sábado, 8 de dezembro de 2007

Sucesso do "Incursionando no Inferno - A Verdade da Tropa"

Prezados leitores do blog.


O texto abaixo não trata de Segurança Pública. É, na verdade, um artigo sobre negócios na bolsa de valores, extraído do endereço: http://www.cosmo.com.br/economia/integra.asp?id=213934

Me permiti colocá-lo aqui em razão das boas informações sobre a aceitação do meu livro: Incursionando no Inferno - A verdade da Tropa, sucesso de vendas pela Editora Ciência Moderna (25.000 exemplares vendidos), como se vê.

Então, com a devida citação da fonte, aproveito para manifestar meus agradecimentos à minha Editora por sua crença na obra, desde os primeiros momentos, e aos leitores que me prestigiam.

Um abraço a todos



Editoras aproveitam o boom da Bolsa

Vilma Gasques

(02/12/2007)O número de pessoas físicas operando a bolsa de valores está em franco progresso no País. Cerca de 130 mil novos investidores ingressaram neste mercado durante este ano. São esses marinheiros de primeira viagem que motivam editoras a lançar títulos voltados ao tema.

São inúmeros os livros lançados no mercado editorial do País sobre o tema nos últimos meses. Só a Campus-Elsevier Editora tem entre 20 e 25 sobre bolsa de valores, com títulos como Desmistificando a Bolsa de Valores, de Marcelo Smarrito, e A Bolsa Para Mulheres, de Sandra Blanco, que apontam o caminho para ganhos expressivos a longo prazo. “Quem investiu R$ 5 mil em ações do Índice Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) em 1994 e aplicou mais R$ 500,00 por mês neste período, tem agora perto de R$ 5 milhões. Ou seja, economizar e aplicar em ações faz toda a diferença”, ensina Marcelo Smarrito.

Falar em investimentos, a princípio, não parece um assunto tão agradável, principalmente para as mulheres. Mas elas já estão lá, afirma Sandra Blanco. “A mulher costuma analisar mais, faz pesquisas e investe apenas quando tem certeza. É pé no chão”, adianta a autora do livro voltado para o público feminino, onde conta a experiência de um clube de investidores formado por mulheres no Rio de Janeiro.

Segundo a gerente editorial dos segmentos de Profissional-Negócios e Educação & Referência da Editora Campus-Elsevier, Caroline Rothmuller, as pessoas estão percebendo que o dinheiro pode ser multiplicado de várias formas, sem correr tantos riscos quanto se acredita. Por isso, o mercado editorial está tão aquecido com esses novos títulos sobre o assunto. “Não é apenas uma questão de ‘como fazer para’. Os livros são direcionados para esclarecer de forma simples dúvidas que antes só poderiam ser entendidas por quem dominava o economês. Uma grande parte da população está abrindo os olhos para essas novas opções de investimentos”, analisa, explicando que a tendência é de ter um crescimento maior ainda neste mercado editorial, já que o próprio mercado está propício para investimentos, gerando interesse em diferente faixas etárias e econômicas. Ela diz que as obras com temas voltados para o mercado de ações duplicaram neste ano em relação ao ano passado. “A média de tiragem dos livros desse segmento é de 5 mil exemplares por título.

Caroline diz ainda que todo tipo de leitor tem o perfil para esses livros, uma vez que todo brasileiro está sentindo a necessidade de gerenciar melhor seu dinheiro, ter garantia de uma independência financeira ou que não podem contar apenas com o salário da aposentadoria para manter o padrão de vida.

Os livros da Campus-Elvisier abordam temas para iniciantes e também para quem já tem experiência. Os da série ExpoMoney, por exemplo, custam em média R$ 39,90.

O gerente Comercial da Editora Ciência Moderna, George Meireles, o resultado dessa explosão editorial só confirma o interesse dos novos investidores na bolsa de valores, tanto via internet, como pela via tradicional, feita por meio de bancos e corretoras. “Lançamos quatro livros recentemente sobre bolsa de valores e todos são sucesso. Hoje, são os livros mais vendidos da editora. Só perde para o Incursionando no Inferno, a Verdade da Tropa (destaque meu), que também traz histórias sobre o Bope (Batalhão de Operações Especiais)”, revela.

De acordo com Meireles, enquanto o livro sobre o Bope está com 25 mil exemplares vendidos, o Home Broker, Aprenda a Investir em Ações, por exemplo, está com 20 mil exemplares vendidos. “O perfil de quem compra o livro é do pequeno investidor, pessoas com renda acima de R$ 15 mil mensais, que era aplicador de fundos de ações e títulos de renda fixa, mas que estão migrando, buscando opções e selecionando a própria carteira de ações.”

O presidente do Grupo Tecmedd, da qual a Editora Novo Conceito faz parte, Fernando Baracchini, também decidiu investir na publicação de livros sobre o tema e lançou a 5ª edição do livro Bem-Vindo à Bolsa de Valores, de Marcelo Piazza. “O assunto está em evidência. O livro já é um bestseller.”

sábado, 3 de novembro de 2007

Sobre Laudos e Lutas

Os jornais dessa última sexta-feira, dia dois de novembro de 2007, divulgaram um relatório emitido pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos com parecer de três peritos contratados pelo governo federal, que concluíram haver, pelo menos nos laudos das vítimas José da Silva Farias Júnior e Emerson Goulart, respectivamente, evidências de morte por execução sumária e arbitrária. Ou seja, dos dezenove narcotraficantes feridos e que resultaram mortos nos combates travados com as forças da lei, em 27 de junho deste ano, no Complexo do Alemão, não obstante o olhar peculiar, marcadamente para encontro de irregularidades e erros nos documentos confeccionados pelos nossos legistas cariocas, os peritos “de confiança” da SNDH, encontraram, somente em dois corpos, sinais que interpretaram como de “execução” dos quadrilheiros.

Recordando os fatos, o mais violento de todos os combates ocorridos nos últimos anos naquele que é dos lugares mais problemáticos para a Segurança Pública do Estado, já que funciona como uma espécie de fortaleza inexpugnável de uma das mais tenebrosas facções da narco-guerrilha do país, envolveu cerca de mil e duzentos agentes da Polícia Militar e da Polícia Civil, além de membros da Força Nacional de Segurança Pública.

A diligência policial, que incluiu um cerco ao grande complexo de favelas com quase duzentos mil moradores, em sua imensa maioria pessoas de bem e trabalhadoras, mas com um lumpesinato bestial formando um pequeno exército de cerca de cem homens com armas de guerra, como: fuzis, metralhadora, pistolas e granadas, durou um dia inteiro, e mobilizou o maior efetivo policial de toda história da cidade, até hoje, em uma única ação.

Mesmo sabedores da absoluta impossibilidade de se enfrentar, com sucesso, a grande massa policial assim empregada com objetivo de dissuasão do enfrentamento e indicador de uso progressivo da força insuperável, os irrefreáveis bandidos-soldados-do-pó, inebriados e incentivados pelas “toneladas” de cocaína que consumiram para perder a lucidez e manter a resistência pelo fogo, preferindo a morte à submissão ao Estado de Direito, não se entregaram, encontrando destino compatível e consoante suas próprias vontades.

É verdade que, infelizmente, as dores e as chagas sociais da população pobre do país têm servido de oportunos vetores para projeção e promoção de atores da cena política, além de outros sicários da ordem e do Estado de Direito, nos modelos adotados no Brasil.

A ordem social, diferentemente da ordem natural, está e estará sujeita, sempre, à vontade e ao entendimento dos homens, por isso mais vulnerável e suscitadora de desejos de mudança que fomentam manifestações populares, às vezes pacíficas e ordeiras, como as ocorridas em passado histórico recente no nosso país, por eleições diretas para presidente, ou, por revoluções sanguinárias e bárbaras, como a revolução bolchevique, de 1917, a qual a Rússia tem buscado esquecer, enquanto realça a necessidade de concórdia e entendimento entre povos e ideologias.

Todavia, ainda que para nós brasileiros, povo de inclinações pacifistas e de índole mediadora, que historicamente tem preferido o diálogo sobre o pólemos armado, sobrepujando o conflito pela concórdia, é bom que nos mantenhamos prudentes como as serpentes, pois o risco de um retrocesso democrático ronda nosso continente, e a sementeira de idéias capazes de levar uma pátria de homens livres a uma ditadura odiosa, que não distingue criminosos e vítimas, não raro tem início na disseminação do descrédito sobre as ações das forças da lei, principalmente quando sangue inocente é derramado no enfrentamento do problema, enlutando Estado e Sociedade Civil, mas transformando-se em chamativa bandeira nas ações e intenções de insensíveis candidatos, num ano pré-eleições.

Compreende-se, finalmente, que os legistas contratados tenham abstraído conclusões errôneas sobre os laudos dos legistas cariocas, afinal, pelo que parece eles nada conhecem do conflito urbano armado estabelecido há vinte anos em nossa cidade e que agora procuramos derribar e pacificar.

Mesmo bem intencionados e movidos pelos mais louváveis desígnios, suas experiências sobre ferimentos de armas de fogo provavelmente estão limitados aos ferimentos encontrados nos compêndios de medicina legal dos livros escritos para quadros regulares de Segurança e Ordem.

Os peritos, sem diminuí-los, não podem compreender o significado de um ferimento produzido por projetis de fuzis simplesmente porque não sabem o que é isso! Não podem, pois, aferir, o que não conhecem!
Não se trata de leviandade, mas de desconhecimento. Eles não sabem que os combates acontecem de forma marcadamente militar, ora com atiradores se digladiando há mais de trezentos metros, e ora com os canos dos fuzis se encontrando nos becos das favelas, num combate quase corpo-a-corpo, ou, à baioneta.

Não vamos desanimar.

Sabemos que a luta é renhida e que os percalços são muitos, mas é a esperança em dias melhores que tem nos movido.

É a esperança num futuro melhor para os filhos desta terra, que tem nos impulsionado, policiais do Rio de Janeiro e de todo país que integram a Força Nacional, ao risco de cada serviço, ao perigo de cada missão.

Somos uma nação de bravos!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

1988: O Ano Que Não Acabou


Há pelo menos quinze anos, um sem número de Organizações Não Governamentais e outras instituições com poder de mídia e capacidade de influência sobre a opinião pública, têm contribuído para uma espécie de “afasia” nos nossos governantes, receosos das perdas políticas que pode trazer-lhes um enfrentamento direto da narcoguerrilha nas favelas cariocas.

