quinta-feira, 24 de abril de 2008

Manual EPC para Especialistas em Segurança Pública

Infelizmente não participei da organização do magnífico Manual EPC (Embusteration Picaretation Corporation) para Especialistas em Segurança Pública.
Ele é de autoria de Décio Leão, Capitão da Polícia Militar de São Paulo, meu amigo e grande conhecedor do seu ofício.
No seu manual, Décio exibe os “fundamentos” e as condições sine qua non dos sujeitos que detêm o saber epistêmico desse campo.

Confira:

Nunca ter sido da polícia
Não ter nenhum vínculo com uma dessas instituições ou não mesmo conhecê-las. Isso não impede que ele fale delas com propriedade, dizendo como elas deveriam fazer seu trabalho.

Possuir formação genérica
Seja engenheiro, administrador, economista, sociólogo, psicólogo ou bacharel em direito, o Especialista em Segurança Pública já “estudou” profundamente o assunto e participou de alguns seminários.

Aparecer bastante na mídia
O Especialista em Segurança Pública não pode deixar de aparecer na mídia, quer seja imprensa escrita, falada, televisionada ou internetada. Não se mede a qualidade desse profissional pela sua experiência profissional ou sua formação específica. É a quantidade de vezes que ele aparecer na imprensa que irá dar a sua qualificação de conhecimento e experiência.

Falar o óbvio
O Especialista em Segurança precisa ter soluções mágicas para solucionar problemas de Segurança Pública (bem semelhantes aos discursos eleitoreiros para o assunto). Por exemplo: o especialista deve afirmar que as autoridades policiais precisam “intensificar o policiamento preventivo” ou “investir em inteligência policial”. Quanto mais óbvia for a solução, melhor será o efeito tipo: “como-ninguém-pensou-nisso-antes-!!” E, obviamente, o Especialista não precisa dar detalhes sobre como serão conseguidos os recursos humanos, materiais e financeiros, qual o impacto sobre o orçamento e outros problemas que “são meros detalhes técnicos”.

Fazer a polícia parecer incompetente
Ao comentar os problemas de Segurança, as crises e as dificuldades em ocorrências policiais, o Especialista em Segurança Pública mostra como a polícia errou, o que ela deixou de fazer e o que ela poderia ter feito. Sutilmente, dá indicações de a polícia não sabe fazer bem o seu serviço.

Não ter responsabilidades
O Especialista em Segurança Pública não precisa se preocupar com o que fala, pois não tem que tomar decisões, não tem responsabilidades e não é cobrado pelos seus resultados. Se seu projeto der certo estará comprovada sua genialidade; se der errado sempre há alguém para culpar, principalmente a Polícia Militar e a Polícia Civil, que não se empenharam corretamente em suas obrigações para fazer dar certo o magnânimo projeto do Especialista. Essa é uma das maiores vantagens de ser um Especialista em Segurança Pública. Por mais absurda que seja a idéia, ele não é responsável pelo “como” ou “quão custoso” será sua aplicação, muito menos as conseqüências do fracasso.

Eis algumas frases que podem ser usadas pelos Especialistas em Segurança Pública iniciantes. Mesmo já tendo sido usadas anteriormente, essas frases-padrão representam o discurso que se espera de um bom Especialista:

“A conjuntura macroeconômica da globalização desenfreada tem impactado sobre a sociedade marginalizada, forçando uma busca por recursos alternativos nem sempre éticos com a legalidade”.

“A polícia precisa urgentemente investir em policiamento preventivo e em inteligência policial”.

“Os capitães comandantes de companhia e os delegados titulares de distritos policiais devem se reunir periodicamente e detectar onde e quando estão ocorrendo os delitos. Com essa informação, o policiamento deve ser direcionado para os locais de maior incidência criminal”.

“A crise de segurança ocorre porque a polícia não está fazendo o seu papel. Os policiais civis não fazem o preventivo e os policiais civis não investigam.”
Gostou?
Candidate-se.
Crie uma ONG e vá em frente.
Mas siga o manual!

17 comentários:

Anônimo disse...

Bem... não sou , nunca fui e nunca desejei ser da polícia;
tenho formação genérica;
falo o óbvio sempre;
apesar de nunca ter aparecido na mídia e nunca ter feito a polícia parecer incompetente eu sou absolutamente irresponsável......
Possuo a maior parte dos quesitos... Me dá o manual? ...Quero ser especialista em segurança pública ...

