já são quase duas horas), é dia dos pais.
Vou pedir a Deus, vou implorar a Deus para que pelo menos hoje os pais PMs possam voltar para casa levando seus uniformes honrados apenas encharcados de suor.
Que Jesus de Nazareth os guarde, meus queridos irmãos de arma e de lutas!
(REPUBLICADO DO MEU FACEBOOK)