Quando, em 1988, Robson da Silva, Cassiano Barboza da Silva e Ednaldo de Souza, respectivamente, “Buzunga, Cassiano e Naldo", bandidos da Rocinha, acordaram sobre a liderança e divisão de poderes nos seus negócios ilícitos, para evitar uma guerra interna que os enfraqueceria e, sob foco da mídia, Cassiano, o mentor intelectual do grupo, assegurou que começaria uma “revolução social” ali, vozes de apoio não lhes faltaram, inclusive no meio político, quando importante chefe de poder executivo declarou que aquele era “um processo de guerra civil informal entre os marginalizados e a sociedade formal, em cuja raiz estava a injustiça social”.

Dezenove anos foram se passando e, ao longo de todo esse tempo, acossadas pelo fantasma do desgaste político as autoridades preferiram o “absenteísmo”, a procrastinação, o olvido aos sinais do caos. Com receio de um arranhão no verniz que cobria suas intenções eleitoreiras, alguns governantes optaram por simular tratar do problema, adotando estratégias antagônicas, até, mas nunca efetivas ou capazes de restaurar a autoridade do Estado no seu território gradativamente tomado pelas hordas criminosas e insanas.

Também há dezenove anos, o Dr Carlos Maurício Martins Rodrigues, presidente da OAB-RJ, estupefato ante a audácia dos bandidos acima citados que desafiavam a ordem constitucional, declarou: “Sinto-me em pânico vendo isso acontecer. Os poderes públicos têm culpa e responsabilidade pelo que está acontecendo, e, se continuarem omissos, a tendência é a situação se agravar”. Dr Maurício enxergava o futuro com clareza, enquanto o atual presidente da OAB, Dr Wadih Damous não consegue ver os fatos ocorrendo à sua frente.

Aliás, sobre o insigne presidente da Ordem, se não há dúvidas de que lhe cabe, sim, considerações públicas sobre tudo que se lhe pareça violação de direitos ou injustiça, cometidos por qualquer pessoa física, jurídica e principalmente pelo Estado, talvez lhe fosse mais pertinente que não o fizesse com tamanha fúria contra quem têm feito esforço de sangue para não permitir que o crime tome conta da cidade. O risco, e ele agora sabe bem, de assumir posições paroxísticas, é ser contradito pela inexorabilidade dos fatos, realidade absoluta que desconcerta o discurso apaixonado.

“Não dá para fazer seminário com traficantes"!

O tráfico de drogas, como se apresenta no Rio de Janeiro, é a criminalidade na sua possibilidade mais abjeta, mais desumana, mais insensata e mais insana. Para as hordas da narcotraficância, nenhum valor humano tem supremacia sobre seu comprazimento no mal; sobre o gozo de seus instintos mais primitivos, promotores da dor do outro; dor física e dor moral.

Dia-a-dia, esvazia-se a tese anárquica da predestinação ao crime no desfavorecido social.
Não é verdade que a pobreza gera o criminoso.
Nem é verdade que a opulência, a abastança, promove o homem de bem.
Mas é hora de não se aconselhar com receios e ousar a paz para nosso Estado, mesmo que se tenha que enfrentar o próprio destino.
O tempo das relações promíscuas com o crime acabou.

sábado, 20 de outubro de 2007

Nós, os "Caveiras"

O sociólogo Luiz Eduardo Soares e o cineasta José Padilha selaram importante parceria, há poucos dias. Autores respectivamente de Elite da Tropa e Tropa de Elite – livro e filme -, eles formam a mais recente dupla de sucesso nacional na onda de suas criações, as quais, segundo disseram a um jornal paulista, em artigo recente, “nasceram e cresceram como obras distintas e autônomas”, mas com similitudes de essência que culminaram por propiciar-lhes identidade.

Num texto dirigido a segmentos sociais pertencentes aos níveis de ápice, as camadas de estratificação onde se acomodam intelectuais e eruditos, Luiz Eduardo e Padilha fazem crer que se anelaram numa empreitada pedagógica com a mídia, por recurso globo-facilitador, para lançar luz sobre algumas questões fundamentais à visualização da “barbárie em nome da civilização”, que imputam ao Batalhão de Operações Especiais da PM carioca, mas que parece não ter ficado muito claro, a considerar pela reação do público, e agora julgam conveniente esclarecer, a fim de não haver dúvidas sobre as intenções pretendidas na ficção e abstrações que um materializou em livro e o outro na sétima arte.

O que parece complicado é muito simples: as obras têm um condimento identitário, o horror, e nossos próceres culturais procuraram reunir forças para exibir suas imprecações aos comportamentos desviantes da razoabilidade imprescindível à natureza humana, consideração que prefeririam até relativizar, mas que por ora julgam previdente não refutar, em defesa dos direitos humanos contra violações e aviltamentos promovidos pelo BOPE, como garantem acontecer de forma contumaz, genérica e institucional. Daí as lições de moral no populacho que se deleita na paródia “metalingüística”, presente em suas criações, e que, por não decifrá-la, supõe-nos condescendentes com a vingança, pelas mãos do BOPE, contra o inferno produzido pelo exército das drogas, que há anos lhe tira a paz e mina-lhe as esperanças.

Os autores talvez tivessem até crido que isso não seria preciso, afinal tudo ia bem; o filme já é um sucesso estrondoso e o livro vende muito. O que fez com que as renomadas personalidades se adiantassem em explicar essa incursão pela arte mórbida, posando ora de Francis Bacon, e ora de Gilles Deleuze, foi justamente a necessidade de não se permitir acusações de imprevidência ideológica. Aos poucos, vozes aliadas nas cores das idéias que professam e que podemos enxergar no curso de suas produções tornadas públicas, emitem opiniões de dissonância sobre o conceito de suas criações; foi assim com o escritor peruano Daniel Alarcón e com o jornalista Arnaldo Bloch.

É disso que precisam se precaver; faturar com a fantasia do horror sim, mas com o cuidado de não parecerem burgueses insensíveis, anestesiados pelo lucro, cuidando, com as explicações em parceria, de livrarem-se de qualquer desconfiança que lhes recaia. É por isso que confundem ficção com fatos: o objetivo é atirar na cara dos Soldados do BOPE, e da população que aplaude o “sapeca iá iá” no lumpesinato bestial, a pecha de bárbaros, incivilizados, condescendentes e assassinos.

Nossos intimoratos norteadores de conduta moral, espécies de “grilos falantes” acima de qualquer suspeita, estão sendo vistos com desconfiança, e já sofrem acusações que variam de “reacionarismo à farsa”. Eles precisam imediatamente desenterrar e destruir qualquer semente de suspeita sobre suas intenções mais secretas e inconfessáveis; essas que não se apresentam no “dito”, mas que são captadas por experimentados estudiosos do psiquismo e criminologistas, mesmo quando dissimuladas (ou simuladas) por falsificações quase perfeitas daquilo que “não é”. Numa tese psicanalítica: “o que declaro não querer é justamente a minha intenção”.

Luis Eduardo e Padilha gostam de sangue, tortura e horror, mas como manifestação de entretenimento e cultura, a exemplo de Bacon e Deleuze, mas precisam, antes, imputá-las como fato a outrem, para não parecerem despretensiosos metafísicos da dor social. Nós, Caveiras do BOPE, gostamos de combater o mal que a pós-modernidade insiste não existir.

O José e o Luis não conhecem os fuzis. Não conhecem a guerra urbana real na qual vivemos e que mimetizam sob aplausos. Eles exibem o que refutam, em nome do belo. Eles expressam o que repudiam, em nome da arte.

Mário Sérgio de Brito Duarte é ex-Comandante do BOPE e Filósofo.

Publicado no jornal O Globo em 12 de outubro de 2007
Caderno Opinião - página 7



quinta-feira, 11 de outubro de 2007

REFLEXÕES SOBRE MILÍCIAS LOCAIS - CONTINUAÇÃO

A existência das milícias no Rio de Janeiro tem sua semente na inoperância desenvolvida pelo Estado, nos últimos vinte anos, em oferecer proteção aos policiais; seja no exercício da profissão ou nos atos comuns de suas vidas, como simplesmente transitar, residir ou se socializar.

A carreira policial se tornou de tal ordem perigosa para os agentes públicos, que o risco para si e para sua família deixou de ser uma ilação comum aos profissionais de polícia, mas uma realidade transmutada em fatos, desde que passaram a ser caçados e mortos nas vias, nos espaços de socialização e às vezes em suas casas.

O embrião das milícias se formou, pois, numa tentativa de autoproteção, quando policiais organizaram uma comunidade no bairro de Jacarepaguá, e na qual passaram fazer valer leis locais. O tráfico de drogas, principal atividade “inimiga”, já que são os narcotraficantes aqueles criminosos que mais atentam contra os policiais, foi exposto como antagonista principal, contra a qual a bandeira da organização social policial (que teria por conseqüência as milícias) deveria estar sempre desfraldada.

Logo, a organização ganharia adeptos em outras áreas, em outras comunidades, onde já residiam policiais, os quais organizariam grupos de autodefesas que, a fim de captar recursos para o pagamento dos “serviços” que ampliavam e tornavam mais complexos, passaram a estabelecer tributos cobrados da população; não exatamente em forma de “impostos e taxas periódicas”, como mensalidades, mas por meio de ágio (forma de sobretaxa) para comercialização de serviços, como distribuição de gás, participação na transação de imóveis e distribuição de sinais de tv a cabo, furtado, certamente.

Por ter uma bandeira anti-tráfico, as milícias foram conquistando terreno junto à população e um sem-número de pequenas comunidades passaram preferir-lhes à dominação do narco-negócio e, ante a hipótese de ter o traficante armado, drogado, violento, na sua porta, seduzido-lhes os filhos para seus exércitos, abriram as portas para sua presença e seus serviços irregulares de “segurança privada”, aumentando-lhes o poder e dando-lhes a visibilidade que já atravessa as fronteiras do país.

As milícias são organismos ilegais e ilegítimos, posto que cometem crimes como os apresentados, mas têm sido preferíveis ao tráfico mesmo pelos moradores das populações pobres, onde se instalaram e, principalmente, pelos policiais, já que nas áreas onde se estabelecem não ocorrem ataques, emboscadas, atentados ou qualquer tipo de ação intencional e premeditada contra suas vidas. A população, a seu turno, sente-se mais segura e livre das “balas perdidas”, que tanta vida inocente tem ceifado, além, com certeza, de beneficiar-se dos serviços ilegais, como a recepção dos sinais de televisão-a-cabo furtados, que lhes são vendidos a preços módicos.

As milícias não podem ser entendidas como um serviço complementar aos serviços da polícia, pois são ilegais e cometedoras de delitos. Onde as Polícias não mantém controle e ordem social, ou as comunidades estão sob forte influência de uma, ou de outra dessas forças ilegais, mas as milícias são o fenômeno em expansão e o tráfico em entropia.