Anônimo disse...

É para fazer frente a tais "especialistas" que cada policial deve municiar-se de argumentos para desempenhar sua atividade. Os levianos sempre aparecerão, mas sem a contraproposta fundamentada por parte do policial - verdadeiro especialista em segurança pública - prevalecerá a máxima: "Em terra de cego, quem tem um olho é rei".

Anônimo disse...

Como posso adquirir esse precioso manual?
Quero distribuí-lo para alguns desavisados.

Anônimo disse...

FÍSICA E METAFÍSICA

Polícia para quê precisa?

por Sergio Coutinho de Biasi


--------------------------------------------------------------------------------

Hoje por acaso eu estava passando lá pelo prédio Kennedy da PUC-Rio para pagar meu estacionamento quando vi que havia um debate público promovido pelos alunos do CCS e parei um pouco para ouvir. Convidado para o debate, estava o Hélio Luz, ex-secretário de segurança pública. O debate, naturalmente, era sobre segurança pública e a um dado momento ele comentou a situação de furtos de automóveis. Vou reproduzir aqui, mais ou menos, as palavras dele, pois me parece que serão de interesse de todos.

Ele disse que em um dado momento, se não me engano por volta de 1996, a situação de furtos de automóveis estava insuportável no Rio de Janeiro. Mas eles conseguiram colocá-la sobre controle. O que fizeram? Extingúiram a delegacia especial de furtos e roubos de automóveis. Isso mesmo. Imediatamente caíram os furtos de automóveis.

Segundo ele, é um jogo de cartas marcadas; a maior causa do aumento de criminalidade, para ele, é a própria polícia inchada e fora de controle. O ladrão de carros, ao invés de ser preso, entra em "acordo" com a polícia, e aí, ao invés de roubar um carro e fazer seu dia, tem que roubar mais três para pagar a polícia e o advogado.

Nas palavras dele, prender ladrão de automóveis é, entre os problemas de segurança pública, um dos mais banais e simples do mundo. A polícia conhece as estatísticas de onde os ladrões atacam, que ruas e locais. Coloca-se uma dupla de detetives para vigiar discretamente. Quando o roubo ocorre, o ladrão é preso na hora e pronto. É um procedimento que não requer qualquer investigação ou treinamento sofisticados. É ir lá e prender : nas palavras dele "É linear, que nem Vovó Viu a Uva, temos Polícia Prende Ladrão. Ponto." Agora, isso é do ponto de vista técnico, policial. Do ponto de vista político e dado o funcionamento real da polícia do Rio de Janeiro, é bem mais complicado.

Para começar, existem delegados que operam firmas de "recuperação" de carros, ou seja, seu carro é roubado, você paga a eles e seu carro "reaparece".

Adicionalmente, quando chega lá o tecnocrata bem intencionado e olha as estatísticas de furtos de carros e diz : "ok, manda uma patrulha para a área", o que é que ocorre grande parte das vezes? O número de furtos AUMENTA ao invés de diminiur. Ele disse que isso é super comum. Por que? Ora, porque aqueles policiais já tem um acordo com os ladrões; na área deles, pode roubar e eles recebem a comissão. Então, na verdade, ao alocar aquela patrulha para lá, você LEVOU os ladrões para lá.

Finalmente, numa visão mais do alto, temos entre outros as seguradoras de automóveis, que fazem enormes contribuições a campanhas políticas de deputados e vereadores, por exemplo. Quando o roubo de carros cai abaixo de um certo nível, fica simplesmente inviável vender seguros. Por que é que alguém vai comprar, se o risco do carro ser roubado é mínimo? Nas cidades pequenas, por exemplo, é muito comum ninguém ter seguros contra roubo de automóvel. E mesmo quem comprar não vai tolerar pagar caro pelo seguro. Resultado: sempre que os roubos de automóveis começam a cair muito, as seguradoras começam a botar uma pressão enorme para mudar a política de segurança pública. Não sou eu quem está dizendo; é alguém que já foi secretário de segurança do Rio de Janeiro.

