sexta-feira, 30 de maio de 2008

ÔRRA MEU!!

A intenção era seguramente provocar uma detonação; um barulhaço como a explosão de uma carga de nitropenta em ambiente imediato, de maneira que balançasse e comprometesse definitivamente as estruturas do alvo.
Posso imaginar o gozo pré-saboreado pelo arautismo profissional das terras do Ôrra meu, a cada etapa bem sucedida que se dava a consecução do plano subcriminoso que os parceiros de ofício haviam decidido aplicar nos cana carioca; uma treta de responsa, preparada com requintes de profissionalismo e organização de gênero.
A parada mais difícil coubera a um dos mano mais corajosos; um dos véio mais firmeza, mais talento da rapaziada.
Constava do seguinte: o cara se alistaria pra ser samango, entraria de cara limpa na muvuca, na maior moral; ficaria infiltrado entre os alemão, tentando descobrir os lance de tudo que era usado pra que os cara virasse PM.
O voluntário, o firmeza, no maior caô se meteu entre os verme e ficou vinte e três dias só na atividade, pescando tudo, garimpando as ideia que os cana mais coroa dava nos novinho; afanando as sugestas de conceito que ouvia.
Serviço terminado, matéria de capa, e neguim comemorando:
- Aí maluco!!! Sei não, heem!!??. Vai dar Pulitzer, ta ligado?!
Mas...
Não repercutiu!
Ninguém esperava por isso na Folha de São Paulo, estou certo que não, estou apostando que não. E olha que odeio apostas!
A equipe havia traçado um plano infernal, com requintes de genialidade monstruosa. Havia de dissimulação de intenções a comportamentos sorrateiros e falsificação de ideais. Tudo com risco à saúde física e psicológica do secreta infiltrado, como se pôde depreender do próprio relato das agruras do insuspeito recruta-jornalista.
Todavia, a matéria não repercutira.
Tanto esforço e a única coisa que realmente haviam conseguido fora tornar o repórter na mais abjeta das criaturas entre as rotulações sociais: um ex-PM.
A matéria não repercutira, incrivelmente, indesejadamente e tenho uma tese para isso: acho que a população do Rio, e mesmo a de São Paulo, está cansada dessa tentativa manjada de manipulação de sua opinião. Já se foi época de se abdicar do próprio juízo em favor do jugo da intelectualidade com pretensões de pastoreio sobre as ovelhas do seu rebanho, como crêem ser os seus leitores.
A folha de São Paulo não contava com isso. RAPHAEL GOMIDE, o intruso xereta, esbaforiu-se por vinte e três dias quase pondo os bofes para fora nas “terríveis” seções de treinamento físico e ordem unida. Teve pesadelos, perdeu peso, estranhou o desconforto, a dureza da voz dos instrutores.
Um hor-ror!
Não me surpreenderia se ele recebesse um Pulizter, ou um outro prêmio desses que fazem os caçadores de premiação suspirarem como debutantes antes de baile; prêmios assim são conferidos como se dá o cômico: à gargalhada antecede o vilipêndio.
RAPHAEL GOMIDE terá, para sempre, anotações de assentamentos na PMERJ. Será, neste caso, um ex-PM. Mas vejam, só em seus assentamentos! Para nosotros, PM ou Ex-PM ele NUNCA! NUNCA SERÁ!
RAPHAEL GOMIDE participou de uma farsa. Teve a chance de fazer como George Kirkham, professor assistente da Escola de Criminologia da Flórida, que na década de setenta, movido pelo espírito científico, resolveu ingressar na polícia de Jacksonville, onde se graduou policial e por um tempo de sua vida encarnou a profissão com suas dores e gozos. O professor George queria conhecer o que a Folha de São Paulo queria, mas usaram de uma ética diferente para satisfação de suas intenções.
RAPHAEL GOMIDE teve a chance de saber muito mais da formação do Policial Militar; e de conhecer da profissão para além dos discursos que ouviu e dos treinamentos que recebeu nos curtos vinte e três dias do curso de oito meses. Perdeu a chance de entender, se levasse a cabo o curso e se formasse, o que sente um policial sob fogo dos AK-47 do narcotráfico mirando-lhe a carne por alvo; só assim saberia a diferença entre tese e tesão.
Ei! Que otário sou eu para crer que seria assim?
Acho que tem uma voz em algum lugar dizendo:
- É ruim, heem!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Manual EPC para Especialistas em Segurança Pública

Infelizmente não participei da organização do magnífico Manual EPC (Embusteration Picaretation Corporation) para Especialistas em Segurança Pública.
Ele é de autoria de Décio Leão, Capitão da Polícia Militar de São Paulo, meu amigo e grande conhecedor do seu ofício.
No seu manual, Décio exibe os “fundamentos” e as condições sine qua non dos sujeitos que detêm o saber epistêmico desse campo.

Confira:

Nunca ter sido da polícia
Não ter nenhum vínculo com uma dessas instituições ou não mesmo conhecê-las. Isso não impede que ele fale delas com propriedade, dizendo como elas deveriam fazer seu trabalho.

Possuir formação genérica
Seja engenheiro, administrador, economista, sociólogo, psicólogo ou bacharel em direito, o Especialista em Segurança Pública já “estudou” profundamente o assunto e participou de alguns seminários.

Aparecer bastante na mídia
O Especialista em Segurança Pública não pode deixar de aparecer na mídia, quer seja imprensa escrita, falada, televisionada ou internetada. Não se mede a qualidade desse profissional pela sua experiência profissional ou sua formação específica. É a quantidade de vezes que ele aparecer na imprensa que irá dar a sua qualificação de conhecimento e experiência.

Falar o óbvio
O Especialista em Segurança precisa ter soluções mágicas para solucionar problemas de Segurança Pública (bem semelhantes aos discursos eleitoreiros para o assunto). Por exemplo: o especialista deve afirmar que as autoridades policiais precisam “intensificar o policiamento preventivo” ou “investir em inteligência policial”. Quanto mais óbvia for a solução, melhor será o efeito tipo: “como-ninguém-pensou-nisso-antes-!!” E, obviamente, o Especialista não precisa dar detalhes sobre como serão conseguidos os recursos humanos, materiais e financeiros, qual o impacto sobre o orçamento e outros problemas que “são meros detalhes técnicos”.

Fazer a polícia parecer incompetente
Ao comentar os problemas de Segurança, as crises e as dificuldades em ocorrências policiais, o Especialista em Segurança Pública mostra como a polícia errou, o que ela deixou de fazer e o que ela poderia ter feito. Sutilmente, dá indicações de a polícia não sabe fazer bem o seu serviço.

Não ter responsabilidades
O Especialista em Segurança Pública não precisa se preocupar com o que fala, pois não tem que tomar decisões, não tem responsabilidades e não é cobrado pelos seus resultados. Se seu projeto der certo estará comprovada sua genialidade; se der errado sempre há alguém para culpar, principalmente a Polícia Militar e a Polícia Civil, que não se empenharam corretamente em suas obrigações para fazer dar certo o magnânimo projeto do Especialista. Essa é uma das maiores vantagens de ser um Especialista em Segurança Pública. Por mais absurda que seja a idéia, ele não é responsável pelo “como” ou “quão custoso” será sua aplicação, muito menos as conseqüências do fracasso.

Eis algumas frases que podem ser usadas pelos Especialistas em Segurança Pública iniciantes. Mesmo já tendo sido usadas anteriormente, essas frases-padrão representam o discurso que se espera de um bom Especialista:

“A conjuntura macroeconômica da globalização desenfreada tem impactado sobre a sociedade marginalizada, forçando uma busca por recursos alternativos nem sempre éticos com a legalidade”.

“A polícia precisa urgentemente investir em policiamento preventivo e em inteligência policial”.

“Os capitães comandantes de companhia e os delegados titulares de distritos policiais devem se reunir periodicamente e detectar onde e quando estão ocorrendo os delitos. Com essa informação, o policiamento deve ser direcionado para os locais de maior incidência criminal”.

“A crise de segurança ocorre porque a polícia não está fazendo o seu papel. Os policiais civis não fazem o preventivo e os policiais civis não investigam.”
Gostou?
Candidate-se.
Crie uma ONG e vá em frente.
Mas siga o manual!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Alemão: a hora de acordar*

Por Mário Sérgio de Brito Duarte, tenente-coronel da PM, ex-comandante do BOPE e do 22ºBPM (Maré), autor de "A Verdade da Tropa - Incursionando no inferno"

Nem sempre foi assim no Complexo do Alemão.
Arrisco com segurança dizer, que há vinte e oito anos, quando ingressei na Polícia Militar, o quadro era outro.
Não que não houvesse violência, ou que essa se limitasse a pequenos conflitos entre moradores.
Com efeito, a criminalidade no Complexo do Alemão, mesmo naquelas épocas pré-fuzil, já ultrapassava a ação pitoresca dos ladrões de galinha e bandidos pés-de-chinelo, que, em tempos quase remotos, tinham sido vetores de um medo “pitoresco” e exagerado para a população “remediada” de sua vizinhança; da Penha e bairros arredores.
Havia quadrilhas de traficantes drogas e outros bandidos, sim, com seus revólveres, algumas escopetas e talvez uma ou outra metralhadora de mão; todavia, preferiam fugir da presença da polícia, não enfrentá-la, e isso perdurou até meados da década de oitenta, quando armas poderosas foram sendo adquiridas e granadas, lança-rojões, fuzis de assalto e metralhadoras. 30 surgiram na cena carioca, modificando-lhe completamente os quadros de segurança pública.
Não vou asseverar que as políticas adotadas desde então foram lenientes ou complacentes com o tráfico de drogas, mas ouso dizer que até o início do ano passado, uma certa ingenuidade e uma excessiva contemplação sociológica do problema empurraram governantes para estratégias não efetivas de controle da criminalidade e promoção da tranqüilidade pública e paz social.


Se de um lado a ação policial mais ativa para desarmamento de quadrilhas e bandos ocorreu em alguns momentos, ações outras, de natureza social requeridas para desestimular a vontade coletiva de crime com ingredientes psicológicos característicos de subcultura, foram absolutamente procrastinadas.
A antítese da política de polícia de repressão, como se costuma rotular a primeira, quando e quanto pôde tratou de refrear a ação das polícias, teorizando pela predominância das desigualdades sociais como fatores essenciais, fundamentais ou genéricos, promotores do crime, semeando uma espécie de culpa coletiva na população e fazendo-a co-responsável da própria vitimização, identificando, subliminarmente, no criminoso, a verdadeira vítima.
Ora, é certo que haveríamos de acordar de tal sono letárgico. Mais dia menos dia haveríamos de ver que crime, criminosos, combustíveis e comburentes de fatos anti-sociais de anormalidade jurídica, devem ser considerados conjuntamente para se viabilizar políticas de segurança pública; e haveríamos de buscar soluções que aglutinassem os diferentes poderes e esferas do Estado Legal, como vemos agora pela aplicação do PAC, PRONASCI e POLÍCIA de pacificação, que, cada qual com seu papel, espera concorrer na promoção definitiva da tão sonhada inclusão social das populações dessas zonas de conflito e dor.
Às sofridas e mal-remuneradas polícias cabe, certamente, o papel menos sedutor e menos simpático; enquanto houver narcotraficantes empunhando fuzis no Complexo, e se comportando como narco-soldados, Policiais Militares e Civis do Rio de Janeiro e os homens e mulheres da Força Nacional que os apóiam, estarão trabalhando diuturnamente ali, em condições dificílimas de ocupação temporária, com a morte rondando, para cumprir seus deveres traduzidos em suor, sangue e honra, em duro processo de libertação das comunidades das garras do crime.
O Complexo do Alemão completa um ano de intensa movimentação policial. Os números revelam uma impressionante belicosidade, agregada como valor coletivo pelo crime local. Somente na delegacia onde se registram ocorrências do Alemão (lembremos que as Especializadas também fazem registros, apreensões, inquéritos e flagrantes), tivemos apreendidas, pelas Polícias Civil e Militar, de 18 de Abril de 2007 a 17 de Abril de 2008, 366 (trezentas e sessenta e seis) armas, e 62 (sessenta e dois) artefatos explosivos. Além disso, quatro agentes da lei morreram em confronto e registraram-se 107 (cento e sete) autos de resistência de criminosos vitimas de suas escolhas, além de outras 470 (quatrocentos e setenta) prisões realizadas.
Um preço caro, o da liberdade, mas que importa e convém.
O Complexo é do bem.