O assunto “milícias” abarca outras questões, e uma delas é, seguramente, a ideológica. Explico: as milícias têm nos grupos de inspiração marxista, leninista, maoísta etc, empedernidos adversários; isso porque entendem-nas como “originárias da ordem”, oriundas, em grande parte, delas. Os milicianos são, ou foram, agentes públicos, quer sejam policiais, bombeiros, militares de qualquer Força, agentes penitenciários, guardas municipais, etc. Para esses grupos que entendem o processo revolucionário como instrumento legítimo de justiça social, o fortalecimento das milícias é um entrave aos seus planos, na medida que enfraquecem os braços do narcotráfico com os quais almejam contar numa eventual deflagração do conflito interno, como o protagonizado pela narco-guerrilheira das FARCS. Embora o modelo de aproveitamento do lúmpem não seja uma estratégia marxista, mas anarquista, em razão da falta de opções e incapacidade de angariar quadros para a almejada revolução – hoje mais fortemente acalentada em razão da esquerdização da América do Sul – os grupos de ideologia revolucionária não descartam seu uso como “companheiros de viagem”. Por isso, a existência do narcotráfico armado é fundamental para os quadros revolucionários, cada dia menos preocupados em camuflar suas intenções.

Em resumo, as milícias são estruturas de poder ilegal. Impõem-se pela força e haurem recursos financeiros a partir de expedientes ilegais, como ágios, sobretaxas, exploração e venda de serviços não autorizados. Elegem por inimigo o lúmpem; primeiramente o narcotráfico e, em seguida, os praticantes de roubo e furto, que atuam contra a população. Não entram em confronto com forças policiais, mas só agirão assim enquanto não romperem o limite máximo de suas violações, que é a narcotraficância ultra-rentável. Geralmente controlam as realizações sociais das suas áreas ou, no mínimo, interferem nelas, impedindo a realização de expressões culturais que julgam anti-sociais e de exaltação do poder adversário, como bailes funk e seus “proibidões”. Contam com a simpatia de considerável parte da população, não têm formação ideológica, são partidárias de políticas fisiológicas, populistas, e são consideradas inimigos formais e obstáculos cruciais ante uma estratégia que contemple a mobilização das armas do lumpesinato, para uma revolução.

Concluindo: Nenhuma dessas forças é legítima e, sem cegueiras e sem manipulações ideológicas, o Brasil precisa enfrentar e derribar as expressões da antidemocracia.
O Estado pode e a Nação merece.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Sarkozy, Relativismo e Ordem Pública

O texto abaixo é parte de um discurso do atual presidente da França Nicolas SarKozy. Foi proferido em Paris, no estádio de Bercy, lotado com 35 mil pessoas.

Embora não seja o seu discurso de posse, como pensam alguns, feito num tom mais ameno e de concórdia, permite a compreensão do que anseia o povo francês, após mais de três dezenas de anos de hegemonia do relativismo epistêmico que dominou a França pós-guerra.

O motivo de publicar excertos de sua fala, é abrir o leque das considerações no campo da Segurança Pública, a partir de uma reflexão de aspectos ideológicos que permeiam-na, e, que, no Brasil, não fugindo à regra de seguir os países considerados de primeiro mundo, empurrou os executores das políticas de segurança para um labirinto de postulados relativistas extremos, acuando a opinião divergente e intimidando o pensamento não-acadêmico, exclusivista.






Vou reabilitar o trabalho !


Derrotamos a frivolidade e a hipocrisia dos intelectuais progressistas; o pensamento único, daquele que "sabe tudo" e que condena a política enquanto a mesma é praticada. Desde 1968 não se podia falar da moral. Haviam-nos imposto o relativismo.

A idéia de que tudo é igual, o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, que o aluno vale tanto quanto o mestre, que não se pode dar notas para não traumatizar o mau estudante.

Fizeram-nos crer que a vítima conta menos que o delinqüente. Que a autoridade estava morta, que as boas maneiras haviam terminado. Que não havia nada sagrado, nada admirável.

Era o slogan de maio de 68 nas paredes de Sorbone: 'Viver sem obrigações e gozar sem trabalhar'. Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética.
Uma esquerda hipócrita que permitia indenizações milionárias aos grandes executivos e o triunfo do predador sobre o empreendedor; que está na política, nos meios de comunicação, na economia.

Ela tomou o gosto do poder. A crise da cultura do trabalho é uma crise moral. Vou reabilitar o trabalho.

Deixaram sem poder as forças da ordem e criaram uma farsa: 'abriu-se uma fossa entre a polícia e a juventude'. Os vândalos são bons e a polícia é
má. Como se a sociedade fosse sempre culpada e o delinqüente, inocente.

Defendem os serviços públicos, mas jamais usam o transporte coletivo. Amam tanto a escola pública, e seus filhos estudam em colégios privados. Dizem adorar a periferia e jamais vivem nela.

Assinam petições quando se expulsa um invasor de moradia, mas não aceitam que o mesmo
Se instale em sua casa. Essa esquerda que desde maio de 1968 renunciou o mérito e o esforço, que atiça o ódio contra a família, contra a sociedade e contra a República.

Isto não pode ser perpetuado num país como a França e por isso estou aqui. Não podemos inventar impostos para estimular aquele que cobra do Estado sem trabalhar. Quero criar uma cidadania de deveres.
SarKozy
Leiam, meditem, comentem.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A minha inesquecível promoção a Sargento




12/08: A minha inesquecível promoção a sargento
Categoria: General
Postado por: gustavoalmeida
Fui promovido a sargento. Sério. Por um dos comentaristas deste blog. Que usa, aliás, de bom humor na promoção, não me ofende (não sei se queria me ofender ou não, mas não ofendeu), e faz uma crítica até certo ponto construtiva, dizendo que estou defendendo demais a farda azul aqui neste blog. Concordo que às vezes passo do ponto – que o diga o tenente-coronel Mário Sérgio Duarte, a quem elogio muito por aqui, e outros tantos azuis como o coronel Ronaldo Menezes, o major Wanderby e outros tantos que se for citar, acaba até o espaço virtual. Curioso que, coincidentemente, citei três profissionais extremamente honestos, acima de qualquer suspeita. Bom, mas para explicar melhor algo que realmente acho que deve ser explicado – e neste ponto o comentarista do blog me abriu os olhos positivamente – vale uma pequena explicação. Talvez fique grande, mas, enfim, é pequena porque é um tanto irrelevante, é apenas um jornalista se explicando.O processo de degradação econômica do Rio de Janeiro teve como primeira grande conseqüência um caos social, uma desordem urbana em diversas instância, tal que a cidade há anos vive sob febres de violência. Entram governos, saem governos, a violência recrudesce, a guerra do tráfico faz mais vítimas, e além dos mortos e feridos, surgem vítimas silenciosas – recente pesquisa do Núcleo de Pesquisas da Violência (Nupevi), da Uerj, mostrou que são raros os cariocas que nunca ouviram um tiro e são muitos os cariocas que já foram assaltados ou no mínimo tiveram um parente ou amigo assaltado.Hoje, por mais que as autoridades municipais e estaduais tentem “elevar o astral” do Rio com Pan-Americano, com shows de artistas longevos, enfim, megaeventos de toda ordem, sabemos que esta é uma cidade doente. O crime, de recurso de sobrevivência, passou a ideologia. A exclusão sócio-econômica fez a primeira parte: empurrou pessoas para a sobrevivência pelo crime. Muitas esquerdas, no entanto, defendem o tráfico como “redenção dos pobres”, o que é um engano. Na verdade, é escravidão dos pobres. Mas tergiverso, voltemos ao assunto principal. Depois da primeira parte, quando o crime é sobrevivência, vem a segunda, que é o crime como cultura.Não há organizações criminosas que mereçam o título de “organizações” no Rio de Janeiro. Ora, que há um Amigos dos Amigos, sim, há, que há um Comando Vermelho, do mesmo jeito é inegável. Mas tivessem estas quadrilhas fundamentadas mais em ideologia do que em práxis um mínimo de organização e já teriam virado uma só joint-venture, uma vez que é mais lucrativo partilhar os dividendos do que contar os mortos. CV e ADA não guerreariam se fossem organizados. Analisariam investimentos, retornos, aplicações, faturamentos de pontos, reposição de armamentos, enfim, teriam uma logística tal que tomariam o Rio de Janeiro e nós, civis, em breve teríamos de nos comunicar dizendo expressões como “É nóis” ou “Já é”.As quadrilhas, portanto, ganharam "torcedores". Um jovem que more no morro onde tem ADA passa a ser um “torcedor” do ADA. Certa vez, eu passava de bicicleta pelo Túnel Novo, em Copacabana, quando vi um rapaz largar as duas mãos do guidão só para sinalizar o C e o V com os dedos para um ônibus lotado de “compatriotas”.Resumindo: a desordem urbana, já bem representada pelos camelôs (fruto de anos de desemprego e demagogia eleitoral) virou um ser tangível. Para que estudar, trabalhar, produzir, compor, salvar vidas, participar de uma vida em sociedade, se o sujeito pode apenas empunhar armas, fazer sinais de identificação com uma quadrilha e vender cocaína? Para que ter uma vida normal se nesta você é sozinho e na outra, ao lado dos “irmãos” de fuzis, você tem amigos dos amigos por toda a cidade?Passemos agora aos azuis, que eu “vivo defendendo”. A desordem urbana faz mal. Não sou partidário do "tudo certinho" - dentro de casa, o sujeito pode deixar de lavar louças, viver de cueca no sofá, beber o dia inteiro, o que quiser. Mas na área comum do prédio, é outra coisa. E nossa "área comum" está no CTI.No momento, no Rio de Janeiro, vejo a Polícia Militar como a primeira força de trabalho a participar da reconstrução da cidade. Vejam bem, me refiro ao policial de rua, e no momento em que ele não esteja tirando dinheiro da van ou do taxista, ou inventando infração para extorquir R$ 10 de motorista. Primeira providência é colocar a corregedoria para trabalhar e punir isso. Segunda providência? Aumentar seus salários a um nível decente para que a extorsão não seja mais tão sedutora. Mais sedutor, com certeza, poder olhar para os filhos bem-alimentados e dizer que trabalha honestamente porque ganha o que merece. Não dá para o sujeito ficar tirando R$ 10 de quem quer que seja na rua. Se for para fazer isso, vai assaltar de uma vez. É mais ousado e menos humilhante.Bom, mas, enfim, este policial de rua, bem-pago, bem-treinado e bem-equipado, no espaço urbano, passa a interagir com os moradores de um modo, bom, digamos, tem uma....palavrinha! para isso: comunitário. Em torno destes policiais se cria um círculo de confiança. É o Estado presente, armado, que possibilita, por sua vez, a circulação diurna e noturna, de forma ordenada. Há uma farda, há ostensividade. Com este policial e os restantes – me refiro ao modelo utópico, bem-pago, etc – passa a aparecer a oportunidade. O mercadinho da rua, a lanchonete, o barzinho da noite, tudo passa a receber mais gente. Abre-se mais negócios. Exemplo? O Maracanã. Coloca a Força Nacional, a PM, a PCERJ e a PF, pronto, reaparecem crianças, mulheres, famílias. É uma equação simples.Do mesmo modo é a outra: sem o controle do Estado e com a sedução do crime e da chamada vagabundagem, não há possibilidade de ordem. Há desmando, há descontrole, desaparece o pacto social por essência, entra em cena uma degradação que não beneficia nem mesmo aqueles que vivem da venda de cocaína. Que me perdoem, mas é uma vida de merda. Viver com milhares de paranóias para ter carros do ano e colares caros, existencialmente falando, é tão vazio quanto passar a vida como reserva do Ipatinga. E olha que, como rubro-negro, sei bem o horror que é o Ipatinga.Podemos, sim, reverter a situação do Rio de Janeiro. Mas a minha atual crença é de que isso não será possível sem o fortalecimento de sua Polícia Militar. Fortalecimento moral, financeiro, logístico, operacional. Junto com isso, há outras etapas e frentes de trabalho (diminuição de carga tributária, investimento em infra-estrutura, apoio a micro, pequena e média empresa, investimento em educação, saúde e transporte), mas, no momento, por absoluta falta de competência de governos sucessivos, estamos em um ponto no qual o fortalecimento da PMERJ é o item mais essencial. Só sobreviveremos com o gloriarolandismo, ou seja, tal e qual a Glória Roland, incentivarmos todos os moradores a cuidarem do pedacinho mais perto de suas casas. Em certos pedaços, os moradores precisam dos azuis por perto. Eu diria, em muitos pedaços. Por tudo isto, quero que a Polícia Militar do Rio de Janeiro fique forte para a missão dura que tem pela frente. Que cada um deles seja honesto como um Wanderby, bravo como um Príncipe, inteligente como um Mário Sérgio, líder como um Millan e cordial como um Menezes. A cultura do crime, de conquistar pela força, matar quem tem e quem não tem, assaltar, viver em gangues, tem de ser substituída pela cultura dos azuis, de tradição familiar, de raízes e perseverança.O sargento De Almeida terminou sua longa e entediante exposição e pede permissão para se retirar. Um bom fim de semana.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Um desafio chamado BEP