Segundo ele, o governo do Garotinho fez a pior coisa possível que ele podia ter feito com a polícia do Rio de Janeiro durante os anos em que governou : contratou nada menos que ONZE MIL novos políciais para a PM. Fora o gasto público a que isso corresponde, são onze mil pessoas incorporadas sem o mínimo de treinamento, de preparação, de infraestrutura e principalmente de mecanismos de controle e comando. Resultado : um monte de manés que certamente não estão ali por causa do salário (que é ruim), com o direito de saírem por aí armados e com autoridade para falar em nome "da lei". Para o Hélio Luz, um efetivo infinitamente menor mas com um comando firme e tolerância zero para a corrupção poderia fazer muito mais pela população. E um mau policial é muito, muito pior do que policial nenhum.

Só posso dizer que assino embaixo. E as pessoas ainda votam na Rosinha, depois de ver os traficantes dando risada...

Anônimo disse...

Rio

Policiais militares e civis discordam que a intervenção das Forças Armadas no combate ao crime no Rio de Janeiro seja a medida ideal para garantir a segurança no estado. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro, Fernando Bandeira, reconhece que as Forças Armadas podem auxiliar no combate ao crime urbano, mas afirma que a finalidade maior é defender a soberania nacional.
“A participação de homens e mulheres do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, ou seja, das corporações militares no trabalho ostensivo nas ruas do Rio de Janeiro, como aconteceu na época da Eco 92, sem dúvida vai dar a sensação de segurança à população. Mas o Rio de Janeiro não precisa de sensação e sim de segurança. E segurança pública se faz com profissionais preparados, habilitados, bem remunerados e é claro, em quantidade suficiente para combater o crime”, argumenta o policial.
De acordo com Fernando Bandeira, uma lei do ano de 1983 previa que o efetivo ideal para a Polícia Civil do Rio de Janeiro seria de 23.500 agentes. Este número, segundo o sindicalista, nunca chegou a ser preenchido, o máximo atingido foi de 14 mil policiais, e o último concurso da Polícia Civil aconteceu em outubro de 2001. Bandeira disse ainda que dos 10.500 policiais civis em atividade no Rio de Janeiro, pelo menos 20% estão prestes a se aposentar.
Para o presidente da Associação dos Policiais Militares e Bombeiros do Rio de Janeiro, Miguel Cordeiro, o governo deve dar prioridade ao investimento em armamentos, viaturas e treinamento da tropa. “Enquanto não houver investimento na Polícia Militar, na Polícia Civil, em segurança pública - o que é caro; enquanto não houver um levantamento eficiente que aponte quais são os problemas de cada corporação, o que as polícias militar e civil realmente necessitam, nada será resolvido. A questão não é só o salário”, afirmou.
De acordo com o governo do estado, atualmente há 39 mil policiais civis e militares no Rio de Janeiro. Mas, segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU), o ideal é que as grandes cidades tenha um policial para cada 250 habitantes. No caso do Rio de Janeiro, este número deveria ser de 60.800 policiais, 50% a mais do que existe hoje.

Anônimo disse...

Notícias de uma guerra particular (2)
Deseja-se uma polícia honesta? Então fica combinado que o que vale para a favela vale para Ipanema

Eu digo. Não precisa ninguém dizer. Eu afirmo: a polícia é corrupta.

Com a palavra o delegado Hélio Luz, então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, num dos trechos de sua marcante participação no documentário Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles e Kátia Lund. Na semana passada já se falou aqui desse documentário, hoje mais famoso do que na época em que foi lançado (1998) por causa da mesada paga por Salles a um chefe de tráfico, que conheceu nas filmagens, para que escrevesse um livro. Notícias de uma Guerra Particular, cujo tema é a guerra entre policiais e traficantes nos morros cariocas, causa aflição, de tão denso e revelador. Volta-se a ele para abordar o que ficou de fora na semana passada – o depoimento de Hélio Luz.