*Texto publicado parcialmente na edição deste domingo, 20 de abril, de O DIA

segunda-feira, 17 de março de 2008

Jorge "Bocanca"

Não me recordo exatamente se foi em 93 ou 94, mas me lembro bem como tudo se passou.
Havíamos realizado uma operação durante o dia na Vila Cruzeiro, a pedido do comandante do 16º BPM que andava assustado com o poder de fogo dos traficantes de drogas, do Complexo do Alemão.
Lembro-me que um atirador com fuzil fez fogo por duas ou três vezes, de uma laje, bem próximo de onde eu progredia com minha "patrulha mais”, ou seja, reforçada de cinco ou seis homens (devíamos ser uns quinze Caveiras), deslocando-nos à pé pelas ruas e becos da grande favela.
Os tiros, eu não saberia dizê-los se foram dados em nossa direção, ou em qualquer outra, como às vezes acontece e que chamamos de “guerra de barulho”. Embora os vagabundos do tráfico já dispusessem de um bom arsenal, ainda não haviam desenvolvido a cultura de enfrentamento diurno, como temos nos nossos dias, quando privilegiam o combate ao comércio de drogas e enfrentam a polícia, sempre.
De qualquer forma, eu solicitara apoio aéreo e logo uma aeronave Esquilo sobrevoava nossas cabeças, pilotada, se não me engano, pelo excelente Adonis, da Polícia Civil, que logo encurralou os marginais surpreendidos pelo desembarque espetacular do Cabo Lotério (se não me engano, também), além de outro companheiro da PC que eu não saberia dizer o nome.
Regressamos da Delegacia ao BOPE por volta das dezoito horas e nem chegamos a subir as escadarias do regimento Caetano de Farias, o antigo Quartel de Cavalaria que abrigava nossa Unidade Especial, quando recebi do Coronel Rangel a ordem de seguir para a Favela da Varginha, onde uma equipe do 22º BPM estava encurralada desde cedo. Havia suspeitas de policiais feridos, e mesmo mortos, em poder dos traficantes. Os celulares naquele tempo eram artigos de luxo e rádios transceptores portáteis só o BOPE possuía. Não havia jeito; sem comunicações para sabermos da situação da tropa na favela, só indo ao local para saber, de verdade, o que se passava: era com o BOPE mesmo!

Senti um nó na garganta.
Eu não conhecia nada da favela. Sabia só que ficava em Manguinhos e que era uma área muito pobre, de barracos misérrimos. Já era noite, não daria para fazer um reconhecimento aproximado...
Não tivemos tempo sequer de nos abastecer com munição. Partimos em alta velocidade em várias viaturas que seguiam um carro-guia, e em vinte minutos chegamos à Rua Leopoldo Bulhões, entrando por Benfica.

Foi um inferno!
Ficamos eu, falecido Sargento Retameiro e... acho que o então Cabo Vasconcelos, abrigados num poste magricelo, de luz fraquinha, enquanto as balas batiam no chão, roçando nossos pés. Os projéteis saiam em fachos de luzes traçantes das bocas dos canos dos fuzis dos narcotraficantes, que não souberam aguardar o momento e o local para uma emboscada, posto que ficamos a cerca de cem metros de suas confortáveis posições barricadas em muros e lajes das construções, e separados por um rio fétido cujas margens estavam unidas por uma ponte tipo “pinguela”, miserável, de madeira apodrecida e descadeirada.
Expulsei um combatente do 22º que se aproximara do "nosso poste" para ajudar. Seu equipamento branco, de trânsito, estava nos transformando em alvos seletos na quase escuridão do local; ele seguiu para um ponto seguro e nós fomos avançando por lanços quase irrefletidos, para onde pudéssemos nos abrigar.
Chegamos a um conjunto de casas de alvenaria e ocupamos suas lajes. Retameiro localizou um traficante e atirou em sua direção, com o FAL em intermitente. O Caveira Amaurício fez o mesmo. Um tiro acertou a caixa d’água sobre a cabeça do bandido. Ouvimos um barulho de cachoeira e um “filho da p...” do “soldado do pó” que tratou de fugir dali.
Nossos alvos de resgate estavam um pouco mais à nossa esquerda; a outra patrulha os havia localizado e tentava retirá-los. Lopasso, Everaldo “Bate-Lata” e falecido Getúlio ficaram atrás de um monte de lama endurecido, retirado do rio podre que estava sendo dragado. Notava-se que logo haveria uma ponte de verdade substituindo aquela pinguela esquálida, considerando as obras que estavam sendo iniciadas.
Pouco a pouco retiramos todo pessoal do 22º BPM que estava encurralado. Getúlio, que sequer portava fuzil, queria atravessar para o outro lado para pegar os vagabundos. Reuni o grupo para ouvir-lhes a opinião e a única dúvida sobre se deveríamos atravessar ou não veio do Cabo Lopasso. Os demais foram unânimes:
- A gente pega eles na terça-feira, meu capitão!


Não consegui dormir naquela noite. Fui para o quartel no sábado e contei meu drama para o então Tenente Ronaldo:
- Cara, cristalizei na pinguela. Que merda! Que raiva!
Ronaldo fez que não deu importância:
- Vai atravessar outras, primo! (somos primos, sim).

Voltei lá na segunda-feira com outra patrulha. Pedi ao Coronel Rangel e ele autorizou que eu voltasse ao meu inferno particular, com algumas recomendações sobre o cuidado com a população inocente. Fizemos o mesmo trajeto, beco a beco; poste a poste, laje a laje até chegarmos à pinguela.
A tropa ficou me olhando. Ninguém dizia nada. As ruas vazias, estranhamente vazias. Pensei e falei para mim mesmo: - É emboscada!
Mas precisava atravessar a pinguela. Era questão de honra! Eu estava preso às minhas pernas, aos meus receios, aos gritos dos traficantes naquela noite de sexta-feira:
- Aí, bota a cara mermão! Vai voltá gelado, hem ?!! – Bota a cara seus verme!

Eu tinha que atravessar a pinguela.
Senti uma mão no meu ombro. Era Jorge “Bocanca”, Cabo do BOPE, pára-quedista militar, discípulo de mestre Zé-Pedro, o velho Zé, 1º Sargento à época, hoje capitão QOA reformado e trabalhando mais na equipe de instrução do BOPE, gratuitamente, do que qualquer um que por lá tenha passado.
Era Jorge “Bocanca” que me ladeou e disse:
- Posso atravessar meu capitão, se o senhor fizer minha cobertura. O senhor conta até três.
- Vai, Jorge. Eu faço tua cobertura e te sigo. - falei sem pestanejar.
Atravessamos a pinguela com ele fazendo a ponta e eu o segundo homem. Não houve tiros.

Já voltei lá muitas vezes. Comandei, anos depois, o 22º BPM e participei de pelo menos dois combates pesados ali, como Comandante da Unidade. Numa vez, perdemos um soldado e matamos um traficante. Acho que estavam comigo os majores Louzada e Parrini.
Não voltei mais lá com Jorge “Bocanca”.
Estivemos juntos na semana que passou. Ele precisa agora atravessar uma outra pinguela. Talvez seja a pior da vida dele.
Não quero saber. Estou com ele. Jorge Bocanca não fez julgamentos sobre se eu merecia ou não o risco da vida dele.
Vou fazer a ponta e ele vai atravessar.
Tenho fé em Deus!
Tenho fé em “Bocanca”
Ele tem fé em nós .
- No tempo três, Sargento Jorge:
Um, dois, três...CAVEIRA!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Pra Não Dizer Que Não Falei de Pedras

(**) James Petras é Professor Aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de Binghamton, em Nova Iorque (EUA), há 50 anos é um intelectual marxista do campo dos trabalhadores, consultor dos sem-terra e piqueteiros – no Brasil e na Argentina, respectivamente – e co-autor do livro “Globalização Desmascarada”. Seu novo livro foi escrito em parceria com Henry Veltmeyer, “Movimentos Sociais e o Estado: Brasil, Equador, Bolívia e Argentina”.

As informações acima e com a qual dou início ao presente texto, extraí do endereço www.pstu.org.br/autor_materia.asp?id=4992&ida=44 subseqüente à publicação de artigo do chamado intelectual comprometido (http://www.galizacig.com/index.html) James Petras, autor da Carta aberta ao presidente Sarkozy, escrita e divulgada em dezembro do ano passado. Quem quiser conhecê-la, basta acessar o endereço http://www.correiocidadania.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=1256 e poderá lê-la na íntegra para formar opinião isenta, além das minhas opiniões aqui expressas.

Trata-se de uma correspondência aberta ao líder da França, na qual o sociólogo contesta a posição do presidente francês em relação às “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia” – FARC.

A carta à carta, visto que a missiva gerada dá à luz uma entidade que se dirige a outra que lhe é semelhante, tem um tom debochado, e se destina a passar uma descompostura no presidente francês em razão do que escreveu ao líder terrorista colombiano, Manuel Marulanda.

O sociólogo, professor aposentado como informa o site, cuja base do pensamento se assenta nas construções ideológicas de Karl Marx, usa e abusa da sofisticação cínica para exibir o que ele julga haver de “inconseqüência e desonestidade” na posição de Sarkozy, assegurando que o líder francês adota no seu julgamento, uma posição “parcial, não recíproca e de má-fé”.

Desonesto e inconseqüente são algumas das expressões com as quais ele adjetiva Sarkozy em seu pleito de libertação dos cativos das FARC, e assim o considera porque não faz o mesmo em relação aos integrantes farcistas, prisioneiros do estado colombiano que estariam (padecendo) em masmorras do país.

Não vou realizar qualquer análise sobre a legitimidade, status ético, razoabilidade e racionalidade dos movimentos revolucionários marxistas, ou mesmo sobre governos instalados após sangrentas guerrilhas em busca da utópica “sociedade sem classes”, pregada por comunistas como James Petras.

Todavia, vou tentar desentranhar e evidenciar algumas questões seguramente fundamentais, para um bom julgamento da prédica de Petras que, com habilidade, tentou camuflar, ao tempo que imputava como “desqualidades” em Sarkozy, aquelas que enxergava em si mesmo, e acreditou não evidenciá-las enquanto se exibia.

Vejamos:

1. James Petras (e eu acredito que ele acredite nisso) assegura que ambos os estados beligerantes (a expressão é minha) - o legal, constitucional, com reconhecimento internacional e, d’outra sorte, o revolucionário em curso – ocupam patamares no mínimo equivalentes, concernentes à questão dos prisioneiros que mantém consigo. “Se a guerrilha deve se precaver de não violar acordos e tratados internacionais para tratamento de prisioneiros de guerra - aliás, a Colômbia é signatária da Convenção de Genebra que prevê tratamento digno a prisioneiros de guerra – o Estado, principalmente por esse motivo, deve cumpri-los”, parece ser o que ele insinua; embora Petras não invoque tal acordo quando reclama da unilateralidade na proposição de Sarkozy, não nos é difícil inferir que o sociólogo expõe justamente sua compreensão de que os homens das FARC não podem, e não devem, receber tratamento de presos comuns, principalmente quando tratamento comum a presos comuns, não respeitem condições universais de direitos humanos.