Os desafios enfrentados por nossa quase bicentenária PMERJ nesses dias de retomada e resgate, serão os marcos sinalizadores da coragem de nossos líderes, na sua determinação em modificar o anacrônico quadro de injustiças e desatenções de origem cultural, entranhadas na nossa instituição, não obstante o aprimoramento da base legal do país proporcionada pela Constituição de 1988.

Se é fato que há grande número de policiais militares com conduta desviante, que se materializam nos “achaques”, “acertos”, no recebimento passivo e na exigência abjeta de propinas, e por isso merecem o látego da lei, por outro lado é evidente que a simples proliferação da correição muito pouco ajudou para a reversão de tal quadro.

É óbvio que não advogo pela inexistência de correição. Aliás, ela é rigorosamente necessária. Todo sistema funcional hierárquico deve possuir sistemas de controle disciplinares. O que quero dizer, realmente, é que estancamos em nossa capacidade de produzir prevenções, inclusive nos desvios dos nossos homens. Paramos no tempo por pura preguiça física e mental, ou, talvez, por idiossincrasias e receios de enfraquecimento no poder; daí termos transformado fatos também de ordem social em questões meramente individuais ou jurídicas.

Seja como for, os dias são outros e são céleres. É claro, o tempo, fisicamente falando, é cronometrado como sempre o foi. Todavia, no mundo globalizado, de informações on line, devemos reconhecer que o cronos se nos parece acelerado. Daí, quem não quiser perder o barco da história deve adiantar-se ao apito sinalizador de sua partida.

Faço essas considerações para abordar a questão do Batalhão Especial Prisional, o BEP/PMERJ. Como é sabido, por força de lei (sem enfocar exatamente conceitos jurídicos) o local onde o militar deve permanecer preso, nos casos de cometimento de crime, e antes de sua exclusão da Corporação, é o quartel. Não estou declarando que tal deva ser a sua Unidade de Origem, ou seja, o lugar onde está ou estava classificado, ou servia, como queiramos, mas um dos quartéis de sua Força, consoante a orientação da instituição. Durante muitos anos a PMERJ adotou um duplo sistema: alguns presos permaneciam na própria Unidade, quando aquelas possuíam instalações compatíveis e suficientes e, outros, permaneciam encarcerados no Batalhão de Polícia de Choque, por outros motivos que relatá-los seria por demais extenso, já que muitos e variados motivos o determinavam.

Ocorre que o número de policiais militares presos, aguardando decisão judicial e disciplinar sobre suas permanências na instituição, cresceu assustadoramente, fazendo com que o Batalhão de Choque perdesse sua principal característica e se transformasse numa grande Unidade Carcerária, acarretando sérios prejuízos para a sua atividade fim.

E então a PMERJ promoveu o que acreditava ser uma solução. No fim do ano de 2004, de um dia para outro, sem qualquer preparação e cuidados, transferiu todos os policiais militares presos judicialmente para um prédio do bairro de Benfica, onde até dias atrás funcionava um “centro de custódia de presos comuns”, e que fora palco de uma das mais bárbaras rebeliões da história carcerárias do país, quando facções diferentes digladiaram-se, e mataram-se, transformando o local num rio de sangue e cabeças decapitadas.

Atirados naquele local, naquelas condições desumanas não aceitas sequer por bandidos das odiosas facções, os PMs, entre eles muitos que logo seriam postos em liberdade e reintegrados aos serviços normais da Corporação, por comprovadas sua inocências, não suportaram o impacto de serem postos atrás daquelas grades de paredes rabiscadas com as siglas dos bandos.

Tentando respirar a nova situação, ainda nos primeiros momentos de suas chegadas, uma gota d água foi colocada em sua dignidade: Pratos e copos de plástico lhes foram entregues e TODOS tinham a sigla das facções.


O prejuízo da revolta motivada nos policiais militares custodiados, foi solucionado como historicamente se faz na PMERJ: um IPM foi instaurado para se apurar a responsabilidade...dos presos.

Isso foi há quase três anos.

Tínhamos razões suficientes para modificar a situação carcerária no BPChoque e das demais Unidades? Sim, tínhamos. Era crescente, preocupante e exigia solução.

Todavia, mais uma vez optamos pelo desprezo ao homem. E, pior, pelo desprezo à sua família.

Não vou repetir a maioria das coisas que ouvi de uns poucos integrantes da nossa corporação que estavam no local (eu estava lá como comandante do Batalhão da área), mas há algo que jamais esqueci: Quando declarei a minha preocupação com os familiares dos presos, que passariam risco de vida transitando naquela área de favelas dominadas pelo narcotráfico; quando declarei que, muito mais que a dignidade dos presos, violada na forma como tudo se deu, com desprezo à historia ainda recente do horror daquele local, havia uma preocupação com seus filhos, esposas, entes queridos de qualquer filiação, ouvi alguém dizer: eles não pensaram na hora de errar e você agora é que pensa por eles?

O BEP é uma Unidade necessária, mas sua localização requer revisão.

Esta é a constatação de um equívoco do passado, e não o julgamento “do todo” de um Comando, de uma gestão que por certo cometeu acertos e erros.

Estou convicto que encontraremos uma solução. Uma solução desapaixonada, técnica, factível, que revele nossa preocupação com “o maior patrimônio da PMERJ”, e, acrescento, “com sua família”, mesmo quando a sementeira do erro que proporcionaram tenha-lhes inflingido colheita penosa e triste, além de vergonha para a Corporação.

Nosso Comandante Geral, Coronel Ubiratan, tem muitos desafios, entre eles vencer a sedução dos vapores das sombras que insistentemente se apresentam como braço amigo, mas são fontes de água contaminada envenenando o sedento desprevenido. Ele saberá vencê-los, sim, todos, se olvidar o convite ao ódio que a cobiça disfarçada de ideários espalha, e um dia poderá ser reconhecido como o grande modelo a ser seguido e o exemplo a ser imitado.

Pensar no BEP agora é evitar muitos arrependimentos amanhã.
É o futuro se avizinhando mais justo e mais equânime.
Somos uma Corporação de Bravos !

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Liberdade para o Alemão


Nos últimos vinte anos a escalada da violência perpetrada por criminosos envolvidos com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, tem preocupado tanto o cidadão comum, quanto estudiosos, governantes, jornalistas e agentes da lei.

Os efeitos do descontrole histórico da segurança pública são tão dramáticos, que já não podemos dizê-los próprios de tal campo.

Uma observação atenta ao que tem se passado em nosso Estado, com destaque para as áreas onde estão localizadas as favelas, irá revelar que a evolução do medo abarca alguns vetores comuns aos “conflitos armados”, semelhantes aos ocorridos em países e territórios envolvidos em guerras internas, com significativo número de mortos entre contendores e inocentes.

No caso carioca, cuja cidade até o início da década de oitenta ainda apresentava uma regular normalidade no seu aspecto segurança, uma combinação explosiva de fatores foi determinante para a proliferaçào de criminosos em nova faceta.

A vulgarização da cocaína, conquistando mercados nas camadas mais pobres da população, fermentada pela chegada dos fuzis e outras armas de guerra, promoveu, duplamente, grande lucro e poder para as quadrilhas que se formavam.

Em pouco tempo, desavenças internas nos bandos deram origem a dissensões e disputas por áreas rentáveis, ocasionando conflitos armados que exigiam pronta resposta dos organismos policiais, em defesa dos moradores, acuados entre o fogo cruzado dos marginais.

Entretanto, despreparadas e desautorizadas, as polícias nunca conseguiram empreender campanha efetiva para prevenção do caos que se avizinhava, concorrendo para que a segurança pública servisse muito mais como ingrediente para confeitos políticos sedutores em época de eleição, e não como objeto real das preocupações dos gestores, exercendo, assim, por inação, papel definitivo para transformá-la num macro-problema.

Por anos, seu enfrentamento, aceitando o desafio de desgastes e danos colaterais, foi postergado, e, um sem número de experimentos para controle da criminalidade foi testado a partir de fórmulas excêntricas, idealizadas por intelectuais ancorados em curiosa episteme sociológica, de tudo explicar pelas desigualdades sociais.

Assim, chegamos aos nossos dias mergulhados numa desordem aterradora, cuja solução só será possível pela realização de esforços conjugados dos poderes legais e legítimos, e da população, a partir de uma visão realista da gravidade da situação e dos ingredientes psicossociais que lhes compõe o quadro.