"Sim, a polícia é corrupta", diz o delegado no filme, para em seguida acrescentar que, se a sociedade quer uma polícia honesta, não seria difícil consegui-lo. Conta então uma experiência que viveu num município do norte fluminense. Quando ali chegou, para assumir o posto de delegado, encontrou a população traumatizada. Havia pouco, o carcereiro se apoderara da boca-de-fumo local. Clamava-se pela moralização dos agentes da segurança pública. Luz juntou trinta policiais que, em suas palavras, "não levavam grana" e pôs-se ao trabalho. Aplausos. O delegado era convidado para os jantares do Rotary. Tudo foi bem durante dois meses até que, no terceiro, o segurança do supermercado estapeou um garoto apanhado furtando. Foram autuados os dois. Um por furto, outro por agressão. O dono do supermercado protestou, em favor do segurança: "Mas, doutor, era um ladrão..." O delegado começou a ser visto como bicho estranho. Hélio Luz data daquele momento o fim da lua-de-mel da sociedade local com a moralidade. Os convites para jantar escassearam. Deu-se então que um fazendeiro matou um rapaz que lhe levara o toca-fitas do carro. "Aí pronto", diz Luz. "O que era bom deixou de ser." Não se suportou a incriminação do fazendeiro. Não se agüentava mais tanta moralidade.

Luz defende que a polícia é corrupta porque convém à sociedade. Deseja-se uma polícia honesta? Então, o que vale para a favela passa a valer para o Posto 9. "Não pode cheirar em Ipanema", diz. "Vai ter pé na porta na Delfim Moreira." Pé na porta, o leitor sabe, é como a polícia invade os barracos nas favelas. Hélio Luz sugere a extensão do método aos prédios chiques do Leblon. E pergunta: "A sociedade vai conseguir segurar isso?" A pergunta fica nos ouvidos. A sociedade segura isso?

Uma questão não enfatizada com a atenção devida, quando se fala em narcotráfico, é a do contrabando de armas. No documentário de Salles e Lund desfila uma profusão de armas, nas mãos tanto de policiais quanto de traficantes – as melhores, de modelos mais avançados, fuzis e metralhadoras de nomes cabalísticos, para o comum das pessoas, P-90, MD-2, K-47, PT-92, mas pronunciados pelas crianças do morro com a familiaridade com que a dona-de-casa enumera marcas de sabão de pó. Ou, para ficar no filme, com a familiaridade com que, em outra cena, os mesmos meninos enumeram as grifes preferidas: jeans Company, camisetas Toulon, tênis Nike...

Luz afirma que o negócio das armas é quase tão vultoso quanto o do narcotráfico. Os lucros de um e outro estariam muito próximos. "Por que se fabricam fuzis com 700 tiros por minuto?", pergunta. "Já não caiu o muro?" Tais armas, a comunidade internacional proíbe que se vendam à Líbia ou ao Exército Republicano Irlandês (IRA) – mas dão o ar de sua graça no Rio de Janeiro. Parte delas, os traficantes compram de policiais corruptos. Outra parte lhes chega por canais misteriosos. Como combater o tráfico de armas? Luz tem uma sugestão tão provocadoramente absurda quanto absurdamente lógica: fechar as fábricas. Não é isso o que os Estados Unidos fazem como política de combate ao narcotráfico? Não vão às origens do problema, com o objetivo de desmontar a produção no Peru e na Colômbia? Pois Luz reivindica uma intervenção nas fábricas de armas: "Quero fechar a fábrica da Colt que faz o AR-15, nos Estados Unidos. Quero fechar a fábrica do Sig-Sauer na Suíça".

Vai-se encerrar esta página informando, à moda dos filmes, o que aconteceu depois com os personagens. Hélio Luz deixou a polícia e é hoje deputado estadual pelo PT no Rio de Janeiro. O traficante ajudado com a mesada de Salles, o hoje famoso Marcinho VP, foi finalmente preso na semana passada, depois de anos de busca, num morro do bairro carioca de Santa Teresa. João Salles foi indiciado pelas relações com Marcinho VP e mergulhou num inferno particular. Não mudou a vida nos morros. Os moradores do bairro da Tijuca viveram na semana passada mais uma das habituais noites de terror, com o tiroteio cerrado entre traficantes. Os meninos da favela continuam tão craques no nome das armas quanto no das grifes, confundindo ambas, acarinhando e embalando-as ambas no mesmo programa de vida – tênis Nike e HK 962, camiseta Toulon e PT-92.

Anônimo disse...