2. Petras desfila argumentos para explicar sua defesa das FARC ao não promover, ou mesmo não permitir aos cativos que mantém, a aplicação de direitos reclamados para si, como: dignidade e tratamento humanitário; para àqueles que mantêm refém nas selvas da amazônia colombiana, as FARC sequer permitem o socorro dos doentes e feridos, envio de notícias a familiares e muito menos ajuda humanitária de natureza psicológica, não autorizando visita de nenhum organismo nacional ou internacional às suas instalações prisionais (chamemos assim aos tapiris onde mantém-nos acorrentados), nem mesmo a Cruz Vermelha; num momento, o sociólogo alega que suas posições geográficas seriam descobertas, o que facilitaria ao governo Uribe massacrá-los com ajuda americana; noutro, ele assevera que dois guerrilheiros das FARC estão presos nos Estados Unidos, daí a necessidade de manterem prisioneiros americanos como uma espécie de moeda de troca.

3. Petras, além de outras considerações, também obtempera que a Igreja (creio que católica) não merece confiança (das FARC), e não pode, por conseguinte, fazer parte do processo de negociações: ela seria aliada de Uribe.

As proposições iracundas de James Petras poderiam, até, carregar algum significado de justiça, se as questões por ele colocadas se limitassem ao universo da guerra e dos soldados, dos combatentes, dos engajados de alguma forma pessoalmente nos conflitos, como sectários de qualquer lado. Aí eu diria que James Petras, o sociólogo marxista, teria lá suas razões.

Se os cativos feitos pelas chamadas FARCS não fosse um sem número também de pessoas inocentes, como as crianças retiradas das portas das escolas em uniformes escolares, para desespero de seus pais e amigos; se não fossem aqueles idosos indefesos cujo pecado é tão somente possuir familiares adversários políticos das FARC; se não fossem as mulheres cujo “grave erro” é não se curvar às vontades e interesses de “soldados do povo” que lhes procuram para as “socializações” que só interessam à guerrilha; se não fossem turistas, de qualquer profissão e de qualquer nacionalidade, que atraídos pela beleza de paisagens tão paradisíacas acabam nas mãos da insanidade ideologizada e “cult”; se não fosse aquela gente sem ligação ideológica, política, não adversária por qualquer critério lógico da “revolução popular”, eu não teria dúvidas por declarar o escrito de Petras como legítimo e louvável.

Mas não é isso.

Aliás, pouco importa para as FARC, e para Petras, quem são os encarcerados que mantêm em condições misérrimas no inóspito das selvas, padecendo enfermidades psicossomáticas sem notícias do mundo e sem vontade de viver, desde que possam usá-los como barganha para a liberdade de seus combatentes, dos homens e mulheres das FARC que se decidiram pelas armas revolucionárias em vista de "um mundo mais justo, melhor e pacífico".

E pouco lhes importa, também, se para conseguirem recursos financeiros que sustentem sua luta, as FARC tenham assumido, na Colômbia, parte do controle da produção e do tráfico internacional de cocaína.

Pouco lhes importa, ainda, se seus aliados são líderes de países de organização política-econômica de mesma coloração que defendem, ou se são chefes de outras coletividades um tanto quanto, diríamos, afastadas dos compromissos éticos alardeados nos tempos de sua ingenuidade existencial.

Pouco lhes importa se seus aliados são presidentes de países ou chefes de quadrilhas, de bandos e facções criminosas, como ficou evidente no caso das estreitas ligações das tais Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Comando Vermelho, posta a claro pela prisão, há alguns anos, em terras colombianas, do traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar quando negociava armas e drogas com os narco-marxistas.

James Petras é um professor aposentado, diz a informação a seu respeito, mas na defesa das violações de direitos humanos praticadas pelas FARC contra civis inocentes que seqüestram, isolam e reduzem a nada, ele continua em plena ação multidisciplinar e transversalmente pedagógica.

A rigor, se considerarmos uma certa corrente de hermenêutica dos Direitos Humanos que rola por aí, Petras está coberto de razão, posto que, para tal, direitos humanos só vale para algozes e não para vítimas.

Que pena essa estreiteza conceitual !

Há gente no Brasil capaz de se oferecer como escudo humano em holocausto pelo outro, por desprendimento e idealismo, e que poderia se aventurar a furar o bloqueio das FARC.
Sei de um defensor-DH que inclusive fala muito bem espanhol.

Parabéns dona Caveira!

O BOPE completou trinta anos de sua gloriosa existência desde sua criação como Núcleo da Companhia de Operações Especiais da PMERJ, no 19 de Janeiro de de 2008.
Uma festa simples e extremamente significativa tirou os Caveiras de sua rotina de treinamentos e combates.
O Comandante, Caveira 41 Tenente Coronel Alberto Pinheiro Neto, leu emocionado a Ordem do Dia na presença dos convidados e de sua tropa.
O evento, coberto pela mídia, teve a presença do Comandante Geral, do Secretário de Segurança, dos Subsecretários de Planejamento Operacinal e de Inteligência, e de vários ex-Comandantes do Batalhão.
Adiante, segue a significativa e histórica fala do Ten Cel Pinheiro que dispensa qualquer comentário adicional.





ORDEM DO DIA



Para se falar da importância e do significado do BOPE, é preciso voltar 30 anos no tempo.

No final dos anos 70, havia a necessidade de se especializar policiais militares para o cumprimento de missões num cenário de crescente violência urbana.

Era preciso contar com homens para ações de combate nas complicadas situações operacionais que estavam por vir.

Para tanto, um grupo de oficiais e praças deslocou-se para unidades especiais das Forças Armadas brasileiras, com objetivo de realizar cursos de comandos e operações contra-guerrilha – os primeiros “caveiras” da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, adquiriram capacidade para o desenvolvimento de uma doutrina própria.

Não obstante os importantes conhecimentos adquiridos naquelas instituições, adaptados e aplicados no primeiro Curso de Operações Especiais em 1978, o então NuCOE rapidamente adquiriu identidade própria.

A determinação e a perseverança de policiais militares apaixonados pela sua profissão, nortearam o hercúleo trabalho de construção dos pilares do BOPE. Não apenas pilares físicos, mas também os de uma mística que se consolidou ao longo dos anos.


A partir do privilegiado conhecimento acumulado nas chamadas operações policiais em área de alto risco e dispondo de milhares de horas operadas em área conflagrada, passadas já três décadas, esta unidade de excelência, tem solidificado sua tradição de ser um verdadeiro celeiro no fomento e estudos de idéias relacionadas às Operações Especiais de Polícia.
As organizações só envelhecem quando perdem a capacidade de sonhar, de projetar e de implementar seus projetos. Nesse aspecto, quero lhes afiançar que o BOPE continua sendo uma jovem unidade.

Para que se possa ter uma rápida noção do volume de trabalho desenvolvido pelo BOPE, somente no ano de 2007, foram mais de 2.200 horas de operação contra o crime, 100% em área de conflito, uma média de 06 horas operadas por dia, durante 365 dias do ano, num total de 52 marginais presos e 40 mortos em confronto; 78 armas apreendidas, dentre as quais 18 fuzis de assalto, 39 pistolas, 12 revólveres, 01 metralhadora e 05 granadas; além de apreensão de drogas e recuperação de automóveis roubados.

A Unidade de Intervenção Tática, sub-unidade do BOPE, especializada em resgate de reféns, foi empregada em 06 ocorrências de crise com tomada de reféns, resgatando com vida e sem ferimentos todas as pessoas que se encontravam sob o jugo de armas, de psicopatas e assaltantes. Nove cidadãos fluminenses tiveram suas vidas salvas diretamente pelas mãos de nossos policiais.

A Seção de Instrução Especializada, ministrou treinamento para 1.657 policiais e militares de 12 instituições diferentes. O BOPE é na atualidade, a Unidade de Operações Especiais que mais dissemina conhecimento técnico e tático no Brasil. Doutrina desenvolvida pelo BOPE e considerada de excelência por unidades policiais e militares do Brasil e do exterior.

Gostaria de mencionar também o trabalho que vem sendo considerado por muitos um símbolo na luta contra o tráfico de drogas: a pacificação da comunidade Tavares Bastos. Uma parceria do BOPE com a comunidade, em conjunto com instituições governamentais e não governamentais que já dura oito anos e que mantém livre do tráfico de drogas, em paz e prosperidade, uma localidade com 6.500 habitantes.



Neste momento, gostaria de lembrar e agradecer a todos aqueles que tiveram sua passagem, com glórias, por esta unidade, ao longo destes trinta anos, em especial, os que perderam a vida no cumprimento do dever.

Na conjugação de todos estes fatores, contribuintes para a formação de “profissionais de elite”, reside algo intangível, mas que se pode “sentir no ar”, aqui no quartel do BOPE, em nossas bases de instrução ou durante as nossas operações: a mística do espírito do cumprimento da missão, independente das adversidades.



“Lealdade, destemor, integridade
São os primeiros lemas, desta equipe sempre pronta a combater toda a criminalidade,
A qualquer hora, a qualquer preço
Idealismo como marca de vitória.....”

É assim há trinta anos!



Alberto Pinheiro Neto
Ten Cel Comandante
Caveira 41

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Como pode um peixe vivo?

O jornal Estado de São Paulo do dia 28 de Dezembro veiculou artigo do Doutor Cláudio Beato, intitulado: Triunfo da Ideologia-Caveira, texto produzido com intenções de análise sobre segurança pública e violência no Brasil, considerações que ele se permite na condição de cientista social.

A rigor, o doutor Beato limitou-se a comentar um curto período de tempo, ora centrando sua fala nos acontecimentos de fevereiro a outubro de 2007, ora estendendo um pouco mais suas considerações, e remontando de 2002 à data do seu artigo.

Embora tenha primeiramente mostrado fatos ocorridos no Estado do Rio de Janeiro, como símbolos do que considerou “mais marcante” no ano que se findou, Cláudio Beato, fazendo-me lembrar as garotas do tempo dos telejornais, voltou-se para São Paulo e Minas Gerais para exibir o sucesso de políticas de segurança para controle do crime e redução da violência, na limitada interpretação de que números menores de mortes definem padrões de excelência em segurança pública.

Todas as vezes que escrevo sobre os ditos dos cientistas sociais sobre minha área de atuação, ou participo de debates em fóruns, seminários e encontros do gênero com esses representantes do universo acadêmico sem encarnação no mundo sensível dos nossos misteres, procuro me esforçar para manter a idéia como centro da questão, me pondo nos limites da minha humanitude e não expondo a pessoa dos interlocutores.

Todavia, há momentos que isso se torna impossível fazer, e, em regra acontece quando não conheço meu alvo (no sentido de “contrário que refuto”), e preciso pesquisar sua atuação para compreender melhor a base que sustenta o “ser” de sua idéia, a estrutura de onde derivam os acidentes do discurso que o tornam indivíduo, ente, ou seja, a ideologia que é fonte do seu logos.

Não consegui encontrar muita coisa sobre a formação acadêmica do Dr Cláudio particularmente ao campo da segurança; não encontrei, ainda, o tema de sua tese de doutorado, mas apenas a de mestrado, onde constatei sua especialidade em músicos populares: “eruditos e populares”.