Primeiramente, é preciso reconhecer que os bandos possuem instrumentos de guerra, como fuzis, granadas e minas; também, que sabem se conduzir como pequenas frações de infantaria, o que inclui “conduta de patrulha”, evacuação de feridos e uso de radiocomunicação; que se estabelecem estrategicamente no terreno, dominando-o e mantendo o controle da população; que utilizam o terror como forma de intimidação, assassinando, fria e barbaramente policiais, adultos e crianças inocentes, imolando, esses últimos, em ônibus que incendeiam, com indiferença bestial. Além disso, nos últimos anos desenvolveram uma odiosa identidade cultural que inclui: músicas louvando terroristas internacionais e seus feitos; assassínio - com tortura e secção de membros do corpo dos “inimigos”, ainda vivos, para alimentar animais famintos; homicídio de desafetos e “suspeitos” em pneus incendiados, macabramente apelidados por “micro-ondas”; uso de expressões, gestos e palavras provocativas com identidade de grupo, francamente reveladas pelos sites de socialização da internet, principalmente o Orkut, onde se exibem ao lado das cabeças decapitadas dos inimigos.


Sem dúvida, vivemos um conflito urbano armado. É menos do que uma guerra convencional, mas é muito mais do que um simples quadro de ordem pública que possa ser tratado com instrumentos tradicionais.

Para enfrentá-lo, precisamos bem mais que aplicar modelos de policiamento ostensivo importados do exterior, pois não condizem com nossa realidade.

Se quisermos modificar, definitivamente, essa realidade, devemos aceitar o desafio sem receios, e libertar, ainda que com o “uso da espada”, a população das garras do crime, como estamos fazendo no Complexo do Alemão, livrando-a do horror.

Se quisermos ter a consciência tranqüila, livre do arrependimento comum aos que se escondem em falácias sedutoras, com as quais camuflam inépcia e incompetência, temos que ousar a liberdade, ainda que chorando a dor dos que ofereceram a própria carne ao encontro do aço, como fizeram os policiais que lá tombaram nesses últimos meses, regando com sangue e honra o solo, para a semeadura da paz.

O Complexo do Alemão será liberto. Ele pertence ao Rio.

Ele pertence ao Brasil.

Mário Sérgio de Brito Duarte
Tenente Coronel PM
Ex-Comandante do BOPE

Publicado em em 29/06/07
Caderno Opinião - O Globohttp://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/81730/1/noticia.htm

O Estado é Maior

Solicitei do jornalista Gustavo de Almeida, do JB, sua permissão para reproduzir o artigo adiante.

Imperdível! Confiram!


A gente dificilmente percebe a História – este é um defeito, inclusive, de nós, jornalistas. Acostumados ao dia-a-dia maçante, às milhares de promessas não cumpridas, ao discurso sempre repetitivo das autoridades, estamos acostumados a escrever para o peixe da feira: aquele papel vai virar embrulho e tudo vai voltar à normalidade.Normalidade, no Rio, quer dizer o seguinte: gente pobre sem direito a segurança porque a polícia não entra nas favelas. Porque os DPOs ou são arregados ou estão em constante ameaça. Resultado? O poder paralelo, o traficante, armado de fuzil, G-3, antiaérea, granada, impõe sua vontade, invade a casa, destrói a família, corrompe a criança, estupra a mulher e mata o pai. Ou expulsa todo mundo, como na primeira história que postei aqui no Santa Bárbara e Rebouças, há um ano, no dia 13 de junho.Recordando; um ex-técnico da Telerj tem a casa, que é perto da favela, invadida por traficantes, é ameaçado e vira funcionário do tráfico, é obrigado a grampear telefones para evitar que os moradores façam denúncias. Eu disse que é obrigado? Não, porque ele pôde fugir, e fugiu.Mas com milhares de cariocas não é assim: o traficante armado manda, coloca a arma na cara e o jeito é obedecer. Entretanto, o maior prejuízo mesmo não é nem com essa coação armada, e sim com a expansão de uma “cultura do tráfico”, do pobre que leva vantagem, da sensação de grupo social que as facções criam. Em suma: “Eu sou do Comando Vermelho, eu tenho amigos que matam, portanto sou visível e existo”. Ergo sum.Uma cultura daninha que vai se espalhando, por meio de gírias e linguajares, criando no carioca uma tolerância abjeta ao narcotráfico e seus subprodutos. Esta, atualmente, é a nossa História. O Rio virando uma outra coisa – não às casas simples com cadeiras nas calçadas, com flores tristes e baldias, não à orla de Tom & Vinícius, mas sim uma propagação virótica de um comportamento e linguajar da violência, um “já é” para lá e um “é nós’ para cá, como se nossos objetivos existenciais mais profundos fossem ter armas, seqüestrar pessoas, impor a força, impor a violência.Enfim, chego ao ponto: o dia 27 de junho de 2007 será tão guardado na história como o 13 de junho de 1994 para a História do Rio. Se no dia de 1994 acabou simbolicamente o poder paralelo paternalista com a morte de Orlando da Conceição, o Orlando Jogador, pode-se dizer que, com o enfrentamento do tráfico no Alemão, em 2007, no mesmo mês de junho, o delegado PF José Mariano Beltrame começou a acabar com o próprio poder paralelo.É claro que este não acabou, e nem vai acabar neste governo. De jeito nenhum. Mas foi dada a largada oficial, a ruptura ousada. A Secretaria de Segurança arcou com os prejuízos políticos e com todos os desgastes possíveis de uma ação violenta com o intuito único de dizer: o Estado é maior que vocês. O povo organizado, formal e que trabalha é maior do que vocês. Vocês vão se enquadrar – parar de seqüestrar, de ameaçar os outros pelo telefone, parar de assaltar, de atirar, de matar. O Estado é maior do que vocês.Beltrame, gaúcho de Santa Maria – me corrijam se não for esta a cidade – é como um legítimo estrangeiro, um ser não crente naquele estado de coisas. Quando digo não crente estou me referindo a alguém incapaz de aceitar passivamente a frase “Ah, é assim mesmo”. O olhar estrangeiro do delegado PF José Mariano Beltrame foi fundamental para a insistência praticamente louca (em termos políticos) em se manter no coração do Comando Vermelho. Para Beltrame, não há como uma favela ter quatro armas anti-aéreas de guerra, armas militares. Não há como uma favela ter 15 mil cápsulas de fuzil 762 (como foi apreendido mês passado). Não há como uma favela ter snipers.A realidade dele, de gaúcho de Santa Maria, não assimila uma loucura destas. Daí a insistência no Complexo do Alemão, mesmo debaixo do já previsível e normal fogo da OAB, da Alerj, das comissões todas – pessoas que trabalham honestamente, honradamente, mas que nada fazem para impedir que outros sejam vítimas de seqüestro-relâmpago ou extorsão telefônica, por exemplo.O delegado PF José Mariano Beltrame provavelmente deve ser esquecido, na correria do dia-a-dia, assim como este dia 27 de junho. Ambos, injustamente. Afinal, foi inaugurada uma era, a do Estado Maior.
Gustavo de Almeida

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Tertium Non Datur (Não há Terceira Hipótese)

As ações dos órgãos da Segurança Pública do Estado no Complexo do Alemão, estão, definitivamente, integradas à história futura da cidade do Rio de Janeiro como marco sinalizador de uma política vigorosa de combate ao crime.

Decisivas para retomada do controle de áreas tomadas pelo narcotráfico, as operações levadas a efeito pelo BOPE, pela CORE e pelo 16º BPM, não apenas objetivam realizar apreensões de armas e drogas, além de prisões dos criminosos em flagrante delito ou com prisão decretada, mas libertar, de uma vez por todas, do jugo perverso e cruel dos bandidos, aqueles espaços geográficos reintegrando-os ao território nacional, já que hoje mais se assemelham a uma pátria invadida e dominada.

O paradoxo aparente em se dizer que algo “já existe” no futuro, deve ser compreendido na dimensão de sua importância evidenciada nos registros proliferados de mídia, que vão, de sua parte, eternizando os fatos e seus agregados relacionais. A imprensa, como sabemos, desde que os combates tiveram início, se mantém de plantão no local, em busca de notícias sobre os movimentos dos contendores e tudo mais que lhes possa ser relacionado. Dessa forma, mantendo no presente, pela notícia, cada acontecimento que se liga ao evento, cria uma expectativa de tempo transcendente, adiantando-o, e permitindo-nos uma antevisão: “o que fazemos agora, ecoará no futuro”.

É bom, todavia, esclarecer, que o Complexo do Alemão não é uma região apartada do mundo em que vivemos, que transitamos e socializamos nossos atos e intenções. Não é um espaço infernal em si, mas seus moradores, de imensa maioria produtiva e legítima nos propósitos, nas angustias e ânsias de justiça, já de muito foram atirados e mantidos cativos numa espécie de afasia atáxica, pela bandidagem que forma o lumpem parasita local.

Esse estado de dominação espiritual fomentado pela cultura do crime – e ouso dizer, do mal – afoga a população num caldo de ingredientes permissivos que lhes embota a vontade e a visão, fazendo-os naturalizar o animalesco-bestial, a ponto de não lhes divisar a estrutura odiosa que atenta contra suas liberdades. A cultura do banditismo que lá grassa, está se espalhando pelo Brasil, com risco de se tornar um mal endêmico, pois avança solertemente entre a população mais jovem, de qualquer classe, ora assentada sobre uma filosofia hedonista que conjuga sexualidade, pulsão de morte e ausência de educação formal, ora incentivada pela ausência dos freios da punibilidade que deveria haver em qualquer sociedade onde lei e ordem são realidades e não ficção. Junte-se a isso as ações quase desapercebidas de ONGs que sonham utilizar a mão criminosa e as armas do tráfico, em favor de uma revolução social que julgam se avizinhar, e um mosaico de dores e sofrimentos para a nação brasileira é montado agora, para nossa maior infelicidade amanhã.

Assim, urge que nos apressemos e as polícias estão fazendo sua parte. É claro que sendo o terreno limpo, asseado pela erradicação do tráfico no esmagamento do seu braço armado, é preciso em seguida ocupá-lo, definitivamente. Estamos retirando a erva daninha para que as boas sementes possam aflorar e florescer, mas é preciso manter a profilaxia do campo o tempo todo. É preciso que a polícia não se vá nunca mais; que permaneça no Complexo para sempre, não permitindo o retorno dos bandidos como expressão de poder. É preciso que essa ocupação represente a força, a capacidade do Estado em prover segurança, sem ser ameaçado ou acuado. É preciso que essa ocupação seja intimidação para qualquer bandido, e alívio para a imensa e esmagadora maioria de pessoas de bem, moradores desses locais.
É preciso que não nos aconselhemos com receios e assumamos os riscos e danos colaterais; mais explícitas do que as palavras do governador Sérgio Cabral sobre os narcotraficantes, impossível: - São terroristas, gente do mal.