Texto retirado da internet:

O Cínico discurso da ordem e a babel dos Morros
Luiz Eduardo Soares
(46 anos, visiting scholar da Universidade de Columbia, Nova York, e ex-coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do estado do Rio de Janeiro)

O Rio está em pé de guerra. Algumas lideranças de favelas resolveram protestar, falando uma linguagem agressiva e perigosa. Quem tem bom senso e deseja a paz, tem de se preocupar com os riscos de que a revolta popular acabe canalizada para mais violência, acelerando a espiral destrutiva em que todos perdem, sobretudo os próprios favelados. Por outro lado, quem tem alguma sensibilidade social terá de render-se ao fato de que a revolta é legítima e traduz um sentimento de indignação difuso mas intenso, nos Morros do Rio e nas periferias.
É perfeitamente possível recusar a política de guerra sem render-se ao absenteísmo policial. Mas, infelizmente, por enquanto, a guerra continua, ainda mais cruel e inócua, matando mais gente, em vão –os últimos dados indicam que, ao longo do ano 2000, as mortes provocadas por policiais, no Rio, já alcançaram o patamar de 1998, depois de terem sofrido uma redução de 35%, em 1999. As incursões eventuais da PM nos Morros não têm qualquer eficácia: não libertam esses territórios do domínio do tráfico, a não ser momentaneamente; não desarticulam as redes de criminosos que atuam no atacado, limitando-se a afetar o varejo; disseminam o pânico entre a população mais pobre, que mora nessas áreas, impondo-lhe os custos, em vidas, dessas operações policiais tão vistosas quanto fúteis. Ao invés de dialogar e implantar projetos já existentes, que poderiam ser muito mais eficazes, o Governo do Rio acusa os manifestantes de serem “traficantes” e aplica esse qualificativo com a mesma liberalidade com que outrora os Governos militares usavam a expressão “subversivo”. Além disso, manda filmar reuniões nas favelas e ameaça convocar para depor algumas lideranças, denunciando suas vinculações com o crime organizado. Se há essas ligações, por que só agora, quando criticam a Polícia, essas pessoas seriam convocadas a depor? Curiosa coincidência. Em resposta às promessas de mobilização dos favelados, o Governo mobiliza líderes que lhe são favoráveis. Um deles declarou à imprensa que a Polícia é ótima e que as comunidades gostam muito da Polícia. Quem conhece a realidade das favelas do Rio, esprimidas entre a tirania do tráfico e o despotismo dos policiais corruptos, pode deduzir quão representativo é esse discurso elogioso.
O quadro é preocupante em vários sentidos: revela as dificuldades de mobilização autônoma das comunidades faveladas; a distância entre as lideranças (as cooptadas e as críticas) e a massa dos moradores dessas áreas; a divisão entre aqueles que pretendem falar em nome dos favelados; a ambiguidade das posições dos líderes mais radicais, relativamente às instituições democráticas; a ambiguidade do Governo do Rio, relativamente às práticas democráticas.
Do meu ponto de vista, as condições sócio-econômicas, o tráfico, os sucessivos Governos do estado do Rio, a Polícia e as esquerdas contribuíram para essa realidade lamentável: (1) a exclusão da cidadania e o absenteísmo do Estado empurraram as comunidades faveladas para o jogo do clientelismo político, despolitizante e fragmentador, como estratégia de sobrevivência; (2) o domínio territorial dos tráficos de drogas e armas (que se fundiram em 1988) bloqueou, nas favelas, a organização cívica e a participação política; (3) os Governos capitularam em sua responsabilidade de reconquistar esses territórios e submetê-los ao regime das liberdades democráticas e do Estado de Direito, preferindo a omissão, a cooptação das lideranças e a desmobilização repressiva, combinadas a políticas de segurança irresponsáveis, que concorreram para a extensão da barbárie, a degradação das instituições policiais e o afastamento entre elas e as comunidades; (4) a corrupção, o despreparo profissional e o reiterado desrespeito às leis e aos direitos humanos e civis, tornaram as Polícias parte do problema e não instrumento de solução; (5) as esquerdas, que foram, historicamente, as únicas fontes de repúdio a todas as dimensões desse quadro tão dramático, não souberam passar da denúncia à proposição de vias alternativas, que fossem realmente capazes de conjugar eficiência policial com respeito pela cidadania. Com honrosas e, felizmente, crescentes exceções, jamais compreenderam (e talvez as lideranças populares mais ativas, hoje, tampouco compreendam) quão perverso é o tráfico, que impede a livre organização cívica das comunidades e a participação política. Nunca entenderam que é preciso uma política de segurança consistente, sem prejuízo da focalização dos problemas sociais e econômicos. Os pobres que moram nas periferias e nas favelas, há muito tempo descobriram que a política de segurança e o comportamento policial são questões tão decisivas quanto o emprego e a saúde, porque determinam suas chances de sobreviver. Enquanto todos os principais segmentos das esquerdas e os liberais esclarecidos não enxergarem o óbvio, continuarem incapazes de falar de segurança sem deslocar a conversa para as causas, um dos mais importantes temas da vida nacional continuará a ser tratado por uma esgotada e nefasta política de guerra.