Na verdade, até me preocupo pouco com argumentum ad verecundiam (apelo à autoridade), mas muitas vezes a única credencial que apresenta meu interlocutor é uma tese acadêmica que lhe confere “autoridade no conhecimento”; daí minha precaução sobre quem não conheço e, no caso do doutor Cláudio, compreendi que seu interesse sobre crime, vítimas, violência etc é posterior à sua jornada no terreno dos musicistas; suas histórias, culturas e socializações, e isso contribuiu por me deixar entre arriscar a fazer abstrações do que poderia não estar presente no dito, no ideológico, não evidente, ou apenas inferir conclusões restritas unicamente ao texto.

Não vou publicar aqui o artigo do Dr Beato, mas quem quiser conhecê-lo basta acessar o site http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup102472,0.htm . Lendo-o, o interessado em compreender melhor minhas assertivas tirará melhores conclusões, mas vou resumir aqui algumas idéias do texto:

1. Os marcos da segurança pública de 2007 são: a morte do menino João Hélio e o filme Tropa de Elite. Esses definem os pontos de ápice mobilizadores da opinião pública, em todo Brasil.
2. O país não tem um projeto nacional de segurança pública.
3. O momento é de reforma policial, diante da necessidade de controle da brutalidade e da corrupção policial.
4. Embora os homicídios venham diminuindo ano a ano, o quadro é pessimista.
5. As campanhas de desarmamento e a lei do desarmamento seriam uma explicação (não definitiva) para a redução das taxas de homicídio.
6. São Paulo e Minas investiram maciçamente em segurança, de formas diferentes, mas com sucesso, posto que reduziram as taxas de homicídios.
7. A integração (não é unificação!) das polícias, articulada com projetos de prevenção e parceiras com universidades de organizações da sociedade civil (ongs?) foi a receita de sucesso de Minas Gerais, enquanto São Paulo optou por construir presídios e investir em inteligência e reestruturação da delegacia de homicídios.
8. Monitoramento e avaliação operacionais são as novidades, via dois órgãos: Infocrim, em São Paulo, e Igesp, Minas (doutor Beato é membro dele, sim! Veja http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/30817 ), que permitiram o sucesso das gestões de segurança de ambos.

Eu sei, eu compreendo, e você também deve estar pensando a mesma coisa: que ninguém vai fazer propaganda contra si mesmo, e o artigo tem um tom de propaganda. Aliás, e muito pelo contrário, a princípio é razoável que falemos bem das nossas realizações. Dr Beato não está falando de um lugar externo ao problema. Ele faz parte da solução mineira; do staff de pensadores das soluções, se não das decisões, que são tomadas sobre estratégias de segurança em Minas Gerais e é natural um “confetezinho” sobre si, desprezando verdades verdadeiras, como a existência do PRONASCI (“não existe projeto nacional...”), mesmo que pegue mal.

Parece-nos óbvio e ululante, também, que: integração, articulação, incremento tecnológico, busca de resultados, gestão de sistema, ou seja, melhoria de todos esses vetores de administração, alguns de origem imemorial com roupagem nova e perfumaria de estilo, são fundamentais para a qualidade da segurança pública. Para o quadro mineiro, então, onde não há narcotráfico requerendo status de instituição para-militar; onde uma dupla de policiais entra e sai das favelas sem o risco de serem emboscados e levados a algum canto para serem imolados vivos, cortados em partes para alimentar jacarés, e onde AK 47, Ruger, G3, Fal, AR-15 etc, são armas que felizmente não estão em mãos criminosas e só freqüentam Belo Horizonte nas telas dos cinemas, lá, principalmente, uma boa gestão que contemple esses “ingredientes” de “diplomacia de mediação de conflitos para quadros de paz”, deve ser eficaz para a realização dos misteres da segurança.

Lá, e até em São Paulo, onde, mesmo já não se podendo dizer não haverem armas longas, de guerra, suas quantidades são pífias, próximo do seu número em mãos criminosas no nosso Rio de Janeiro, para nossa tristeza e infortúnio.

São Paulo e Minas Gerais merecem e têm nosso respeito por suas conquistas, realizações e sorte, mas sem essa do doutor Beato querer fazer crer que há algo de excepcional nas suas teorias e práticas, capazes de superar, em qualquer contexto, outros modelos para segurança, ordem e cidadania.

Sem essa de querer desqualificar o BOPE, seu trabalho, seu cotidiano de lutas, riscos e sacrifícios numa luta sem tréguas contra o exército do narcotráfico e seus milhares de fuzis, granadas, lança-rojões e outros “trens”, rotulando seus combatentes por “truculentos e vingativos”, adjetivos com os quais os classifica abstraindo-os do símbolo que carregam nos seus uniformes silenciosos.

Ideologia-caveira? Não creio. Prefiro o que disse uma das maiores autoridades em futebol do país, ao comandante do BOPE, em sua recente visita de honra à Unidade: - Vocês são o quinto grande clube do Rio de Janeiro, mas o que tem a maior torcida.

Ê trem bão uai!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Direitos pelo ralo - Humanos pelo Canno

O blog Repórter de Crime do excelente Jorge Antônio Barros, jornalista de O Globo a quem tenho o privilégio de conhecer há pelo menos quinze anos, e que sempre vem produzindo material informativo de consistência, coerência e responsabilidade com os fatos, publicou no último dia 28/12/2007 um artigo do argentino Jose Ignácio Cano Gestoso, radicado no Brasil, onde trabalha como professor universitário no Rio de Janeiro.

Mais conhecido em nosso país por “Ignácio Cano”, o intelectual faz parte desse estrato acadêmico de humanidades que se expõe como “especialistas”, e que congrega pessoal com graduação e pós-graduação na área das chamadas ciências sociais, os quais, quase todos os dias, são chamados a oferecer opinião abalizada sobre assuntos que envolvam comportamentos, ânimos e idiossincrasias coletivas, e, em nossos dias, principalmente, opinam com profusão no campo da segurança pública.

O artigo intitulado Sob a máscara da tortura, traz reflexões do autor, em breve exposição de doze parágrafos, sobre sua compreensão acerca de direitos humanos e sua aplicação, com o objetivo estreito de demonstrar o porquê de não considerar o assassínio de um agente da lei como violação de tais direitos; porém, em sentido contrário, considerar, assim, a morte de um marginal que haja resistido pelo fogo de arma de guerra, como violação de seu direito de cidadania e à vida.

A tese de Cano é a seguinte: o conceito de Direitos Humanos estaria identificado única e exclusivamente como obrigações do Estado. É por esse ponto de vista que nosso irmão argentino observa a produção de conflitos no campo da segurança pública, onde há derramamento de sangue por conseqüência do pólemos que se dá entre agentes da ordem e criminosos.

É claro que, incrustada na sua argumentação, de forma sutil e quase imperceptível, o professor assevera a condição de inocência presumida, mesmo de marginais com armas em punho e atentando contra os bens e a vida de cidadãos e de representantes do Estado, e que acabam vítimas de si; de seus comportamentos anti-sociais e desastrados.

O objetivo dessa prédica é ideológico, mas a fachada do discurso é científico-jurídica, daí sua sedução e capacidade de persuasão. Extraí uma dessas petéquias subliminares da epiderme lógica do autor, para exemplificar o que digo:

No terceiro parágrafo do seu artigo ele infere que...a execução de um suspeito por um policial constitui uma violação aos direitos humanos...


A obviedade da assertiva nos conduz, num primeiro momento, a não enxergar que Ignácio Cano pretende induzir nosso juízo. Ou seja, ao dizer isso, quando recrimina, com sobeja razão, a execução de um suspeito (atenção para esta expressão!), ele cria condições psicológicas no interlocutor para só enxergar nos combates que se dão entre policiais e criminosos, de fuzis em guarda, uma injusta e covarde execução de inocentes, em regra por preconceito de raça e condição social da vítima, idéia-força que abstraio do discurso recorrente e comum ao grupo que integra.

A hipótese que ele apresenta contrária, todavia, não cabe tal ilação, visto que o policial não é um suspeito de ser policial; ele é, o que é, e não lhe está sendo imputada a consideração de simular o que não é. Isso não é complicado, embora seja uma construção ideológica bem urdida e falaciosa, mas significa que é a função policial que inabilita o homem para o usufruto dos direitos humanos, na sua relação com quem se defronta, em conflitos legítimos em razão do ofício. É uma compreensão tosca, um desprezo até mesmo da declaração universal dos direitos do homem que prevê em seu artigo XXIX que “Todos os homens têm deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício dos seus direitos e liberdades, ninguém estará sujeito senão às limitações determinadas pela lei, com vistas exclusivamente a assegurar o devido reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar em uma sociedade democrática; e, 3. Em hipótese alguma estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.”
Então, querer fazer crer que o criminoso, ao atentar contra a vida do policial, não viola seu direito mais valioso, o direito à vida, inalienável em si, e, conseqüentemente, isso não culmina por atentar contra os direitos humanos de seus familiares, que lhes são destinatários de proteção, afeto, educação e provimento essencial, tal só pode ser compreendido a partir das intenções estabelecidos sobre uma base de ideologia permissiva e complacente com o delito, assentada em princípios filosóficos sub-éticos que não privilegiam a razoabilidade e/ou a vida inocente; se o comportamento criminoso homicida não é mesmo uma violação da própria regra universal de direitos humanos, acima apresentada no extrato da “declaração”, e que se invoca (com justiça!) para proteção do e pelo Estado, então que se celebre o princípio do vale tudo, e aí não haverá direitos humanos para ninguém.

Essa visão é a mesma que não vê como violação e crime, a imolação da vida inocente gerada no útero materno. Não obstante seja a mais desprotegida das criaturas, não é, o fruto da concepção durante sua geração, destinatário das mesmas preocupações por proteção e cuidados para que viva, cresça e exerça cidadania, mas, do contrário, são essas desprotegidas criaturinhas humanas as vítimas potenciais dos grupos com identidade ideológica desse jaez, os humanistas, que transitam nos círculos acadêmicos com ares insuspeitos e de superioridade intelectual, pregando o aborto como “direito da mulher ao corpo”.


Ficamos, então, diante das inexoráveis conclusões: humano é um conceito legal; humano é um conceito social; humano é um conceito contextual; humano é um conceito residual. Humano é tudo isso na visão dos defensores dos “Direitos Humanos”; só não é um conceito natural, de espécie, daí a desnecessidade de estendê-lo àqueles que sejam vítimas de facínoras, mas limitá-lo aos causadores de crimes e violações. Simples e justo, não?

Se os defensores dos Direitos Humanos quiserem, de fato, serem entendidos como atores que representam um papel verdadeiramente de protojustiça, que não se afastem de uma consideração, sem a qual qualquer conversa sobre o assunto se perderá em conflito e bate-boca:
Direitos Humanos sim, claro: mas para todos.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Segurança Pública e Pós-modernidade

Este texto que ora publico, não deveria abordar o assunto de natureza mais genérica que encerra, e que escolhi, secundariamente, após muito refletir sobre sua eleição.

Na verdade, eu estava decidido a dissertar sobre tema que estivesse ligado a fato recente, de conexão com as questões da segurança pública, desses até comuns, que acontecem todos os dias e se nos apresentam com aspectos ora jurídicos, ou às vezes de caráter psicológico, ou, ainda, mais marcadamente do universo das conjunturas sociais e filosóficas.