É uma oportunidade que não pode ser atirada ao ralo. Ou ocupamos de vez ou deixemos os moradores entregues aos traficantes, mas vivos: Tertium non datur

É o nosso dever de casa.
Façamo-lo, pois.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

A Patrulha Segue em Frente

Pertinente e justo o protesto do Tenente Coronel Pinheiro Neto, Comandante de BOPE, contra a fotografia publicada no jornal O Globo, do dia 04 do corrente, exibindo o holocausto do Soldado Wilson, do Batalhão de Operações Policiais Especiais, mortalmente ferido, quando avançava em meio a uma troca de tiros entre o BOPE e narcotraficantes da Vila Cruzeiro, tentando romper a linha de fogo inimiga.

Como líder atento aos reclames de sua Unidade, o Oficial Superior conversou, no último sábado, dia cinco de Maio, com um grupo do periódico que se encontrava cobrindo mais uma etapa da operação que a Unidade Especial está realizando naquele local.

Pinheiro Neto buscou mostrar-lhes o desserviço à população do Rio de Janeiro, que é exibir uma fotografia com tamanha carga emocional descontrutiva e, que, sob nenhum argumento, há de promover informação e conhecimento. Mostrar um bravo policial agonizante só pode interessar ao tráfico e seus áulicos. Pinheiro Neto protestou e O Globo exibiu-o, na edição de hoje, 07 de Maio, por constrangedor aos jornalistas ao declarar-se indignado.

É a inversão da verdade. No caso em questão, constrangedor foi o GLOBO.

Aliás, abaixo transcrevo, na íntegra, artigo de minha autoria encaminhado ao Jornal do Brasil e publicado na página A9, do Caderno Cidade.


Morte não foi em vão

Logo cedo, lendo os jornais que adquiri na primeira esquina onde havia uma banca, quebrando uma rotina confortável de conhecer as notícias por um release, me deparei com uma fotografia do Soldado Wilson, meu ex-comandado do BOPE, mortalmente ferido e sendo retirado da linha de fogo que tentara romper, na Vila Cruzeiro. Arriscando-se a ser igualmente alvejado, arrastava-o, num gesto heróico, o seu companheiro de equipe, o Soldado Ros.

O retrato impactante da morte, aliás muito comum em jornais sensacionalistas, contrastando, incompreensivelmente, com a linha editorial do Globo, causou-me profunda impressão. Wilson era um desses vocacionados para a ponta da patrulha, ou seja, para ser o primeiro homem do grupo a ter contato com a presença do opositor. Mais do que fazer bem sua função, gostava disso. Conjugando coragem e sentimento do dever, não se detinha pela possibilidade iminente do combate, agindo da mesma forma sob fogo cerrado. Cumpria, com risco da própria vida e com lealdade, seu juramento de policial e militar.

Qualquer que exerça a profissão policial no Rio de Janeiro, nos nossos dias, sabe que a morte ronda e perscruta.

Vivemos um conflito bélico e o BOPE é um excepcional gládio de guerra. Alguns “especialistas em segurança pública”, mormente aqueles que da agrestia do delito só conhecem as descrições contaminadas de indivíduos com interesses no crime, dirão que “esta afirmativa é uma clara demonstração da mentalidade reacionária e conservadora, que evidencia a face violenta da polícia”. É fácil dizê-lo: eles não conheceram, e nem conhecerão, a verdade pelos olhos do soldado Wilson, ou do soldado Ros, que o retirou da linha de fogo.

Vivemos uma guerra desigual, em que só uma das partes – as polícias - têm obrigações de ordem legal, moral e ética para cumprir. Uma guerra com armas e condutas características das encontradas nos conflitos entre nações, estados, nas guerras civis - insurrecionais ou revolucionárias - mas motivada pela insanidade de algumas bestas humanas, com a complacência de considerável parcela da elite intelectual. Uma guerra em que o “exército do pó” utiliza crianças como escudos para fugir a ação da polícia, quando não busca ferir, intencionalmente, os moradores, mobilizando, logo em seguida, aqueles mesmos, para manifestações contra “a violência policial”.

Vivemos uma guerra com os modernos observadores da benemerência onguista, mediando em favor de um lado só, o do crime, e atacando, com todas as suas armas de pressão política e manipulação da informação, o lado representado pelo Estado; seja quando busca resguardar a vida dos seus integrantes, dando-lhes viaturas com blindagem protetora, ou quando exercem, legitimamente, seus misteres, buscando desarmar criminosos em seus territórios de atuação.

A morte do soldado Wilson não vai abater os homens do BOPE, não obstante a saudade que sua ausência deixará. Seu sacrifício pela sociedade vai se multiplicar em luta, como bem disse o Secretário de Segurança, doutor Beltrame.

O aguerrido Soldado Ros assumiu a ponta. O Tenente Coronel Pinheiro Neto, seu Comandante, já sinalizou a direção.

A patrulha segue em frente.

Mário Sérgio de Brito Duarte é Tenente Coronel PM e ex-comandante do BOPE

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O trinômio ONGS, IDEOLOGIA E ANONIMATO: bases do Projeto (de poder) 200 Anos.



Um grande desafio ao escrever um blog é evitar as armadilhas do “confete sobre si”, essa tendência que temos em nos apresentar com credenciais de maior hierarquia, acima das que possuímos, fazendo papel de folião e não de pensador, ou de articulista. Outro, é se apresentar como vítima, em caso de ataques sobre nossos pontos de vistas e contra nossa pessoa. O debate de idéias prevê, por lógico, a oposição.

Evitar isso não é fácil. Possuímos particularidades; estilos. Eu gosto de transitar no antigo. Tenho um gosto pela “velha maneira de escrever”, com palavras de uso corriqueiro em anos passados, mas esquecidas e quase sepultadas no presente. É bem certo que isso faz pensar que se trata de um exercício erudito, tão somente. Como eu disse, é difícil fugir às armadilhas de “si mesmo”, e, da mesma forma, das arapucas dos impulsos em fazer-se vítima inocente de tudo.

Tenho procurado debater idéias e discutir ações de Segurança Pública. Não tenho me ocupado em desqualificar pensadores opositores, como pessoas, mas apontar falácias e impropriedades no que alguns apregoam e praticam. Quando rompem, todavia, a barreira do aceitável, eu os cito, como fiz com um Coronel de São Paulo.

Todavia, em respeito aos comentários postados neste blog, por conseqüência da atitude do “projeto 200 anos” contra minha pessoa, sinto-me na obrigação de respondê-las (às postagens) imprimindo um tom diferente de como o fiz até agora, com informações sobre meus atos ao longo da carreira, aqueles nascidos na minha consciência e pela compreensão das minhas obrigações, mas que não me tornam melhor do que ninguém. Este texto objetivará responder a alguns dos comentaristas que se permitiram discutir idéias, e que por isso merecem meu respeito.

Primeiramente, gostaria de agradecer à postagem do amigo Valdir:

- Não sei quem é a pessoa que se identificou como Tenente Bruna; nem a qual Quadro pertence; ou mesmo se é oficial da PM; mas, como seu desabafo não rompia os termos da urbanidade eu o publiquei. Pelo que entendi, ela saberia quem estaria por traz do blog 200 anos. Será? De qualquer forma, agradeço-lhe e me regozijo de poder ser relacionado como seu amigo.

Ao Major Wanderby, digo o seguinte:

- Reitero a grande admiração e respeito que tenho por vossa pessoa, Oficial Superior da PMERJ da melhor estirpe. Tive a honra de cursar o CSP com você. Reconheço e subscrevo vossos textos técnicos, acerca da Lei 9099, e a lavratura do termo circunstanciado pela PMERJ. Faço fila com vossas idéias sobre o entendimento jurídico que estende à nossa Corporação – e aos nossos policiais - a competência para tal ato. Mantenho a expectativa de uma solução em favor da população do Rio de Janeiro, com a autorização para lavratura do auto, pela PMERJ. Agradeço a clara demonstração de apreço, até porque, por já havermos servido juntos, você conhece bem minhas limitações e meus infinitos defeitos.

Ao Rafael, digo o seguinte:

- Para que entendas melhor a questão, deves ler todos os dois blogs, na íntegra.

Para o anônimo que inicia a postagem com a expressão Sr Oficial, e pede que eu apresente 10 mentiras postadas no blog 200 anos, esclareço o seguinte:

- Inicialmente, agradeço a postagem e o tom respeitoso com que se dirige a mim, com uma questão bem formulada. Suponho que o Sr seja Praça da PMERJ, e, vossa inquirição é, por isso mesmo, de suma importância, pois propicia dirigir-me ao grupo que mais sofre com a institucionalização do denuncismo anônimo contra policiais, para o que, hoje, não faltam ouvidos e tinta em razão de tantos Órgãos com esse fim, além de gente destinada à busca incansável da “culpa” do denunciado (anonimamente, na maioria das vezes). A PMERJ, pela repetição de práticas pouco refletidas, em razão de hábitos de longas datas, mesmo antes da proliferação das “ías” (as Corregedorias, Ouvidorias, Delegacias [de Polícia Judiciária] e Inspetoria [providencialmente extinta]), na expressão do Tenente Coronel Príncipe, em sua pertinente crítica ao sistema de controle disciplinar que permite a execração moral do Policial Militar antes de qualquer condenação, tem privilegiado uma pretensa “transparência” que exibe um “anticorporativismo”, mas que muitas vezes acaba promovendo um linchamento das reputações de homens não julgados e não formalmente acusados, não raro cometendo injustiças de difícil reparação. A PM resiste às mudanças. O problema não está no profissional que trabalha nesses Órgãos, mas na visão unicamente jurídica e pétrea, em razão da maciça formação em Direito, (não contrapondo com outros saberes), dos oficiais e praças que trabalham nos organismos correcionais.

- Exemplificando o que quero dizer, no ano de 2005 encaminhei uma proposta ao Comando da Corporação, sugerindo que não fossem publicadas, na 4ª Parte do Boletim Ostensivo da PMERJ, soluções de IPM com indiciamento de Praças. Visto que por força de uma orientação regulamentar extra-Corporação, mas de uso nela, os nomes de Oficiais indiciados são preservados com publicação em Bol Reservado, não veiculado na Internet, e, por tal razão, não expostos à leitura e julgamento antecipado do público, propus que tal preservação se estendesse às Praças; não há nenhum impedimento para tal. Todavia, nunca recebi resposta e, até hoje, a cultura (muito mais do que o legalismo) tem vencido a disputa entre a vontade de mudar e o conforto de não se arriscar.