Anônimo disse...

Terça-feira, 22 Abril, 2008
Roteirista de "Tropa de Elite" defende integração de Polícia Militar com município: "Até milícias na Zona Oeste têm canal estabelecido com as regiões administrativas e subprefeituras"
Por Rodrigo Pimentel, capitão reformado do Bope, roteirista do filme "Tropa de Elite"




Caro futuro prefeito da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro:

Na semana passada conversei com o comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), Tenente-Coronel Pinheiro Neto, que se preparava para receber o prefeito Cesar Maia na unidade. Fato histórico: pela primeira vez um prefeito visita o BOPE. O motivo não é a mídia do filme 'Tropa de Elite', e sim a descoberta pela imprensa carioca - e até mundial - de que existe uma favela no Rio de Janeiro sem milícia e sem traficantes. O que provocaria este fenômeno tão raro? O jornal The Guardian chega a citar a Favela Tavares Bastos como o destino turístico mais seguro do mundo.
A simples proximidade entre o quartel e a favela não explicaria os oito anos sem nenhum homicídio. Há outros batalhões da PM e também unidades das Forças Armadas próximos, ou mesmo, dentro de favelas, como o 22º BPM, 16º BPM, 2º BPM, o CPOR e até a Força Nacional de Segurança (estabelecida no antigo 24º BIB ao lado da Favela Roquete Pinto) e estas unidades não obtiveram sucesso em acabar com o domínio do tráfico.
A resposta ao fenômeno Tavares Bastos pode ajudar na elaboração de um Plano Integrado de Cooperação entre estado e município.
O coronel Pinheiro, literalmente, derrubou os muros que separavam o batalhão da favela, estimulou a presença dos moradores no quartel, criou programas esportivos em parceria com o empresariado para atender as crianças da comunidade e - o mais ousado - nomeou um major para funcionar como administrador e articulador entre a comunidade e o poder público.
É a este Major que a comunidade pede ajuda quando falta água, quando é localizado um foco do mosquito Aedes Egyptis e até para mediar pequenos conflitos entre vizinhos. Por mais que pareça incrível, o BOPE, batalhão de intervenção e resgate de reféns, está realizando e ensinando policiamento comunitário. Todavia, totalmente desarticulado com o município.



Prometeu o coronel Pinheiro que diria ao prefeito que o poder municipal não reconhece o papel do Major e não atende as demandas mais básicas quando solicitadas, o que é lamentável, pois até milícias na Zona Oeste possuem canal estabelecido com as regiões administrativas e subprefeituras e conseguem, eventualmente, benfeitorias em seus domínios.
O coronel Pinheiro Neto caminha na Favela, sempre desarmado, e estimula esta prática aos seus policiais, os depoimentos dos moradores sobre a polícia são emocionantes, Tavares Bastos passou a ser a favela preferida pelas locações de TV e cinema, houve valorização dos imóveis, aumento da auto-estima dos moradores e o melhor, crianças, de até dez anos nunca viram um corpo estendido no chão e não sabem o que é um barulho de tiro.
Esta experiência pode ser o embrião de um Gabinete de Soluções Integradas de Segurança Pública. A PM pode representar, tutelar e ajudar o município na tarefa de se fazer presente nas favelas.
Tal integração traria facilitação nas ações municipais e, de sobra, ainda implicaria na polícia oferecer algo mais que incursões policiais, poderia até mesmo iniciar o resgate da credibilidade da PMERJ.
Só um prefeito perfeitamente articulado com o estado e com a união poderia propor a criação de uma Coordenadoria de Solucões Integradas de Segurança Pública.

Anônimo disse...