Infelizmente, quando percebi que se me dispusera um manancial absurdamente suprido e facilitadamente acessível, num fato que poderia dizê-lo pitoresco, se abstraída sua gravidade de conteúdo, eis que a celeridade que marca a inteligência de Gustavo de Almeida, um dos mais competentes jornalistas da atualidade ao lado de Jorge Antônio Barros, fê-lo saltar na minha frente, e ele, em linhas até breves, mas consistentes e desveladoras, exibiu os contrastes e paradoxos que às vezes marcam o universo da justiça criminal brasileira, como vimos acontecer no julgamento e veredicto favorável ao ciumento marido, que fez refém a mulher e todo um ônibus lotado de passageiros apavorados, sob mira de um revólver carregado.

O brilhantismo de Gustavo de Almeida exposto na sua exegese do caso 499 fez, com efeito, desvanecer-me a vontade para aquele assunto e, após saudá-lo em seu blog (http://gustavodealmeida.blogspot.com/2007/12/crime-nenhum.html), resolvi escolher outro tema, optando, dessa vez, por caminhar sobre o minado terreno da pós-modernidade filosófica e suas incertezas, por germinação da semeadura do subjetivismo, que, mesmo em declínio, ainda possui fôlego para manter-se em marcha trôpega, buscando, a pretexto de esclarecer, ofuscar a idéia, e, com o argumento de elucidar, obliterar a reflexão.

Optei, então, por considerar as ações policiais (e de Estado), que marcaram o reencontro do Rio de Janeiro com a ordem por símbolo balizador da tranqüilidade pública e paz social, como uma tese contra pós-modernidade neste particular.

Imagino que o leitor deva estar se perguntando: - Ora, que nexo posso fazer desse assunto com as idéias de Sartre, Foucault, Lyotard, Serres, Deleuze, Derrida e Guatari, por exemplo?

Explico:

O pensamento pós-moderno, como sabemos, ressuscita um conjunto de idéias subjetivistas nada novas e discutidas por mestres do pensamento ao longo dos séculos. Um dos mais influentes defensores dessa forma de concepção das verdades e do conhecimento na antiguidade foi o sofista Protágoras, alguém que para compreendermos a idéia devemos ir à base do seu pensamento, exposto num aforismo que concebe o homem como medida de todas as coisas.

O pós-modernismo dos nossos dias, colocando o homem como medida da verdade, vem propor, novamente, que nenhuma verdade é possível e as coisas são como parecem a cada um.

Com algumas variações, mas mantendo a linha mestra do pensamento subjetivista, a pós-modernidade cria algumas teses e reforça outras, para suas concepções de conhecimento e verdade e, uma pletora de construtos, entre os quais enumero o relativismo, o historicismo, o marxismo e o culturalismo, são evocados para explicar o mundo como construção social e lingüística, única forma, segundo apregoam, de verdade possível.

Voltando à questão das ações policiais no Rio de Janeiro, não seria correto de minha parte assegurar que as polícias deixaram de cumprir, ou de tentar cumprir seus papéis, ao longo desses últimos anos de crescimento abrupto da criminalidade. Todavia, ouso dizer que até fevereiro de 2007 suas ações carregavam a timidez dos inseguros, dos curvados pelas incertezas em si e de seus objetos, posto que já nem mesmo o status de segurança requerido para a homeostase social, com respaldo da ordem jurídica constitucional, era-lhes suficiente para encorajamento, frente ao ruidoso conjunto de antagonismos ideológicos que se lhes opunha para o mero exercício de seus misteres. E aí reside a mais importante questão: aceitar o desafio de romper com estrutura lógica imposta pela intelligentsia pós-moderna, que por anos manipulou a opinião e o juízo de pessoas, receosas de parecerem estúpidas ou politicamente incorretas, muito particularmente aquelas com responsabilidades na promoção da ordem e no desenvolvimento. Anos a fio, uma espécie de mantra ideológico apresentado por simulacro de ciência, foi repetido como estratégia de persuasão e, idéias pouco consistentes, mas sedutoras, estiveram no topo das considerações sobre segurança pública, como, por exemplo, uma espécie de princípio sociológico de considerar todo e qualquer comportamento coletivo com unidade psíquica, principalmente os particulares a certas comunidades, como expressão cultural a ser entendida. Encontramos aqui e acolá, não raro, até, esse olhar relativista sobre as facções criminosas: “são entes culturais”, já se disse.

Avançar sobre tais concepções tão propiciadoras de auto-ilusão, essa maneira de conformar e justificar comportamentos ilegais, ilegítimos e até irracionais, não tem sido fácil. Isso quando o radicalismo ideológico de últimas conseqüências, do tipo que mantém acesa a chama ilusória de se realizar uma revolução promovedora de justiça social com uso das armas abundantes no tráfico, não aparece de prontidão, fabricando “vítimas civis” entre os engajados em confrontos, para desqualificação do legal; um pouquinho de atenção aos discursos de algumas organizações não governamentais, e lá encontraremos tais disposições, não colocadas francamente, é claro, mas maquiadas em suas verdadeiras intenções, alardeando contumaz, intencional e proposital violações de direitos humanos pelas forças do Estado. É recorrente encontrar nos seus discursos a inversão da lógica do crime, posto que fazem dos violadores das regras e das leis, as vítimas, ao impor, às desigualdades sociais, a força motriz dos seus desígnios criminosos.

Aceitamos o desafio em 2007, tempos difíceis de trabalho e lutas, e não convém que nos aconselhemos com receios para o que vem pela frente. A decisão é por enfrentar o lumpesinato odioso do narcotráfico armado, que já de muito fincou suas garras afiadas no tecido social fragilizado, inflamado e dolorido das favelas.

É hora de se restabelecer que há diferença, sim, em bem e mal, lucidez e loucura, amor e ódio, perversão e equilíbrio.

É hora de, num esforço conjunto da União, Estado e Municípios, avançarmos, mesmo mantendo as diferenças políticas pautadas em ideários e ideologias, cedendo, todavia, em prol da verdade.

A verdade existe.

Ela é.

Força e honra!

Paz e bem!

Um bom 2008!

sábado, 8 de dezembro de 2007

Sucesso do "Incursionando no Inferno - A Verdade da Tropa"

Prezados leitores do blog.


O texto abaixo não trata de Segurança Pública. É, na verdade, um artigo sobre negócios na bolsa de valores, extraído do endereço: http://www.cosmo.com.br/economia/integra.asp?id=213934

Me permiti colocá-lo aqui em razão das boas informações sobre a aceitação do meu livro: Incursionando no Inferno - A verdade da Tropa, sucesso de vendas pela Editora Ciência Moderna (25.000 exemplares vendidos), como se vê.

Então, com a devida citação da fonte, aproveito para manifestar meus agradecimentos à minha Editora por sua crença na obra, desde os primeiros momentos, e aos leitores que me prestigiam.

Um abraço a todos



Editoras aproveitam o boom da Bolsa

Vilma Gasques

(02/12/2007)O número de pessoas físicas operando a bolsa de valores está em franco progresso no País. Cerca de 130 mil novos investidores ingressaram neste mercado durante este ano. São esses marinheiros de primeira viagem que motivam editoras a lançar títulos voltados ao tema.

São inúmeros os livros lançados no mercado editorial do País sobre o tema nos últimos meses. Só a Campus-Elsevier Editora tem entre 20 e 25 sobre bolsa de valores, com títulos como Desmistificando a Bolsa de Valores, de Marcelo Smarrito, e A Bolsa Para Mulheres, de Sandra Blanco, que apontam o caminho para ganhos expressivos a longo prazo. “Quem investiu R$ 5 mil em ações do Índice Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) em 1994 e aplicou mais R$ 500,00 por mês neste período, tem agora perto de R$ 5 milhões. Ou seja, economizar e aplicar em ações faz toda a diferença”, ensina Marcelo Smarrito.

Falar em investimentos, a princípio, não parece um assunto tão agradável, principalmente para as mulheres. Mas elas já estão lá, afirma Sandra Blanco. “A mulher costuma analisar mais, faz pesquisas e investe apenas quando tem certeza. É pé no chão”, adianta a autora do livro voltado para o público feminino, onde conta a experiência de um clube de investidores formado por mulheres no Rio de Janeiro.

Segundo a gerente editorial dos segmentos de Profissional-Negócios e Educação & Referência da Editora Campus-Elsevier, Caroline Rothmuller, as pessoas estão percebendo que o dinheiro pode ser multiplicado de várias formas, sem correr tantos riscos quanto se acredita. Por isso, o mercado editorial está tão aquecido com esses novos títulos sobre o assunto. “Não é apenas uma questão de ‘como fazer para’. Os livros são direcionados para esclarecer de forma simples dúvidas que antes só poderiam ser entendidas por quem dominava o economês. Uma grande parte da população está abrindo os olhos para essas novas opções de investimentos”, analisa, explicando que a tendência é de ter um crescimento maior ainda neste mercado editorial, já que o próprio mercado está propício para investimentos, gerando interesse em diferente faixas etárias e econômicas. Ela diz que as obras com temas voltados para o mercado de ações duplicaram neste ano em relação ao ano passado. “A média de tiragem dos livros desse segmento é de 5 mil exemplares por título.

Caroline diz ainda que todo tipo de leitor tem o perfil para esses livros, uma vez que todo brasileiro está sentindo a necessidade de gerenciar melhor seu dinheiro, ter garantia de uma independência financeira ou que não podem contar apenas com o salário da aposentadoria para manter o padrão de vida.

Os livros da Campus-Elvisier abordam temas para iniciantes e também para quem já tem experiência. Os da série ExpoMoney, por exemplo, custam em média R$ 39,90.

O gerente Comercial da Editora Ciência Moderna, George Meireles, o resultado dessa explosão editorial só confirma o interesse dos novos investidores na bolsa de valores, tanto via internet, como pela via tradicional, feita por meio de bancos e corretoras. “Lançamos quatro livros recentemente sobre bolsa de valores e todos são sucesso. Hoje, são os livros mais vendidos da editora. Só perde para o Incursionando no Inferno, a Verdade da Tropa (destaque meu), que também traz histórias sobre o Bope (Batalhão de Operações Especiais)”, revela.

De acordo com Meireles, enquanto o livro sobre o Bope está com 25 mil exemplares vendidos, o Home Broker, Aprenda a Investir em Ações, por exemplo, está com 20 mil exemplares vendidos. “O perfil de quem compra o livro é do pequeno investidor, pessoas com renda acima de R$ 15 mil mensais, que era aplicador de fundos de ações e títulos de renda fixa, mas que estão migrando, buscando opções e selecionando a própria carteira de ações.”

O presidente do Grupo Tecmedd, da qual a Editora Novo Conceito faz parte, Fernando Baracchini, também decidiu investir na publicação de livros sobre o tema e lançou a 5ª edição do livro Bem-Vindo à Bolsa de Valores, de Marcelo Piazza. “O assunto está em evidência. O livro já é um bestseller.”

sábado, 3 de novembro de 2007

Sobre Laudos e Lutas

Os jornais dessa última sexta-feira, dia dois de novembro de 2007, divulgaram um relatório emitido pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos com parecer de três peritos contratados pelo governo federal, que concluíram haver, pelo menos nos laudos das vítimas José da Silva Farias Júnior e Emerson Goulart, respectivamente, evidências de morte por execução sumária e arbitrária. Ou seja, dos dezenove narcotraficantes feridos e que resultaram mortos nos combates travados com as forças da lei, em 27 de junho deste ano, no Complexo do Alemão, não obstante o olhar peculiar, marcadamente para encontro de irregularidades e erros nos documentos confeccionados pelos nossos legistas cariocas, os peritos “de confiança” da SNDH, encontraram, somente em dois corpos, sinais que interpretaram como de “execução” dos quadrilheiros.