- No mesmo ano encaminhei um requerimento solicitando informações sobre a interpretação do exposto no RDPM, sobre prazos para publicidade de recursos. Como toda pessoa com alguma formação em Direito sabe, os prazos para despachos de autoridades em recursos são estabelecidos para benefício do acusado. A PM, todavia, prefere interpretá-los noutro sentido, ou seja, como em defesa da Instituição. Prefere “entender” que despachar não é decidir, já que existe a hipótese do despacho de encaminhamento etc. Ou seja, transforma uma questão semântica em exegese de Direito. Por conseqüência, um recurso de um soldado às vezes leva dois anos para ser apreciado.


- No ano passado, encaminhei, também, uma proposta ao Comando para que a Corporação não aplicasse – salvo casos muito específicos – o RDPM contra inativos. É algo anacrônico, ilógico. A disciplina militar, como sabemos, possui o instituto dos seus regulamentos para serem utilizados para “ortopedia do membro”. Chamamos “Corpo de Tropa” justamente por isso.

- Ora, veja bem, a PM corrige o membro que não articula!!! Que não pertence mais ao Corpo!!! Por ter sido dele “desligado” (expressão oficial), já não serve na ativa (o PM da ativa serve em algum lugar; nas Unidades e Órgãos). Aplica, na realidade, uma vingança. A PM chega a ponto de submeter a Conselho, as Praças Inativas. Embora o texto seja claro, indicando que o CD é para ser aplicado ao pessoal das FILEIRAS (grifo meu), e que não há interpretação diversa, seja na vida Castrense ou mesmo nos dicionários, do que sendo o pessoal da ATIVA (grifo meu). Todavia, é evento comum famílias ficarem sem seu sustento porque um velho Sargento, com muitos anos de inatividade, praticou um delito que afetou o pundonor da classe, ele que não mais representa a classe, como ente de serviço público.

- Embora, meu prezado comentarista, alguns estejam lutando para que tal quadro mude, a inércia promovida pela chamada “cultura” é de difícil modificação. O problema não está nas pessoas, nos líderes. As raízes são muito profundas. Arrancá-las exigirá um grande esforço: “músculos” poderão se romper, porque são poucos os dispostos a se apresentarem francamente para fazê-lo. A comodidade costuma apelar para uma construção social chamada: “legalidade”. - Está na lei! – dirão.

- Mas, se a antiga cultura já serve de freio a qualquer mudança em favor da defesa do “maior patrimônio da PMERJ” (você não tem escutado isso?) pior agora, com outra que se implanta com a proliferação, pautada externamente, da “correição in dúbio pró-administração”, fenômeno dos últimos quinze anos.

- E com o denuncismo anônimo??!!: - Mil vezes pior! Quantos já não foram punidos, excluídos, desmoralizados por caluniadores covardes!?

Mas, não agir no anonimato: quais são os riscos?
Eles existem?
Claro!


- Veja: em 1994 escrevi uma carta que foi publicada pelo jornal O Dia com o título: NEM PROPINA, NEM POR PENA. Nela eu criticava o sociólogo Betinho e o Governador do Estado. Assinei e me identifiquei como Capitão PM. Resultado: detenção sem nota de culpa, portaria, e punição verbal, com proibição de falar com a imprensa. No mesmo ano, escrevi para o Globo, com identificação e posto; dessa vez, em razão de uma matéria depreciativa do jornal contra a Unidade em que servia. Resultado: fui chamado ao QG, que deveria defender o Batalhão, e recebi um ultimato. Em 2003, escrevi um artigo ao Globo refutando a inspetora Marina Magessi. Ela havia se reportado à PM de forma que achei depreciativa, no JB. Não concordei. A PM se calou, eu não. O título do texto foi: Há crime Organizado; Alguém duvida?

- No ano passado escrevi um artigo para O Globo defendendo o uso dos Blindados (Opressor é o Tráfico: Não o Caveirão), e outros dois para o JB, intitulados "quem tem medo do Blindado do BOPE?", e, quando dei início ao Blog, quase fui preso (tiver que explicar por escrito), por apresentar uma análise sobre as milícias (leia: MILÍCIAS LOCAIS NAS FAVELAS DO RIO, no blog), não me permitindo pautar pela mídia. Mostrei que se há pontos negativos em sua existência, há, todavia, pontos positivos, em especial para a segurança dos Policiais. Só, companheiro, que por questões ideológicas o projeto desprezou tais análises; empunhando, mascarado, uma falsa bandeira da moralidade, nunca promoveu tal abordagem para demonstrar que os Policiais estão se defendendo quando se organizam em seus bairros, e, do contrário, chamaram a tudo de POLÍCIA MINEIRA, misturando medidas de proteção com o banditismo dos grupos de extorsão e achaques, que, de fato, existem também.

Mas, será que não existe uma forma de usar o anonimato razoavelmente?

- Creio que sim, e tenho acompanhado o Alvo da Chibata vendo que o blog aborda assuntos profundos e de interesse. Ganhou em importância e respeito. Da forma que é escrito, nem necessitaria do anonimato (exceção para alguns comentários)
- O Alvo da Chibata postou um artigo do Juiz Auditor de Minas Gerais excelente. Concordo plenamente com o magistrado e foi por isso que o convidei para fazer palestra na Academia quando lá comandava, por sugestão dos Cadetes, incentivados pelo Sub Comandante, Tenente Coronel Robson.


- Assim, honrado postador do meu blog, ao responder-lhe ratifico da minha disposição para lutar contra o que julgo inaceitável.

- Defendo a minhas idéias francamente, como:

Não gosto do Onguismo ideologizado, que nos desqualifica e rotula, e sempre deixei claro não concordar com a influência do movimento Viva Rio, há anos e por vários Comandos, na nossa PMERJ, “ensinando-nos a trabalhar”. Isso me torna inimigo pessoal do Sr Rubens César? Estou certo que não, mas não me importo em ser seu adversário nas idéias. Discuto, debato, participo de fóruns e seminários.

Não gosto de medalhas, embora nada tenha contra quem as usa. Mas, veja nossos Praças; as únicas medalhas que possuem são as compradas nas Associações de Ex-Combatentes!

Não gosto de ser manipulado politicamente e por isso não permiti que o Afro Reagge fosse bater tambor no terraço do BOPE. (Chegaram a anunciar no Jô Soares!).

Posiciono-me sobre as questões salariais. Já fui detido por isso, mas não sei se ele, o blogueiro 200 anos, possui os quatro dias de detenção que tivemos (eu e outros tantos, e que carregamos com orgulho em nossas carreiras) por pleitear melhores salários (em 1986), que, aliás, precisamos urgentemente, tê-lo reajustado. Em 1995, fomos levados, eu e mais três oficiais, do BOPE, à presença do Sr Comandante Geral (Coronel Dorasil, que merece todo meu respeito), acusado de “pleitear melhores salários”. Estaria ele lá? DUVIDO!

Vejo o projeto 200 anos como um projeto de poder. Creio-o uma pessoa: com seus defeitos, apontando para os defeitos dos outros, mas sem se expor! Os chamados “aloprados da PM”, que, para mim, é UM, é mais que isso; é um “interesseiro da PM”. Critica-nos, a todos, acusando-nos de sermos da política do “tiro, porrada e bomba”: uma metáfora, para insinuar que está do lado dos que nos acusam o tempo todo de sermos o problema da violência, e não o crime, compreende? Dizem que estávamos programando operações em comunidades carentes, no auge das balas perdidas, desgastando a Secretaria de Segurança e as Polícias. Mas, o que é o auge das balas perdidas? Por que destacar o auge? Por que deveríamos dar um tempo, uma refreada nas ações legítimas de desarmamento do crime, já que trabalhamos com informações sobre paradeiro de criminosos e seus arsenais? Estaria sugerindo que o importante é a preservação do emprego de todos? Estaria sugerindo que o auge seria algo como um modismo, uma onda, que logo passaria, e, aí então, sem “desgastes para a imagem da Segurança”, retomaríamos o trabalho de repressão legal e legítima?

Enxergo- o com sua ideologia saindo pelos poros: quando proclama que a missão da PM é servir e proteger o cidadão, nos espaços de desorganização e descontrole que transitamos, mas não oferece a chave mágica para fazermos isso sem danos colaterais, repetindo a falácia dos sociólogos; quando convida (como já fez em postagem), os “cientistas sociais” à “colaborar” com suas experiências, escondendo-se num eufemismo. Temos “cientistas sociais colaborando” o tempo todo, e ganhando infinitamente mais do que o soldado que toma tiro na rua.

200 anos, “de forma velada”, atacou-me e ainda procurou mostrar-se ofendido, exibindo a “infâmia” da minha resposta, em seu editorial. Outorgou-se o direito de ser o alterego de todos, mandando “avisos” ameaçadores, rugindo “e fomos discretos”...e poderíamos ter ido muito além...”

200 anos declara-se um grupo extenso. Uma rede de espiões. Uma ONG.
Por ser invisível, é uma espécie de falange.
Deveria chamar-se Legião.
Não sou alvo de 200 anos; sou um obstáculo que precisa ser removido.

E por ser esta uma tréplica, à réplica de 200 anos, dou por encerrado este assunto, em atenção à vontade do acusador.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

A metafísica do projeto duzentos anos

Foi a Madrinha quem me avisou. Como faz generosamente todos os dias, poupando-me tempo precioso de pesquisa em revistas e jornais, em busca dos assuntos que me convém conhecer, encaminhou-me, em meio à resenha dos periódicos, do artigo semanal do Diogo Mainard e de alguns outros textos escolhidos com bom gosto e seletividade, a postagem de inequívoca provocação iracunda, com a referência à minha pessoa.

Antecipadamente, soubera-me citado!

Lembrei-me, enquanto lia a papironga acusadora, do meirinho Leonardo Pataca, personagem imortal de Manoel Antônio de Almeida, no imperdível: Memórias de um Sargento de Milícias, e que, à época do Rei, como os seus de classe, amedrontava a população com sua miserável existência; não pelo que lhe era facultativo promover de bem ou mal, mas pela desgraça que, por oficio, lhe cabia anunciar, batendo de porta em porta, à caça dos indigitados, envolvidos em processos e querelas com a Corte; aqueles misérrimos deserdados da sorte, passados da vida para a morte, senão física, decerto moral.

- Dou-me por citado! – falei para mim mesmo, ao ver-me lembrado pelo implacável vigilante da conduta moral dos integrantes da PMERJ, que eu havia, inconscientemente, ajudado a criar e agora se voltava contra mim.