A Polícia que queremos:


Seleção:

A diferença entre o PM comum e o do Bope começa na decisão de ser forças especiais. Após uma bateria de exames físicos e psicológicos, o candidato tem toda a sua vida profissional e civil vasculhada. Os que sobram passam por dois cursos: um mês de treinamento de Operações Táticas, para, em seguida, fazer o curso de Operações Especiais, com duração de três meses e uma semana. De 400 candidatos, sobram 15. Neste mês, o Bope começou uma nova seleção: de 600 policiais, Mário Sérgio diz que devem restar menos de 20 no final.

"O homem do Bope tem que ter uma capacidade psíquica e física de ser forças especiais. Aquele instinto caveira no coração, de querer lutar até o fim. Ele sabe que ele está sempre nas piores condições possíveis de combate. Eles são homens de coragem com capacidade de enfrentar o crime. O diferencial está no amor pelo que faz, pela preparação extenuante, que esgota, que leva aos últimos limites do corpo e da mente. A partir de então, ele vai estar em uma guerra constante. E quando ele não está combatendo, está treinando", diz o coronel.


Treinamento:

O Brasil tem excelentes tropas de forças especiais em todos Estados e a própria tropa de forças especiais das Forças Armadas, que atuou no Haiti, é muito boa. A nossa diferença é que estamos em combate diariamente. Pode existir alguma tropa que treine tanto quanto o Bope. Mas há alguma dúvida de que a os forças especiais de polícia que mais atuam no mundo sejam os do Bope? Isso, com certeza, não tem. Nenhuma tropa de operações especiais em lugar nenhum. E é esse nosso diferencial. Entramos tanto em combate que vamos produzindo conhecimento e desenvolvendo novas técnicas. Aí a gente transforma tudo isso em guerra", explica o ex-comandante.



Relação com o público alvo:

"Quem tem que ter respeito pelo Bope é a população de bem. O criminoso tem que ter medo, muito medo. Bandido que não tem medo é porque ainda não conheceu o Bope. Quando ele conhecer, com certeza vai sentir medo. Por que? Porque ele vai perceber que a lei chegou para ele".


Entraves:

"não adianta pacificar uma favela e colocar um efetivo permanente lá se, de alguma maneira, o Estado não propiciar melhores condições de vida à população. É como no Haiti, não adianta pacificar se não houver melhoria no país. Porque um dia as Forças Armadas vão sair e volta toda a situação de barbárie que estava".


Problemas operacionais:

"Tudo pode acontecer, mas como acidente, e não como essência. Não como regra, mas como exceção, e burlando os dispositivos de controle. Sou contra tortura, e empalação é tortura. Há cena no filme do cabo de vassoura para simular isso. O filme está tentando disser que isso é uma prática rotineira do Bope, e não é".


"Há nos grupos, além do objetivo do comércio de drogas, uma autofagia, um sentimento de pertencimento de grupo, de identidade. A cada instante surgem novas frações do grupos que introjetaram a expressão guerra, e agora nós estamos nesta guerra e fazendo o tráfico recuar".



Finalidade:

"Nós vamos pacificar o Rio. Mas não vai ser com passeata e roupa branca. Isso fazemos há 20 anos e não dá em nada. E também fazer o que fazíamos até há pouco tempo atrás, de uma polícia invasiva, que só entra no local onde existe forte influência do narcotráfico e depois sai. O que tem que fazer é erradicar o narcotráfico de suas posições e junto, ou logo em seguida, entrar com forte apelo de melhoria da qualidade de vida e infra-estrutura social, o que vai ser feito com o PAC. A população precisa enxergar que é possível ter inclusão social e melhoria na qualidade de vida sem o apelo do narcotráfico".

Anônimo disse...