Recordando os fatos, o mais violento de todos os combates ocorridos nos últimos anos naquele que é dos lugares mais problemáticos para a Segurança Pública do Estado, já que funciona como uma espécie de fortaleza inexpugnável de uma das mais tenebrosas facções da narco-guerrilha do país, envolveu cerca de mil e duzentos agentes da Polícia Militar e da Polícia Civil, além de membros da Força Nacional de Segurança Pública.

A diligência policial, que incluiu um cerco ao grande complexo de favelas com quase duzentos mil moradores, em sua imensa maioria pessoas de bem e trabalhadoras, mas com um lumpesinato bestial formando um pequeno exército de cerca de cem homens com armas de guerra, como: fuzis, metralhadora, pistolas e granadas, durou um dia inteiro, e mobilizou o maior efetivo policial de toda história da cidade, até hoje, em uma única ação.

Mesmo sabedores da absoluta impossibilidade de se enfrentar, com sucesso, a grande massa policial assim empregada com objetivo de dissuasão do enfrentamento e indicador de uso progressivo da força insuperável, os irrefreáveis bandidos-soldados-do-pó, inebriados e incentivados pelas “toneladas” de cocaína que consumiram para perder a lucidez e manter a resistência pelo fogo, preferindo a morte à submissão ao Estado de Direito, não se entregaram, encontrando destino compatível e consoante suas próprias vontades.

É verdade que, infelizmente, as dores e as chagas sociais da população pobre do país têm servido de oportunos vetores para projeção e promoção de atores da cena política, além de outros sicários da ordem e do Estado de Direito, nos modelos adotados no Brasil.

A ordem social, diferentemente da ordem natural, está e estará sujeita, sempre, à vontade e ao entendimento dos homens, por isso mais vulnerável e suscitadora de desejos de mudança que fomentam manifestações populares, às vezes pacíficas e ordeiras, como as ocorridas em passado histórico recente no nosso país, por eleições diretas para presidente, ou, por revoluções sanguinárias e bárbaras, como a revolução bolchevique, de 1917, a qual a Rússia tem buscado esquecer, enquanto realça a necessidade de concórdia e entendimento entre povos e ideologias.

Todavia, ainda que para nós brasileiros, povo de inclinações pacifistas e de índole mediadora, que historicamente tem preferido o diálogo sobre o pólemos armado, sobrepujando o conflito pela concórdia, é bom que nos mantenhamos prudentes como as serpentes, pois o risco de um retrocesso democrático ronda nosso continente, e a sementeira de idéias capazes de levar uma pátria de homens livres a uma ditadura odiosa, que não distingue criminosos e vítimas, não raro tem início na disseminação do descrédito sobre as ações das forças da lei, principalmente quando sangue inocente é derramado no enfrentamento do problema, enlutando Estado e Sociedade Civil, mas transformando-se em chamativa bandeira nas ações e intenções de insensíveis candidatos, num ano pré-eleições.

Compreende-se, finalmente, que os legistas contratados tenham abstraído conclusões errôneas sobre os laudos dos legistas cariocas, afinal, pelo que parece eles nada conhecem do conflito urbano armado estabelecido há vinte anos em nossa cidade e que agora procuramos derribar e pacificar.

Mesmo bem intencionados e movidos pelos mais louváveis desígnios, suas experiências sobre ferimentos de armas de fogo provavelmente estão limitados aos ferimentos encontrados nos compêndios de medicina legal dos livros escritos para quadros regulares de Segurança e Ordem.

Os peritos, sem diminuí-los, não podem compreender o significado de um ferimento produzido por projetis de fuzis simplesmente porque não sabem o que é isso! Não podem, pois, aferir, o que não conhecem!
Não se trata de leviandade, mas de desconhecimento. Eles não sabem que os combates acontecem de forma marcadamente militar, ora com atiradores se digladiando há mais de trezentos metros, e ora com os canos dos fuzis se encontrando nos becos das favelas, num combate quase corpo-a-corpo, ou, à baioneta.

Não vamos desanimar.

Sabemos que a luta é renhida e que os percalços são muitos, mas é a esperança em dias melhores que tem nos movido.

É a esperança num futuro melhor para os filhos desta terra, que tem nos impulsionado, policiais do Rio de Janeiro e de todo país que integram a Força Nacional, ao risco de cada serviço, ao perigo de cada missão.

Somos uma nação de bravos!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

1988: O Ano Que Não Acabou


Há pelo menos quinze anos, um sem número de Organizações Não Governamentais e outras instituições com poder de mídia e capacidade de influência sobre a opinião pública, têm contribuído para uma espécie de “afasia” nos nossos governantes, receosos das perdas políticas que pode trazer-lhes um enfrentamento direto da narcoguerrilha nas favelas cariocas.

Quando, em 1988, Robson da Silva, Cassiano Barboza da Silva e Ednaldo de Souza, respectivamente, “Buzunga, Cassiano e Naldo", bandidos da Rocinha, acordaram sobre a liderança e divisão de poderes nos seus negócios ilícitos, para evitar uma guerra interna que os enfraqueceria e, sob foco da mídia, Cassiano, o mentor intelectual do grupo, assegurou que começaria uma “revolução social” ali, vozes de apoio não lhes faltaram, inclusive no meio político, quando importante chefe de poder executivo declarou que aquele era “um processo de guerra civil informal entre os marginalizados e a sociedade formal, em cuja raiz estava a injustiça social”.

Dezenove anos foram se passando e, ao longo de todo esse tempo, acossadas pelo fantasma do desgaste político as autoridades preferiram o “absenteísmo”, a procrastinação, o olvido aos sinais do caos. Com receio de um arranhão no verniz que cobria suas intenções eleitoreiras, alguns governantes optaram por simular tratar do problema, adotando estratégias antagônicas, até, mas nunca efetivas ou capazes de restaurar a autoridade do Estado no seu território gradativamente tomado pelas hordas criminosas e insanas.

Também há dezenove anos, o Dr Carlos Maurício Martins Rodrigues, presidente da OAB-RJ, estupefato ante a audácia dos bandidos acima citados que desafiavam a ordem constitucional, declarou: “Sinto-me em pânico vendo isso acontecer. Os poderes públicos têm culpa e responsabilidade pelo que está acontecendo, e, se continuarem omissos, a tendência é a situação se agravar”. Dr Maurício enxergava o futuro com clareza, enquanto o atual presidente da OAB, Dr Wadih Damous não consegue ver os fatos ocorrendo à sua frente.

Aliás, sobre o insigne presidente da Ordem, se não há dúvidas de que lhe cabe, sim, considerações públicas sobre tudo que se lhe pareça violação de direitos ou injustiça, cometidos por qualquer pessoa física, jurídica e principalmente pelo Estado, talvez lhe fosse mais pertinente que não o fizesse com tamanha fúria contra quem têm feito esforço de sangue para não permitir que o crime tome conta da cidade. O risco, e ele agora sabe bem, de assumir posições paroxísticas, é ser contradito pela inexorabilidade dos fatos, realidade absoluta que desconcerta o discurso apaixonado.

“Não dá para fazer seminário com traficantes"!

O tráfico de drogas, como se apresenta no Rio de Janeiro, é a criminalidade na sua possibilidade mais abjeta, mais desumana, mais insensata e mais insana. Para as hordas da narcotraficância, nenhum valor humano tem supremacia sobre seu comprazimento no mal; sobre o gozo de seus instintos mais primitivos, promotores da dor do outro; dor física e dor moral.

Dia-a-dia, esvazia-se a tese anárquica da predestinação ao crime no desfavorecido social.
Não é verdade que a pobreza gera o criminoso.
Nem é verdade que a opulência, a abastança, promove o homem de bem.
Mas é hora de não se aconselhar com receios e ousar a paz para nosso Estado, mesmo que se tenha que enfrentar o próprio destino.
O tempo das relações promíscuas com o crime acabou.

sábado, 20 de outubro de 2007

Nós, os "Caveiras"

O sociólogo Luiz Eduardo Soares e o cineasta José Padilha selaram importante parceria, há poucos dias. Autores respectivamente de Elite da Tropa e Tropa de Elite – livro e filme -, eles formam a mais recente dupla de sucesso nacional na onda de suas criações, as quais, segundo disseram a um jornal paulista, em artigo recente, “nasceram e cresceram como obras distintas e autônomas”, mas com similitudes de essência que culminaram por propiciar-lhes identidade.

Num texto dirigido a segmentos sociais pertencentes aos níveis de ápice, as camadas de estratificação onde se acomodam intelectuais e eruditos, Luiz Eduardo e Padilha fazem crer que se anelaram numa empreitada pedagógica com a mídia, por recurso globo-facilitador, para lançar luz sobre algumas questões fundamentais à visualização da “barbárie em nome da civilização”, que imputam ao Batalhão de Operações Especiais da PM carioca, mas que parece não ter ficado muito claro, a considerar pela reação do público, e agora julgam conveniente esclarecer, a fim de não haver dúvidas sobre as intenções pretendidas na ficção e abstrações que um materializou em livro e o outro na sétima arte.

O que parece complicado é muito simples: as obras têm um condimento identitário, o horror, e nossos próceres culturais procuraram reunir forças para exibir suas imprecações aos comportamentos desviantes da razoabilidade imprescindível à natureza humana, consideração que prefeririam até relativizar, mas que por ora julgam previdente não refutar, em defesa dos direitos humanos contra violações e aviltamentos promovidos pelo BOPE, como garantem acontecer de forma contumaz, genérica e institucional. Daí as lições de moral no populacho que se deleita na paródia “metalingüística”, presente em suas criações, e que, por não decifrá-la, supõe-nos condescendentes com a vingança, pelas mãos do BOPE, contra o inferno produzido pelo exército das drogas, que há anos lhe tira a paz e mina-lhe as esperanças.

Os autores talvez tivessem até crido que isso não seria preciso, afinal tudo ia bem; o filme já é um sucesso estrondoso e o livro vende muito. O que fez com que as renomadas personalidades se adiantassem em explicar essa incursão pela arte mórbida, posando ora de Francis Bacon, e ora de Gilles Deleuze, foi justamente a necessidade de não se permitir acusações de imprevidência ideológica. Aos poucos, vozes aliadas nas cores das idéias que professam e que podemos enxergar no curso de suas produções tornadas públicas, emitem opiniões de dissonância sobre o conceito de suas criações; foi assim com o escritor peruano Daniel Alarcón e com o jornalista Arnaldo Bloch.

É disso que precisam se precaver; faturar com a fantasia do horror sim, mas com o cuidado de não parecerem burgueses insensíveis, anestesiados pelo lucro, cuidando, com as explicações em parceria, de livrarem-se de qualquer desconfiança que lhes recaia. É por isso que confundem ficção com fatos: o objetivo é atirar na cara dos Soldados do BOPE, e da população que aplaude o “sapeca iá iá” no lumpesinato bestial, a pecha de bárbaros, incivilizados, condescendentes e assassinos.

Nossos intimoratos norteadores de conduta moral, espécies de “grilos falantes” acima de qualquer suspeita, estão sendo vistos com desconfiança, e já sofrem acusações que variam de “reacionarismo à farsa”. Eles precisam imediatamente desenterrar e destruir qualquer semente de suspeita sobre suas intenções mais secretas e inconfessáveis; essas que não se apresentam no “dito”, mas que são captadas por experimentados estudiosos do psiquismo e criminologistas, mesmo quando dissimuladas (ou simuladas) por falsificações quase perfeitas daquilo que “não é”. Numa tese psicanalítica: “o que declaro não querer é justamente a minha intenção”.