Leonardo Pataca e todos os meirinhos do Império estavam ali, à minha frente. Em lugar de homens de casacas pretas, com sapatos afivelados, espadins e outros penduricalhos, uma figura mais aterrorizante; mais horrorosa, mais pavorosa e mais intrigante. Um Ente abstruso, capaz de fazer qualquer Santo recear desarquivamento de processo de canonização, tarefa difícil até para o mais perspicaz advogado do diabo, com influência nas instâncias superiores da Justiça Canônica; um Ministério de Acusação inexorável, implacável e hirto. A Santa Sé do Inferno; sem rito, sem rosto, sem rastro: O PROJETO 200 ANOS.


Por um átimo, odiei e amaldiçoei a sorte de estar exercendo uma função dessas, que infligem visibilidade. “Porcaria, porque não fiquei no BOPE. Lá era tão tranqüilo, servicinho fácil, molinho, sem riscos; nada de exposição, nada de ser alvo da maledicência alheia...” – pensei.

O autor do achincalhe tivera o cuidado de nos desvelar (a mim e a meu chefe) sem dizer nossos nomes. Fizera apenas referência a dois Tenentes Coronéis “operacionais”, (assim, entre aspas), da Secretaria de Segurança, destacando que um dos dois era, na realidade, Ex (Tenente Coronel).

A ocultação das nossas identidades, mas a exposição de nossos registros criminais, certamente não fora despretensiosa. Talvez tivesse por objetivo evitar uma maldição que poderia lhe sobrevir; minha avó cuidava de nunca pronunciar a palavra câncer, quando se referia ao carcinoma que consumia um de seus irmãos, dizendo: “aquela doença”; tinha medo de contraí-la, por castigo. O falecido Seu Gersinho da Dona Joviana, lá de Cambuci, ao atribuir seus infortúnios a interferência do mundo invisível, evitava dizer diabo e satanás, preferindo falar: “o tinhoso”, com receio de provocar a aparição da personificação católica do mal.

Fosse qualquer um o seu motivo, optara por nos preservar, ao nos expor e atacar. Com um estilo vaticinador, aconselhava, no texto dirigido ao Secretário de Segurança, com uma certa ironia, a nossa exoneração dos cargos que ocupamos. Sugeria à autoridade que “puxasse nossas cordas”, pois, caso contrário, se continuássemos com “a força” (que tínhamos), iríamos, por incompetência para as funções, promover a queda de todos.

Não sou um admirador do blog 200 anos. Li-o uma ou outra vez, nas primeiras postagens, e, como precursor do uso dessa ferramenta tão interessante para exposição de idéias e socialização do saber, juro que me sinto um pouco culpado, quando penso que posso ter despertado num capadócio qualquer, num simulacro de insuspeição e ouropel da ética e da moral, sua mais habilidosa capacidade para semear ódios irrefreáveis; ingredientes da ideologia que sustenta seu psiquismo, e que tenta esconder, dissimulando-a na falsa indicação do objetivo do site que mantém.

O Projeto 200 anos é um projeto, sim, mas de concepção fundamentalista do seu autor. E que, não se enganem seus leitores, ele é escrito por uma só pessoa, e não por um grupo, como procura fazer crer, para parecer mais poderoso e interessante.

Por não se prestar a informar, mas a desqualificar o outro, e por receio de ver-se descoberto em sua imperfeita humanitude, faz-se um inimigo metafísico; algo como o vírus da AIDS, nunca visto, inferido por hipótese. Onisciente, se não é um novo deus, é no mínimo o hierofante de uma nova religião, inquiridora e acusadora daqueles que perscruta, nas sombras de sua existência surreal. Sequer pode ser chamado de farisaico, posto que aquela antiga tradição judaica, não obstante marcada pelo zelo excessivo com as práticas exteriores, ao menos era franca, com os seus prosélitos se exibindo e se expondo ao remoque dos adversários.

200 anos, o site apócrifo, serve ao seu dono; às suas intenções, à sua vocação para inimigo oculto. Mas não serve para a construção de uma nova mentalidade na PMERJ. Qualquer que pretenda erigir edifícios sociais, ainda que promovendo desconstrução, guerra e tormenta, deve obedecer ao princípio universal da lealdade. Pretendendo o pólemos moderno, deve fazer-se visível, se não, nada será além de um insignificante impostor.

- Dou-me por citado!

Meus dados corretos são: Mário Sérgio de Brito Duarte. Tenente Coronel PM, Caveira número 37, espírita e pecador.

Não tenha, senhor 200 anos, medo de escrever meu nome num futuro texto. Não lhe farei nenhuma aparição nem lhe colarei uma maldição.

Gostaria apenas um favor do nosso espectral big brother: que retirasse o meu link do seu blog. Não quero ser interpretado como conivente com seus desígnios, nem semelhante nos seus juízos.





sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Trincheira-abrigo e Quartel-irmão



Transmiti, no dia 15 último, o Comando do BOPE ao Tenente Coronel Caveira nº 41, Alberto Pinheiro Neto, meu companheiro de COESP (Curso de Operações Especiais) no Turno de 1989.

Convidado pelo Subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, Delegado de Polícia Federal, doutor Antônio Roberto Cesário de Sá, Caveira nº 36, do mesmo Turno, (e Tenente Coronel da Reserva da PMERJ), para o cargo de Superintendente de Planejamento Operacional do Órgão, deixei o Comando da Unidade com a certeza do dever cumprido, não obstante o coração sangrando.

Por sugestão de muitos amigos, conhecedores deste blog, e que estiveram presentes à transmissão do cargo, publico, abaixo, minha Ordem do Dia:

Meus comandados

Revolvi ao longo das duas últimas semanas algumas pilhas de textos, artigos, letras de músicas, antigas Ordens do Dia expedidas por memoráveis Comandantes da nossa Corporação, buscando inspiração para este momento tão significativo de minha vida, quando me despeço, por definitivo, da tropa especial que comandei ao longo de um ano.

Não que me faltasse o que dizer. O BOPE, mais temido e aguerrido Gládio de Combate do país, conhecido até no exterior por sua inigualável capacidade de manobra sob fogo cerrado em ambientes urbanos de geografia desfavorável, é um manancial de conteúdos: para literatura, teses acadêmicas, matérias jornalísticas e surpreendentes abordagens místicas, como encontramos nas páginas da internet.

Assim sendo, não me faltariam exemplos para discorrer sobre seus, ou nossos, feitos, realizações no campo de lutas, dores e alegrias.

Todavia, despedir-se do BOPE é amputar-se. É arrancar-se de um corpo no qual se articula, vive-se, e se reconhece como ele mesmo; é saber-se mutilado para sempre; ferida incurável que sangra sem esvair, por sinalizadora do bem que vivemos em guerrilhas legítimas, e outros labores de nossa missão constitucional.

Despedir-se do BOPE é afastar-se dos melhores, mais companheiros e mais corajosos subordinados que encontramos ao longo de toda nossa vida; do seguro fogo de proteção do fuzil amigo na escadaria da morte, no beco do sufoco, no “cem metrinho” de difícil transposição, sem coberta e sem abrigo.

Despedir-se do BOPE é perder o convívio dos mais destemidos gladiadores da modernidade, desses soldados que enfrentam diuturnamente a morte, lutando pelo que juraram proteger: a liberdade, a pátria e a vida do inocente.

Despedir-se do BOPE é não mais ouvir a oração das Forças Especiais, antes e depois dos combates.

Não mais escutar o brado exaltador dos valores norteadores da conduta ética e moral dos Caveiras, impressa em suas almas com palavras sínteses, ditas em uníssono antes de partirem para qualquer missão: Força e honra. Vitória sobre a morte!

Não há, excelentíssimos senhoras e senhores convidados, soldados melhores do que estes perfilados a nossa frente; em nenhum lugar, em nenhum tempo.

Despeço-me dos meus companheiros de jornada nesta curta caminhada de um ano e digo-lhes que a honra e o privilégio por tê-los comandado, foram meus.

Não houve missão que eu não tivesse ficado apreensivo, pensando em suas vidas, em suas famílias.

Festejei cada regresso. Agradeci a Deus cada retorno e chorei nossos mortos, vitimados não nos confrontos do Batalhão, sempre marcados por nosso sucesso, mas em decorrência da profissão policial que expõe cada integrante da Corporação a risco constante e inexorável.

Estou indo agora para uma trincheira-abrigo, mas jamais me esquecerei do quartel-irmão.

Afasto-me do BOPE, neste momento.

Transmitindo o seu comando ao Caveira n 41, Tenente Coronel Alberto Pinheiro Neto, faço-o sabendo que estarei entregando ao mais credenciado de todos os Oficiais de Operações Especiais da PMERJ, os destinos da melhor tropa, da mais experimentada, e com maior número de enfrentamentos em Ações de Comandos em todo mundo, ao tempo que lhe desejo um bom combate.


Agradeço ao quem me confiou tão honrosa missão, o Sr Coronel PM Hudson de Aguiar Miranda, ex-Comandante Geral da PMERJ.

Agradeço e exalto a figura do meu antecessor, Tenente Coronel Fernando Príncipe Martins, combatente de primeira grandeza, realizador de grandes conquistas e amigo leal, em quem busquei inspiração para conduzir os destinos da Unidade, com segurança.

Agradeço a toda a minha equipe, em todos os níveis, pela colaboração espontânea e sem limites, evidenciada nas horas de sacrifício.

Agradeço aos meus ex-comandantes no BOPE, Coronel Paulo César, Coronel Rangel, Coronel Humberto e Coronel Meinicke, de quem pude extrair diferentes ensinamentos para o exercício do Comando e Liderança.

Agradeço e me penitencio com Sr Coronel Camilo, ex-Comandante Intermediário das Unidades Operacionais Especiais, pela paciência que teve comigo, já que, treinados para ousar, não raro somos intempestivos e impacientes, e estou certo de que o fui.

Agradeço à minha família, inicialmente a minha mãe, pela preocupação constante e suas orações.

Agradeço aos meus filhos pela vibração que nunca esconderam, por enxergarem-se parte da família bopeana e, mesmo reprimindo-os quando os surpreendia cantando, às escondidas, os “proibidões” de exaltação aos Caveiras, tive o cuidado de apresentar-lhes insumos mais condizentes com a envergadura e dimensão dos homens de preto.

Agradeço a minha linda e amada mulher Viviane pelo refrigério de sua presença, do seu verbo carinhoso, seu incentivo quando a responsabilidade indelegável da função apresentava-se em toneladas emocionais, empurrando-me ao desânimo, e, ela, com vigor e sensatez, lembrava-me da responsabilidade a exigir coerência, desprendimento e altivez.

Por fim, agradeço ao Pai, Todo-Poderoso, por haver permitido que fosse assim.
Força e Honra, combatentes do BOPE.
Vitória sobre a Morte!