sexta-feira, 13 de junho de 2008

Cubabatan


Vamos imaginar o seguinte: uma área, um território geográfico, um país, um lugar qualquer; comecemos assim. Tal lugar é marcadamente caracterizado pela pobreza, pela fealdade de sua arquitetura depreciada, pelas precárias condições de transporte e de iluminação pública, pela ausência ou/e abandono de áreas de lazer, pelas dificuldades inexoráveis vividas por sua população sofrida, extenuada de tanto trabalho para aquisição de bens primários de sobrevivência e, principalmente, pela inexistência de liberdades plenas, impeditivas mesmo do exercício de opinião, em submissão a um regime ditatorial, opressor, tirânico, não sufragado. Há nesse território idéias divergentes sobre suas situações: uns celebram o status de ordem e controle despótico reinante; asseguram que a contrapartida é compensatória, pois contempla a distribuição equânime de segurança (educação e saúde) para a coletividade, embora implique aceitar a preterição de outras necessidades individuais ou comunitárias. A opinião divergente acredita (mas não pode falar!) que o regime sob o qual vivem é, na realidade, um sistema opressor. A estrutura de poder que se instalou pela força, derrotando os dominadores que lhes submetiam até então, são verdadeiramente oportunistas, hipnotizadoras das consciências que manipulam com uso de recursos ideológicos, escravizando suas vontades e suas forças. Cubabatan vive sob olhares perscrutadores: primeiramente dos seus dominadores atuais, que se entranharam em cada célula do seu corpo social, controlando tudo; depois, das forças que lhes dominavam anteriormente, por meio de espias (aliás, ansiosos por retomarem o poder e se vingarem dos colaboradores do regime) e, de resto, de “todo do mundo”, que das suas dores possam faturar algum benefício, principalmente por simulacros de intenções dignas que lhes camuflem aquelas menos dignas, guardadas nos cofres seguros da respeitabilidade que costumam exibir, farisaicamente, nas praças públicas da veiculação midiática moderna.
Mas, feliz és tu, Cubabatan, porque tua existência é irreal.
Feliz és tu porque os homens que transitam nas terras de sua virtualidade, povoam terras e lugares reais, sim, miseravelmente tão semelhantes a ti em pobreza e despotismo mascarado de benefício, de benemerência, de benfeitoria, de bem-comum.
Feliz és tu, porque é Cubabatan e não Cuba e nem Batan, onde violações atingem tanto a carne sensível como o espírito invisível de seus filhos indignados.
Pobre ilha de Cuba. Pobre favela do Batan. Pobres lugares que só recebem atenção dos “homens de bem” quando a desgraça que lhes afeta todos os dias pode ser utilizada em proveito de ideologias subreptícias, faturada substancial e providencialmente na dor alheia, mazelas transformadas em capital fomentador de intolerância como bandeira política, e ferramenta de pressão e poder.
Pobre és tu, Cuba, exilada e escravizada pela demência fratricida, implorando dos céus um milagre libertador que retire seus filhos dos cárceres onde foram entulhados há décadas por não calarem-se ante a tirania e o autoritarismo.
Pobre és tu, favela do Batan, dominada pelo tráfico, dominada pelas milícias, dominada pela descrença, sobrepujada pela esperteza dissimulada como “interesses legítimos” numa mimese tão bem urdida que oblitera nossa capacidade de enxergar violações outras, tão bárbaras quanto as que lhe sobrevém, mas protegidas pela seletividade ideológica que lhes encobre a face terrorista.
Feliz és tu, Cubabatan, posto que, não existindo, se livra do constrangimento de ver correndo em seu socorro as mesmas personagens que toleram a violência real dos EMEESSETÊS da vida, seus correligionários, investindo contra a ordem social, pregando revoluções sangrentas, atuando contra os poderes legitimamente constituídos, tudo sem o mínimo pudor que deveria revestir suas ações considerando os postos que ocupam na mais alta hierarquia da nação.
Feliz és tu, Cubabatan, e também sua parônima Kubanacan nas suas inexistências reais. Estão, ambas, livres dos serviços de segurança pública para-estatal com qualidade de produto de camelô, vendidos pelas milícias nas portas de suas casas; estão livres do terror inexprimível promovido pelas hordas de narcotraficantes arrastando seus filhos para um pertencimento sem retorno, e, por fim, estão livres de serem trapaceadas pelos mercadores da ilusão do falso bem; esses, piores do que todos os outros porque teorizam por “justiça social” para justificar selvageria de aliados e atiçam ódio contra “as elites”, como nomeiam qualquer individuo ou coletividade que não se lhes assemelhe em desígnios.
Felizes sois vós, Cubabatan e Kubanacan, pois não serão relegadas ao esquecimento quando se apagarem as luzes da ribalta.