Luis Eduardo e Padilha gostam de sangue, tortura e horror, mas como manifestação de entretenimento e cultura, a exemplo de Bacon e Deleuze, mas precisam, antes, imputá-las como fato a outrem, para não parecerem despretensiosos metafísicos da dor social. Nós, Caveiras do BOPE, gostamos de combater o mal que a pós-modernidade insiste não existir.

O José e o Luis não conhecem os fuzis. Não conhecem a guerra urbana real na qual vivemos e que mimetizam sob aplausos. Eles exibem o que refutam, em nome do belo. Eles expressam o que repudiam, em nome da arte.

Mário Sérgio de Brito Duarte é ex-Comandante do BOPE e Filósofo.

Publicado no jornal O Globo em 12 de outubro de 2007
Caderno Opinião - página 7



quinta-feira, 11 de outubro de 2007

REFLEXÕES SOBRE MILÍCIAS LOCAIS - CONTINUAÇÃO

A existência das milícias no Rio de Janeiro tem sua semente na inoperância desenvolvida pelo Estado, nos últimos vinte anos, em oferecer proteção aos policiais; seja no exercício da profissão ou nos atos comuns de suas vidas, como simplesmente transitar, residir ou se socializar.

A carreira policial se tornou de tal ordem perigosa para os agentes públicos, que o risco para si e para sua família deixou de ser uma ilação comum aos profissionais de polícia, mas uma realidade transmutada em fatos, desde que passaram a ser caçados e mortos nas vias, nos espaços de socialização e às vezes em suas casas.

O embrião das milícias se formou, pois, numa tentativa de autoproteção, quando policiais organizaram uma comunidade no bairro de Jacarepaguá, e na qual passaram fazer valer leis locais. O tráfico de drogas, principal atividade “inimiga”, já que são os narcotraficantes aqueles criminosos que mais atentam contra os policiais, foi exposto como antagonista principal, contra a qual a bandeira da organização social policial (que teria por conseqüência as milícias) deveria estar sempre desfraldada.

Logo, a organização ganharia adeptos em outras áreas, em outras comunidades, onde já residiam policiais, os quais organizariam grupos de autodefesas que, a fim de captar recursos para o pagamento dos “serviços” que ampliavam e tornavam mais complexos, passaram a estabelecer tributos cobrados da população; não exatamente em forma de “impostos e taxas periódicas”, como mensalidades, mas por meio de ágio (forma de sobretaxa) para comercialização de serviços, como distribuição de gás, participação na transação de imóveis e distribuição de sinais de tv a cabo, furtado, certamente.

Por ter uma bandeira anti-tráfico, as milícias foram conquistando terreno junto à população e um sem-número de pequenas comunidades passaram preferir-lhes à dominação do narco-negócio e, ante a hipótese de ter o traficante armado, drogado, violento, na sua porta, seduzido-lhes os filhos para seus exércitos, abriram as portas para sua presença e seus serviços irregulares de “segurança privada”, aumentando-lhes o poder e dando-lhes a visibilidade que já atravessa as fronteiras do país.

As milícias são organismos ilegais e ilegítimos, posto que cometem crimes como os apresentados, mas têm sido preferíveis ao tráfico mesmo pelos moradores das populações pobres, onde se instalaram e, principalmente, pelos policiais, já que nas áreas onde se estabelecem não ocorrem ataques, emboscadas, atentados ou qualquer tipo de ação intencional e premeditada contra suas vidas. A população, a seu turno, sente-se mais segura e livre das “balas perdidas”, que tanta vida inocente tem ceifado, além, com certeza, de beneficiar-se dos serviços ilegais, como a recepção dos sinais de televisão-a-cabo furtados, que lhes são vendidos a preços módicos.

As milícias não podem ser entendidas como um serviço complementar aos serviços da polícia, pois são ilegais e cometedoras de delitos. Onde as Polícias não mantém controle e ordem social, ou as comunidades estão sob forte influência de uma, ou de outra dessas forças ilegais, mas as milícias são o fenômeno em expansão e o tráfico em entropia.

O assunto “milícias” abarca outras questões, e uma delas é, seguramente, a ideológica. Explico: as milícias têm nos grupos de inspiração marxista, leninista, maoísta etc, empedernidos adversários; isso porque entendem-nas como “originárias da ordem”, oriundas, em grande parte, delas. Os milicianos são, ou foram, agentes públicos, quer sejam policiais, bombeiros, militares de qualquer Força, agentes penitenciários, guardas municipais, etc. Para esses grupos que entendem o processo revolucionário como instrumento legítimo de justiça social, o fortalecimento das milícias é um entrave aos seus planos, na medida que enfraquecem os braços do narcotráfico com os quais almejam contar numa eventual deflagração do conflito interno, como o protagonizado pela narco-guerrilheira das FARCS. Embora o modelo de aproveitamento do lúmpem não seja uma estratégia marxista, mas anarquista, em razão da falta de opções e incapacidade de angariar quadros para a almejada revolução – hoje mais fortemente acalentada em razão da esquerdização da América do Sul – os grupos de ideologia revolucionária não descartam seu uso como “companheiros de viagem”. Por isso, a existência do narcotráfico armado é fundamental para os quadros revolucionários, cada dia menos preocupados em camuflar suas intenções.

Em resumo, as milícias são estruturas de poder ilegal. Impõem-se pela força e haurem recursos financeiros a partir de expedientes ilegais, como ágios, sobretaxas, exploração e venda de serviços não autorizados. Elegem por inimigo o lúmpem; primeiramente o narcotráfico e, em seguida, os praticantes de roubo e furto, que atuam contra a população. Não entram em confronto com forças policiais, mas só agirão assim enquanto não romperem o limite máximo de suas violações, que é a narcotraficância ultra-rentável. Geralmente controlam as realizações sociais das suas áreas ou, no mínimo, interferem nelas, impedindo a realização de expressões culturais que julgam anti-sociais e de exaltação do poder adversário, como bailes funk e seus “proibidões”. Contam com a simpatia de considerável parte da população, não têm formação ideológica, são partidárias de políticas fisiológicas, populistas, e são consideradas inimigos formais e obstáculos cruciais ante uma estratégia que contemple a mobilização das armas do lumpesinato, para uma revolução.

Concluindo: Nenhuma dessas forças é legítima e, sem cegueiras e sem manipulações ideológicas, o Brasil precisa enfrentar e derribar as expressões da antidemocracia.
O Estado pode e a Nação merece.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Sarkozy, Relativismo e Ordem Pública

O texto abaixo é parte de um discurso do atual presidente da França Nicolas SarKozy. Foi proferido em Paris, no estádio de Bercy, lotado com 35 mil pessoas.

Embora não seja o seu discurso de posse, como pensam alguns, feito num tom mais ameno e de concórdia, permite a compreensão do que anseia o povo francês, após mais de três dezenas de anos de hegemonia do relativismo epistêmico que dominou a França pós-guerra.

O motivo de publicar excertos de sua fala, é abrir o leque das considerações no campo da Segurança Pública, a partir de uma reflexão de aspectos ideológicos que permeiam-na, e, que, no Brasil, não fugindo à regra de seguir os países considerados de primeiro mundo, empurrou os executores das políticas de segurança para um labirinto de postulados relativistas extremos, acuando a opinião divergente e intimidando o pensamento não-acadêmico, exclusivista.






Vou reabilitar o trabalho !


Derrotamos a frivolidade e a hipocrisia dos intelectuais progressistas; o pensamento único, daquele que "sabe tudo" e que condena a política enquanto a mesma é praticada. Desde 1968 não se podia falar da moral. Haviam-nos imposto o relativismo.

A idéia de que tudo é igual, o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, que o aluno vale tanto quanto o mestre, que não se pode dar notas para não traumatizar o mau estudante.

Fizeram-nos crer que a vítima conta menos que o delinqüente. Que a autoridade estava morta, que as boas maneiras haviam terminado. Que não havia nada sagrado, nada admirável.

Era o slogan de maio de 68 nas paredes de Sorbone: 'Viver sem obrigações e gozar sem trabalhar'. Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética.
Uma esquerda hipócrita que permitia indenizações milionárias aos grandes executivos e o triunfo do predador sobre o empreendedor; que está na política, nos meios de comunicação, na economia.

Ela tomou o gosto do poder. A crise da cultura do trabalho é uma crise moral. Vou reabilitar o trabalho.

Deixaram sem poder as forças da ordem e criaram uma farsa: 'abriu-se uma fossa entre a polícia e a juventude'. Os vândalos são bons e a polícia é
má. Como se a sociedade fosse sempre culpada e o delinqüente, inocente.

Defendem os serviços públicos, mas jamais usam o transporte coletivo. Amam tanto a escola pública, e seus filhos estudam em colégios privados. Dizem adorar a periferia e jamais vivem nela.

Assinam petições quando se expulsa um invasor de moradia, mas não aceitam que o mesmo
Se instale em sua casa. Essa esquerda que desde maio de 1968 renunciou o mérito e o esforço, que atiça o ódio contra a família, contra a sociedade e contra a República.

Isto não pode ser perpetuado num país como a França e por isso estou aqui. Não podemos inventar impostos para estimular aquele que cobra do Estado sem trabalhar. Quero criar uma cidadania de deveres.
SarKozy
Leiam, meditem, comentem.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A minha inesquecível promoção a Sargento