Sr. Coronel,
Diante de tudo que foi exposto eu acho que especialistas em segurança pública tanto os sociólogos, policiólogos quanto os policiais têm muitos pontos concordantes. A diferença principal que me parece é que para alguns é ilegítimo agir com efeito de guerra sobre a população com graves problemas sociais enquanto para outros os problemas sociais não justificam a falta de ação contra traficantes fortemente armados. Infelizmente acho também que em um dado momento os traficantes conseguiram uma rejeição menor por uma parte da população carente do que o Estado e seu braço forte (PM e PC).
Assim como muitos sociólogos acreditam na recuperação de traficantes e pregam medidas preventivas para que jovens não ingressem na vida do crime acho que a polícia deveria olhar para as suas feridas e regenerar-se. Caso isso ocorresse acredito que os sentimentos da população carente em relação a PM seriam outros: confiança e proteção.
Acho também que essa regeneração só seria possível se Homens como o senhor estivessem a frente do comando, que novos ten coronéis com um coração e coragem de um PM genuíno fossem promovidos a comandantes e valorizassem suas tropas e uma nova mentalidade principalmente de amor pela profissão fosse restabelecida. Não toquei no ponto de salário e infra-estrutura porque são os mesmos problemas vividos pela população carente. Os guerreiros do Bope não ganham bem mais que os outros guerreiros de outros batalhões mas são mais respeitados. E por que? Acho que por tudo isso que foi exposto pelo senhor em entrevista à revista veja.
Nossos erros são explicados quando analisamos a conjuntura mas nunca justificáveis. È assim que a polícia enxerga traficantes terroristas e é assim que estudiosos percebem a polícia. O mesmo ponto de vista para lados opostos.
Reconhecer os próprios defeitos e tentar resolvê-los sem por a culpa no governo, mídia e estudiosos é tentar curar as próprias feridas e tornar-se mais autônomo. Eu acredito na PM, eu acredito no senhor.

Um fraterno abraço,
Um admirador.

Unknown disse...

Fantástico o manual.

Anônimo disse...

Pô tio, a bandidagem parou de novo. Hoje não tem trêm para Santa Cruz, os caras avisaram que vão metralhar os vagões. Até quando vamos ter que conviver com isso!

Bacardi disse...

Olá Gostaria de uma copia desse Manual, como faço pra adquirilo ??

Anônimo disse...

CAVEIRAS E GLADIADORES: SEGURA ESSA, BANDIDAGEM!!!!

É com imensa satisfação e alegria que vejo, em ação, o BATALHÃO DE CHOQUE, atuando com a MELHOR TROPA DE GUERRILHA URBANA DO MUNDO ( não preciso dizer que é o BOPE, não é ? ). Pois bem. Pelo que sei coronel Mário Sérgio, O BPchq, foi o "berço" de onde saíram, grandes guerreiros, INCLUSIVE, o Cel Amêndola,que á posteriori nasceria o Nucoe salvo engano, depois CIOE , COE e hoje, o atual, BOPE.Quantos guerreiros "tombaram" para hoje, esta Unidade ser o que é hoje em dia, não é mesmo? Enfim. Fico muito, muito, mas, muito feliz, com a presença dos homens "camuflados" , atuando com os homens de preto. Me parece, que, em 2006 iniciou-se o Curso de Operações de Choque. Que maravilha.Como dizia Sun Tzu: " Se queres a paz, prepara-te para a Guerra ".

Parabéns á Secretaria de Segurança Pública do RJ, em especial, ao trio: Beltrame, Cesário e Mário Sérgio.

AVANTE CAVEIRAS E GLADIADORES!!!!!!

P.S: só falta MODERNIZAR o Paladino ( será que ele funciona ? E se funcionar, mudar o nome dele, não é? ) e só falta agora RESSUCITAR o Brucutu !!! Daí, seria PEDIR MILAGRE!!!!!!rsrsrs

Unknown disse...

Oi Marius, bom dia.

Estou fazendo um estudo sobre o assunto segurança pública na internet e queria sua ajuda.

Vc pode me indicar links, blogs e influentes nesse discussao?

Vc sabe me informar qual a audiencia do blog, quantos page views e quantos usuarios unicos mensais ele tem?

Aguardo retorno, muito obrigada.

Camila serejo
camila.serejo@gmail.com

Pedra disse...

Parabéns ao autor, gostaria muito de adquirir o manual. Contudo como sou Policial, estou automaticamente desclassificado para a função!! Mas minha esposa é dona de casa, quem sabe ela consiga.

Silvio Luiz disse...

Também gostaria de receber o manual sou um cidadão civil, porém com meu 15 anos trabalhando com segurança pessoal e transporte de valores VIP tive o privilegio de trabalhar com muitos policiais ganhei grandes amigos e tbm bastante inimigos principalmente os corruptos tenho muita experiência na vida e posso afirmar que o problema está na corrupção policial e infelizmente onde dizem que diminuíram os números de mortes mentira eles devem isso ao crime organizado se não fosse eles estaria morrendo 10X mais isso eh uma vergonha...ainda falo tudo que tenho vontande aguardem !!!