14 comentários:

Anônimo disse...

Sr. Tenente-coronel Mário Sérgio Duarte, muito grato por representar o senhor em um Fórum PUC chamado de SIEM em São Paulo, gostaria de saber se o Sr. poderia me auxiliar em pesquisas e suas percepções de como minimizar a violência no RJ.

Agradecido tho_onofre@hotmail.com

Mário Sérgio de Brito Duarte disse...

Será um prazer, Thomas.
Escreverei para seu e-mail na segunda-feira.
Obrigado pela deferência especial à minha pessoa.
Abraços

Anônimo disse...

engraçado como muitos dessas pessoas são tolerantes com a violência do MST coronel. Eles invadem terra dos outros com violência, ferem, matam e as autoridades, as mesmas que se levantaram com toda razão, aliás, contra a violência das milicias, não dizem nada. Ficam caladinhos.
O MST fecha estrada, saqueia caminhâo, saqueia mercado, mata policiaias e fazendeiros com foice e machado e nada acontece. O Stédile, em 2033 incitou os sem terra a ELIMINAR fazendeiros. Sabe o que aconteceu? foi convidado a fazer palestra no ESG do EB.
É isso coronel. A violência tem combate seletivo mas é seletivo-ideológico.
Eles pensam que nos enganam
Saudações

Anônimo disse...

Um texto pequeno-burguês, reacionário, insignificante.
Já são 22 milhões dispostos à luta.
A Revolução bate à porta.

Anônimo disse...

Bate sim, e tá quase saindo. Alguém aí tem um laxante?

Anônimo disse...

Tá na hora do Bope fazer palestra no Exército. O Bope já aprendeu que a vingança é burra e o ferir é permitido apenas em confronto. O Bope também deve lembrar ao Exército que o confronto deve ser em justa e nobre causa. Por isso sugeri que Homens como o senhor desse palestras.

Anônimo disse...

Muito interessante o texto. Mas a pouco o senhor escreveu sobre os aspectos negativos e "positivos" das milícias. Não entendo como pode haver aspectos positivos neste caso. È quase como dizer que o Tráfico tem o lado social e ajuda a população. Para mim estes pensamentos são ambíguos e vindos de um homem sábio como o senhor apenas ratifica que quando tentamos contrapor por contrapor ou justificar o injustificável nos perdemos.
Respeitosamente.

Mário Sérgio de Brito Duarte disse...

Não, não falei de "aspectos positivos ou negativos". Falei, sim, de benefícios e prejuizos.
Tais conceitos não carregam implicitamente um julgamento de bem e mal em si, ou um fundamento ético-moral absoluto. Beneficiar-se de algo não pode ser entendido como receber um bem lícito, compreende?
Não é uma análise metafísica. É mais uma descrição do fenômeno.

Unknown disse...

cel penso que Cuba não se enquadra perfeitamente na descrição inicial de seu texto. Embora não seja um país democratico lá ao menos os cidadãos tem direito a uma educação de excelente qualidade assim como uma eficiente assistência médica. O que já é necessário para que o país se desenvolva, e não se torne o caos que alguns estados brasileiros se encontram. Onde a segurançao pública e a educação são sucateados. Principalmente a educação pois, desde o regime militar foi relegada tendo como ministros da pasta economistas que nada entendem de educação. E que na minha concepção contribuiram de alguma forma para instalação do caos que se encontra hoje em alguns setores como segurança pública e saúde.

Anônimo disse...

Caro Coronel Mário Sérgio, qual seria sua opinião sobre o ocorrido na comunidade da Providência?

Cordialmente.

Anônimo disse...

Sr. Mário Sérgio, tenho convicção de que este espaço sibernético foi criado para falarmos, pensarmos segurança pública. Gostaria de lhe perguntar sobre o ocorrido no morro da Providência. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
Respeitosamente.

Mário Sérgio de Brito Duarte disse...

Prezado comentarista.
Pretendo comentar com minha visão do problema num próximo artigo.
Peço-vos um pouco de paciência, pois estou com o tempo apertadíssimo e me limitando a um texto por mês.
Abraços

Anônimo disse...

Por ofício, sou obrigado a ler muitas idiotices, mas este texto superou tudo. Uma verdadeira pérola da cretinice. Por favor, aprenda a pontuar! Ou melhor, não aprenda.

Mário Sérgio de Brito Duarte disse...

Este já não é um texto novo. Considero, então, que deves ter lido outros também; só não creio que foi "por ofício".
Não obstante, seu comentário é o que importa para a melhoria da qualidade do blog.
Apareça sempre, leia e comente.