12/08: A minha inesquecível promoção a sargento
Categoria: General
Postado por: gustavoalmeida
Fui promovido a sargento. Sério. Por um dos comentaristas deste blog. Que usa, aliás, de bom humor na promoção, não me ofende (não sei se queria me ofender ou não, mas não ofendeu), e faz uma crítica até certo ponto construtiva, dizendo que estou defendendo demais a farda azul aqui neste blog. Concordo que às vezes passo do ponto – que o diga o tenente-coronel Mário Sérgio Duarte, a quem elogio muito por aqui, e outros tantos azuis como o coronel Ronaldo Menezes, o major Wanderby e outros tantos que se for citar, acaba até o espaço virtual. Curioso que, coincidentemente, citei três profissionais extremamente honestos, acima de qualquer suspeita. Bom, mas para explicar melhor algo que realmente acho que deve ser explicado – e neste ponto o comentarista do blog me abriu os olhos positivamente – vale uma pequena explicação. Talvez fique grande, mas, enfim, é pequena porque é um tanto irrelevante, é apenas um jornalista se explicando.O processo de degradação econômica do Rio de Janeiro teve como primeira grande conseqüência um caos social, uma desordem urbana em diversas instância, tal que a cidade há anos vive sob febres de violência. Entram governos, saem governos, a violência recrudesce, a guerra do tráfico faz mais vítimas, e além dos mortos e feridos, surgem vítimas silenciosas – recente pesquisa do Núcleo de Pesquisas da Violência (Nupevi), da Uerj, mostrou que são raros os cariocas que nunca ouviram um tiro e são muitos os cariocas que já foram assaltados ou no mínimo tiveram um parente ou amigo assaltado.Hoje, por mais que as autoridades municipais e estaduais tentem “elevar o astral” do Rio com Pan-Americano, com shows de artistas longevos, enfim, megaeventos de toda ordem, sabemos que esta é uma cidade doente. O crime, de recurso de sobrevivência, passou a ideologia. A exclusão sócio-econômica fez a primeira parte: empurrou pessoas para a sobrevivência pelo crime. Muitas esquerdas, no entanto, defendem o tráfico como “redenção dos pobres”, o que é um engano. Na verdade, é escravidão dos pobres. Mas tergiverso, voltemos ao assunto principal. Depois da primeira parte, quando o crime é sobrevivência, vem a segunda, que é o crime como cultura.Não há organizações criminosas que mereçam o título de “organizações” no Rio de Janeiro. Ora, que há um Amigos dos Amigos, sim, há, que há um Comando Vermelho, do mesmo jeito é inegável. Mas tivessem estas quadrilhas fundamentadas mais em ideologia do que em práxis um mínimo de organização e já teriam virado uma só joint-venture, uma vez que é mais lucrativo partilhar os dividendos do que contar os mortos. CV e ADA não guerreariam se fossem organizados. Analisariam investimentos, retornos, aplicações, faturamentos de pontos, reposição de armamentos, enfim, teriam uma logística tal que tomariam o Rio de Janeiro e nós, civis, em breve teríamos de nos comunicar dizendo expressões como “É nóis” ou “Já é”.As quadrilhas, portanto, ganharam "torcedores". Um jovem que more no morro onde tem ADA passa a ser um “torcedor” do ADA. Certa vez, eu passava de bicicleta pelo Túnel Novo, em Copacabana, quando vi um rapaz largar as duas mãos do guidão só para sinalizar o C e o V com os dedos para um ônibus lotado de “compatriotas”.Resumindo: a desordem urbana, já bem representada pelos camelôs (fruto de anos de desemprego e demagogia eleitoral) virou um ser tangível. Para que estudar, trabalhar, produzir, compor, salvar vidas, participar de uma vida em sociedade, se o sujeito pode apenas empunhar armas, fazer sinais de identificação com uma quadrilha e vender cocaína? Para que ter uma vida normal se nesta você é sozinho e na outra, ao lado dos “irmãos” de fuzis, você tem amigos dos amigos por toda a cidade?Passemos agora aos azuis, que eu “vivo defendendo”. A desordem urbana faz mal. Não sou partidário do "tudo certinho" - dentro de casa, o sujeito pode deixar de lavar louças, viver de cueca no sofá, beber o dia inteiro, o que quiser. Mas na área comum do prédio, é outra coisa. E nossa "área comum" está no CTI.No momento, no Rio de Janeiro, vejo a Polícia Militar como a primeira força de trabalho a participar da reconstrução da cidade. Vejam bem, me refiro ao policial de rua, e no momento em que ele não esteja tirando dinheiro da van ou do taxista, ou inventando infração para extorquir R$ 10 de motorista. Primeira providência é colocar a corregedoria para trabalhar e punir isso. Segunda providência? Aumentar seus salários a um nível decente para que a extorsão não seja mais tão sedutora. Mais sedutor, com certeza, poder olhar para os filhos bem-alimentados e dizer que trabalha honestamente porque ganha o que merece. Não dá para o sujeito ficar tirando R$ 10 de quem quer que seja na rua. Se for para fazer isso, vai assaltar de uma vez. É mais ousado e menos humilhante.Bom, mas, enfim, este policial de rua, bem-pago, bem-treinado e bem-equipado, no espaço urbano, passa a interagir com os moradores de um modo, bom, digamos, tem uma....palavrinha! para isso: comunitário. Em torno destes policiais se cria um círculo de confiança. É o Estado presente, armado, que possibilita, por sua vez, a circulação diurna e noturna, de forma ordenada. Há uma farda, há ostensividade. Com este policial e os restantes – me refiro ao modelo utópico, bem-pago, etc – passa a aparecer a oportunidade. O mercadinho da rua, a lanchonete, o barzinho da noite, tudo passa a receber mais gente. Abre-se mais negócios. Exemplo? O Maracanã. Coloca a Força Nacional, a PM, a PCERJ e a PF, pronto, reaparecem crianças, mulheres, famílias. É uma equação simples.Do mesmo modo é a outra: sem o controle do Estado e com a sedução do crime e da chamada vagabundagem, não há possibilidade de ordem. Há desmando, há descontrole, desaparece o pacto social por essência, entra em cena uma degradação que não beneficia nem mesmo aqueles que vivem da venda de cocaína. Que me perdoem, mas é uma vida de merda. Viver com milhares de paranóias para ter carros do ano e colares caros, existencialmente falando, é tão vazio quanto passar a vida como reserva do Ipatinga. E olha que, como rubro-negro, sei bem o horror que é o Ipatinga.Podemos, sim, reverter a situação do Rio de Janeiro. Mas a minha atual crença é de que isso não será possível sem o fortalecimento de sua Polícia Militar. Fortalecimento moral, financeiro, logístico, operacional. Junto com isso, há outras etapas e frentes de trabalho (diminuição de carga tributária, investimento em infra-estrutura, apoio a micro, pequena e média empresa, investimento em educação, saúde e transporte), mas, no momento, por absoluta falta de competência de governos sucessivos, estamos em um ponto no qual o fortalecimento da PMERJ é o item mais essencial. Só sobreviveremos com o gloriarolandismo, ou seja, tal e qual a Glória Roland, incentivarmos todos os moradores a cuidarem do pedacinho mais perto de suas casas. Em certos pedaços, os moradores precisam dos azuis por perto. Eu diria, em muitos pedaços. Por tudo isto, quero que a Polícia Militar do Rio de Janeiro fique forte para a missão dura que tem pela frente. Que cada um deles seja honesto como um Wanderby, bravo como um Príncipe, inteligente como um Mário Sérgio, líder como um Millan e cordial como um Menezes. A cultura do crime, de conquistar pela força, matar quem tem e quem não tem, assaltar, viver em gangues, tem de ser substituída pela cultura dos azuis, de tradição familiar, de raízes e perseverança.O sargento De Almeida terminou sua longa e entediante exposição e pede permissão para se retirar. Um bom fim de semana.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Um desafio chamado BEP

Os desafios enfrentados por nossa quase bicentenária PMERJ nesses dias de retomada e resgate, serão os marcos sinalizadores da coragem de nossos líderes, na sua determinação em modificar o anacrônico quadro de injustiças e desatenções de origem cultural, entranhadas na nossa instituição, não obstante o aprimoramento da base legal do país proporcionada pela Constituição de 1988.

Se é fato que há grande número de policiais militares com conduta desviante, que se materializam nos “achaques”, “acertos”, no recebimento passivo e na exigência abjeta de propinas, e por isso merecem o látego da lei, por outro lado é evidente que a simples proliferação da correição muito pouco ajudou para a reversão de tal quadro.

É óbvio que não advogo pela inexistência de correição. Aliás, ela é rigorosamente necessária. Todo sistema funcional hierárquico deve possuir sistemas de controle disciplinares. O que quero dizer, realmente, é que estancamos em nossa capacidade de produzir prevenções, inclusive nos desvios dos nossos homens. Paramos no tempo por pura preguiça física e mental, ou, talvez, por idiossincrasias e receios de enfraquecimento no poder; daí termos transformado fatos também de ordem social em questões meramente individuais ou jurídicas.

Seja como for, os dias são outros e são céleres. É claro, o tempo, fisicamente falando, é cronometrado como sempre o foi. Todavia, no mundo globalizado, de informações on line, devemos reconhecer que o cronos se nos parece acelerado. Daí, quem não quiser perder o barco da história deve adiantar-se ao apito sinalizador de sua partida.

Faço essas considerações para abordar a questão do Batalhão Especial Prisional, o BEP/PMERJ. Como é sabido, por força de lei (sem enfocar exatamente conceitos jurídicos) o local onde o militar deve permanecer preso, nos casos de cometimento de crime, e antes de sua exclusão da Corporação, é o quartel. Não estou declarando que tal deva ser a sua Unidade de Origem, ou seja, o lugar onde está ou estava classificado, ou servia, como queiramos, mas um dos quartéis de sua Força, consoante a orientação da instituição. Durante muitos anos a PMERJ adotou um duplo sistema: alguns presos permaneciam na própria Unidade, quando aquelas possuíam instalações compatíveis e suficientes e, outros, permaneciam encarcerados no Batalhão de Polícia de Choque, por outros motivos que relatá-los seria por demais extenso, já que muitos e variados motivos o determinavam.

Ocorre que o número de policiais militares presos, aguardando decisão judicial e disciplinar sobre suas permanências na instituição, cresceu assustadoramente, fazendo com que o Batalhão de Choque perdesse sua principal característica e se transformasse numa grande Unidade Carcerária, acarretando sérios prejuízos para a sua atividade fim.

E então a PMERJ promoveu o que acreditava ser uma solução. No fim do ano de 2004, de um dia para outro, sem qualquer preparação e cuidados, transferiu todos os policiais militares presos judicialmente para um prédio do bairro de Benfica, onde até dias atrás funcionava um “centro de custódia de presos comuns”, e que fora palco de uma das mais bárbaras rebeliões da história carcerárias do país, quando facções diferentes digladiaram-se, e mataram-se, transformando o local num rio de sangue e cabeças decapitadas.

Atirados naquele local, naquelas condições desumanas não aceitas sequer por bandidos das odiosas facções, os PMs, entre eles muitos que logo seriam postos em liberdade e reintegrados aos serviços normais da Corporação, por comprovadas sua inocências, não suportaram o impacto de serem postos atrás daquelas grades de paredes rabiscadas com as siglas dos bandos.

Tentando respirar a nova situação, ainda nos primeiros momentos de suas chegadas, uma gota d água foi colocada em sua dignidade: Pratos e copos de plástico lhes foram entregues e TODOS tinham a sigla das facções.


O prejuízo da revolta motivada nos policiais militares custodiados, foi solucionado como historicamente se faz na PMERJ: um IPM foi instaurado para se apurar a responsabilidade...dos presos.

Isso foi há quase três anos.

Tínhamos razões suficientes para modificar a situação carcerária no BPChoque e das demais Unidades? Sim, tínhamos. Era crescente, preocupante e exigia solução.

Todavia, mais uma vez optamos pelo desprezo ao homem. E, pior, pelo desprezo à sua família.

Não vou repetir a maioria das coisas que ouvi de uns poucos integrantes da nossa corporação que estavam no local (eu estava lá como comandante do Batalhão da área), mas há algo que jamais esqueci: Quando declarei a minha preocupação com os familiares dos presos, que passariam risco de vida transitando naquela área de favelas dominadas pelo narcotráfico; quando declarei que, muito mais que a dignidade dos presos, violada na forma como tudo se deu, com desprezo à historia ainda recente do horror daquele local, havia uma preocupação com seus filhos, esposas, entes queridos de qualquer filiação, ouvi alguém dizer: eles não pensaram na hora de errar e você agora é que pensa por eles?

O BEP é uma Unidade necessária, mas sua localização requer revisão.

Esta é a constatação de um equívoco do passado, e não o julgamento “do todo” de um Comando, de uma gestão que por certo cometeu acertos e erros.

Estou convicto que encontraremos uma solução. Uma solução desapaixonada, técnica, factível, que revele nossa preocupação com “o maior patrimônio da PMERJ”, e, acrescento, “com sua família”, mesmo quando a sementeira do erro que proporcionaram tenha-lhes inflingido colheita penosa e triste, além de vergonha para a Corporação.

Nosso Comandante Geral, Coronel Ubiratan, tem muitos desafios, entre eles vencer a sedução dos vapores das sombras que insistentemente se apresentam como braço amigo, mas são fontes de água contaminada envenenando o sedento desprevenido. Ele saberá vencê-los, sim, todos, se olvidar o convite ao ódio que a cobiça disfarçada de ideários espalha, e um dia poderá ser reconhecido como o grande modelo a ser seguido e o exemplo a ser imitado.

Pensar no BEP agora é evitar muitos arrependimentos amanhã.
É o futuro se avizinhando mais justo e mais equânime.
Somos uma Corporação de Bravos !