As informações acima e com a qual dou início ao presente texto, extraí do endereço www.pstu.org.br/autor_materia.asp?id=4992&ida=44 subseqüente à publicação de artigo do chamado intelectual comprometido (http://www.galizacig.com/index.html) James Petras, autor da Carta aberta ao presidente Sarkozy, escrita e divulgada em dezembro do ano passado. Quem quiser conhecê-la, basta acessar o endereço http://www.correiocidadania.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=1256 e poderá lê-la na íntegra para formar opinião isenta, além das minhas opiniões aqui expressas.
Trata-se de uma correspondência aberta ao líder da França, na qual o sociólogo contesta a posição do presidente francês em relação às “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia” – FARC.
A carta à carta, visto que a missiva gerada dá à luz uma entidade que se dirige a outra que lhe é semelhante, tem um tom debochado, e se destina a passar uma descompostura no presidente francês em razão do que escreveu ao líder terrorista colombiano, Manuel Marulanda.
O sociólogo, professor aposentado como informa o site, cuja base do pensamento se assenta nas construções ideológicas de Karl Marx, usa e abusa da sofisticação cínica para exibir o que ele julga haver de “inconseqüência e desonestidade” na posição de Sarkozy, assegurando que o líder francês adota no seu julgamento, uma posição “parcial, não recíproca e de má-fé”.
Desonesto e inconseqüente são algumas das expressões com as quais ele adjetiva Sarkozy em seu pleito de libertação dos cativos das FARC, e assim o considera porque não faz o mesmo em relação aos integrantes farcistas, prisioneiros do estado colombiano que estariam (padecendo) em masmorras do país.
Não vou realizar qualquer análise sobre a legitimidade, status ético, razoabilidade e racionalidade dos movimentos revolucionários marxistas, ou mesmo sobre governos instalados após sangrentas guerrilhas em busca da utópica “sociedade sem classes”, pregada por comunistas como James Petras.
Todavia, vou tentar desentranhar e evidenciar algumas questões seguramente fundamentais, para um bom julgamento da prédica de Petras que, com habilidade, tentou camuflar, ao tempo que imputava como “desqualidades” em Sarkozy, aquelas que enxergava em si mesmo, e acreditou não evidenciá-las enquanto se exibia.
Vejamos:
1. James Petras (e eu acredito que ele acredite nisso) assegura que ambos os estados beligerantes (a expressão é minha) - o legal, constitucional, com reconhecimento internacional e, d’outra sorte, o revolucionário em curso – ocupam patamares no mínimo equivalentes, concernentes à questão dos prisioneiros que mantém consigo. “Se a guerrilha deve se precaver de não violar acordos e tratados internacionais para tratamento de prisioneiros de guerra - aliás, a Colômbia é signatária da Convenção de Genebra que prevê tratamento digno a prisioneiros de guerra – o Estado, principalmente por esse motivo, deve cumpri-los”, parece ser o que ele insinua; embora Petras não invoque tal acordo quando reclama da unilateralidade na proposição de Sarkozy, não nos é difícil inferir que o sociólogo expõe justamente sua compreensão de que os homens das FARC não podem, e não devem, receber tratamento de presos comuns, principalmente quando tratamento comum a presos comuns, não respeitem condições universais de direitos humanos.
2. Petras desfila argumentos para explicar sua defesa das FARC ao não promover, ou mesmo não permitir aos cativos que mantém, a aplicação de direitos reclamados para si, como: dignidade e tratamento humanitário; para àqueles que mantêm refém nas selvas da amazônia colombiana, as FARC sequer permitem o socorro dos doentes e feridos, envio de notícias a familiares e muito menos ajuda humanitária de natureza psicológica, não autorizando visita de nenhum organismo nacional ou internacional às suas instalações prisionais (chamemos assim aos tapiris onde mantém-nos acorrentados), nem mesmo a Cruz Vermelha; num momento, o sociólogo alega que suas posições geográficas seriam descobertas, o que facilitaria ao governo Uribe massacrá-los com ajuda americana; noutro, ele assevera que dois guerrilheiros das FARC estão presos nos Estados Unidos, daí a necessidade de manterem prisioneiros americanos como uma espécie de moeda de troca.
3. Petras, além de outras considerações, também obtempera que a Igreja (creio que católica) não merece confiança (das FARC), e não pode, por conseguinte, fazer parte do processo de negociações: ela seria aliada de Uribe.
As proposições iracundas de James Petras poderiam, até, carregar algum significado de justiça, se as questões por ele colocadas se limitassem ao universo da guerra e dos soldados, dos combatentes, dos engajados de alguma forma pessoalmente nos conflitos, como sectários de qualquer lado. Aí eu diria que James Petras, o sociólogo marxista, teria lá suas razões.
Se os cativos feitos pelas chamadas FARCS não fosse um sem número também de pessoas inocentes, como as crianças retiradas das portas das escolas em uniformes escolares, para desespero de seus pais e amigos; se não fossem aqueles idosos indefesos cujo pecado é tão somente possuir familiares adversários políticos das FARC; se não fossem as mulheres cujo “grave erro” é não se curvar às vontades e interesses de “soldados do povo” que lhes procuram para as “socializações” que só interessam à guerrilha; se não fossem turistas, de qualquer profissão e de qualquer nacionalidade, que atraídos pela beleza de paisagens tão paradisíacas acabam nas mãos da insanidade ideologizada e “cult”; se não fosse aquela gente sem ligação ideológica, política, não adversária por qualquer critério lógico da “revolução popular”, eu não teria dúvidas por declarar o escrito de Petras como legítimo e louvável.
Mas não é isso.
Aliás, pouco importa para as FARC, e para Petras, quem são os encarcerados que mantêm em condições misérrimas no inóspito das selvas, padecendo enfermidades psicossomáticas sem notícias do mundo e sem vontade de viver, desde que possam usá-los como barganha para a liberdade de seus combatentes, dos homens e mulheres das FARC que se decidiram pelas armas revolucionárias em vista de "um mundo mais justo, melhor e pacífico".
E pouco lhes importa, também, se para conseguirem recursos financeiros que sustentem sua luta, as FARC tenham assumido, na Colômbia, parte do controle da produção e do tráfico internacional de cocaína.
Pouco lhes importa, ainda, se seus aliados são líderes de países de organização política-econômica de mesma coloração que defendem, ou se são chefes de outras coletividades um tanto quanto, diríamos, afastadas dos compromissos éticos alardeados nos tempos de sua ingenuidade existencial.
Pouco lhes importa se seus aliados são presidentes de países ou chefes de quadrilhas, de bandos e facções criminosas, como ficou evidente no caso das estreitas ligações das tais Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Comando Vermelho, posta a claro pela prisão, há alguns anos, em terras colombianas, do traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar quando negociava armas e drogas com os narco-marxistas.
James Petras é um professor aposentado, diz a informação a seu respeito, mas na defesa das violações de direitos humanos praticadas pelas FARC contra civis inocentes que seqüestram, isolam e reduzem a nada, ele continua em plena ação multidisciplinar e transversalmente pedagógica.
A rigor, se considerarmos uma certa corrente de hermenêutica dos Direitos Humanos que rola por aí, Petras está coberto de razão, posto que, para tal, direitos humanos só vale para algozes e não para vítimas.
Que pena essa estreiteza conceitual !
Há gente no Brasil capaz de se oferecer como escudo humano em holocausto pelo outro, por desprendimento e idealismo, e que poderia se aventurar a furar o bloqueio das FARC.